CAPÍTULO 1

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O doutor Otávio Augusto Pontes teve o seu primeiro contato com os cuidados paliativos quando ainda trabalhava como oncologista chefe  no Hospital Alberto Guimarães Nunes.

Naquela época, ele era o melhor médico do hospital, era respeitado e admirado por todos e tinha um futuro brilhante pela frente!

O livro "A morte é um dia que vale a pena viver"*, escrito pela doutora Ana Claudia Quintana Arantes havia  sido entregue ao médico  por um colega que dizia que o livro havia mudado a sua vida pra sempre! Do resumo que o colega fez do livro, o famoso oncologista não escutou uma única palavra e a custo controlou  a irritação por estar ali perdendo tempo.

Vaidoso e arrogante, doutor Otávio teve certeza de que o amigo estava exagerando, pois não acreditava que um livro pudesse lhe impressionar ou causar algum efeito sobre ele, especialmente a ponto de mudar a sua vida. Jogou o livro  dentro de uma gaveta e acreditou que nunca o iria ler!

Naquele tempo, o doutor Otávio Augusto chegou a considerar a possibilidade de que, segundo um colega havia dito,  as pessoas  pudessem  ter sucessivas vidas, reencarnar várias vezes.

_Faz sentido, Otávio!_dissera-lhe o colega com os olhos arregalados como se tivesse descoberto a cura para a Aids._Acredito que  cada encarnação é uma nova oportunidade para as pessoas resgatarem as  suas dívidas de vidas passadas! Se isso for verdade, acredito que não há por que eu  sentir pena de meus pacientes que vivem este calvário até morrerem! Deus é um ser divino e justo, essas pessoas, das quais eu cuido,  estão todas  sofrendo por merecimento! Devem ter feito muita merda nas outras vidas pra agora enfrentarem um câncer agressivo deste jeito! O pior é que quem se ferra sou eu, né?! Já estão me chamando de doutor Morte, porque não tem uma única semana em que não perco um paciente para esta doença dos infernos, Otávio!

Geralmente quando analisava o histórico de  um possível paciente e percebia que esse já estava desenganado e não tinha mais nada a fazer por ele, o doutor Otávio o repassava para os colegas.

Doutor Otávio admitia pra si mesmo que não era insensível ao sofrimento dos outros, sofria sim com os seus pacientes,  mas reconhecia que não poderia se entregar a longos períodos de luto quando tantos outros pacientes, ainda com alguma chance de cura, o esperavam na fila que nunca acabava. Felizmente,  a posição que alcançara lhe dava o direito de selecionar a sua clientela a fim de não se desgastar tanto. No fundo, reconhecia o oncologista, ele não suportava perder ninguém para aquela doença maldita e ficava arrasado sem conseguir trabalhar  durante vários dias quando isso acontecia! 

O médico havia estudado no exterior, era reconhecido como um excelente profissional e se preparava para aceitar o convite de um famoso  hospital classificado como o melhor do país, quando teve uma experiência que iria mudar a sua vida para sempre!

O médico estava entusiasmado com a certeza de ter conquistado aquele novo emprego, sentindo-se realizado na vida, afinal tinha conseguido montar  um currículo que apresentava praticamente cem por cento de cura de seus pacientes! Ao contrário do colega doutor Morte, Otávio era o doutor Vida, citado como um deus capaz de devolver a vida às pessoas a ele confiadas!

O dia em que a vida do famoso médico mudou completamente era uma quinta-feira. Era  noite e Otávio já estava deixando o seu plantão, quando uma enfermeira veio pedir a sua ajuda.

_Doutor Otávio, a dona Zilda Botelho está chamando pelo senhor insistentemente! Ela está muito agitada e parece estar a ponto de passar por uma crise de pânico, se não falar com o senhor!

Dona Zilda Botelho era uma idosa de 87 anos, mãe de um grande amigo e colega de trabalho  de Otávio. A idosa estava se recuperando  de um câncer no seio esquerdo e o colega confessou que só confiaria em Otávio para cuidar da sua amada mãe.

A ÚLTIMA CHANCE-Armando Scoth Lee-Romance Espírita GayOnde histórias criam vida. Descubra agora