25_ Dor.

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A noite chegou e junto com ela nosso primeiro almoço em família de meses com a presença do Paulo. Nós não éramos uma família tradicional que sempre comia na mesa, até porque comer e olhar para Pedro ao mesmo tempo era uma tortura, mas tínhamos noites especiais em que mamãe caprichava no jantar e tínhamos todos que comer na mesa fingindo ser uma família de pessoas civilizadas. 

Naquela noite mamãe havia feito carne assada, que era o prato favorito de Paulo. E ele seu delicioso bolo de prestígio, o meu favorito. O que revela bem que sou a favorita dele. 

Estávamos sentados à mesa esperando o papai que falava ao telefone no jardim de trás da casa. O cheiro estava perfeito e eu estava quase babando louca para devorar aquela comida, mas mamãe fazia questão de esperarmos o pai. 

ㅡ Mãe... ㅡ Resmunguei na mesa pela terceira vez. ㅡ Eu to morrendo de fome. 

ㅡ Calma, Perola, o seu pai já vem. ㅡ Ela voltou a encarar a porta enquanto notávamos que ele caminhava de um lado para o outro com o celular no ouvido e um sorriso no rosto. A conversa dele parecia ótima.

ㅡ Já faz dois dias que ele ta lá fora. ㅡ Resmunguei de novo. 

ㅡ Não faça drama. ㅡ Minha mãe riu e voltou a se ajeitar na mesa. 

ㅡ Com quem ele tanto fala? ㅡ Paulo perguntou parecendo sem paciência. 

ㅡ Com o meu pai. ㅡ Jurema sorriu diretamente para mim. Revirei os olhos.

Depois de mais quinze minutos eu estava quase dormindo sobre a mesa, Paulo encarava o teto, Jurema mexia no celular, Pedro brincava com o garfo e minha mãe parecia extremamente chateada, na verdade, mais que isso. Ela parecia irritada. 

Até que a mesma perdeu a paciência e se levantou. Ela jogou o pequeno guardanapo sobre a mesa, afastou sua cadeira para trás e foi na direção do meu pai. Eu e meu irmão nos entre olhamos já imaginando que a coisa ficaria feia. Minha mãe não era de se irritar, mas quando acontecia... sai de baixo.

Ela caminhou na direção do meu pai e parou na frente dele. Meu pai, que ria alto por causa de alguma coisa que a pessoa do outro lado da linha disse, parou de sorrir quando a viu parada o encarando.

ㅡ O que foi? Eu já estou terminando. ㅡ Ele resmungou como se minha mãe fosse a chata da situação que estava atrapalhando a ligação dele. 

ㅡ A comida já está fria, Carlos, os meninos estão com fome e você mesmo pediu que te esperássemos. Esse telefonema é tão importante assim?? ㅡ Minha mãe o questionou.

ㅡ É claro que é importante! É o meu trabalho. ㅡ Ele afastou o celular do ouvido e o tampou  a tela com sua mão, como se isso fosse impedir a pessoa de ouvir o que eles estavam dizendo. 

ㅡ O seu trabalho pode esperar, hoje é a sua folga. O seu filho está aí para jantar com a gente depois de muitos meses e você está ocupado demais com seu trabalho para ele??

ㅡ O Paulo já é adulto, Verônica. Ele entende bem as minhas questões de trabalho. 

ㅡ Não se trata disso, Carlos. Você sabe o quanto esses jantares em família são importantes para mim e o quanto eu sentia falta de fazer isso com o Paulo. Tenho certeza que o meu cunhado não se importará se você der uma pausa para jantar com a sua família. A não ser que o seu trabalho seja mais importante...

ㅡ No momento é assim. ㅡ As duras palavras de meu pai pareceram perfurar o peito da minha mãe. Tanto eu quanto meus irmãos ficamos surpresos com sua resposta. ㅡ Agora vai lá jantar com eles e me deixa em paz que eu me viro depois. 

Minha mãe o encarou enquanto seu peito subia e descia de uma maneira pesada. 

ㅡ Se vire depois também para dormir no sofá. Na minha cama você não pisa hoje. ㅡ Ela falou de forma que suas palavras doeram muito mais nela do que nele. 

As Regras do Amor Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora