32_ O que viu em mim?

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" Eu amo ela.
eu amo ela.
eu amo ela.
eu amo ela. " 

A voz de Saulo ecoou na minha cabeça como um grito numa caverna. 

Meus pés deram leves passos para trás quando meu coração acelerou e uma sensação completamente estranha me tomou. Minha respiração se desregulou e eu não sabia nem o que pensar direito. Saulo havia dito que me amava... aquilo nunca havia me acontecido.

ㅡ Nossa... ㅡ A voz da garota dentro do quarto me fez voltar a mim. ㅡ Ela é tão importante assim? ㅡ Saulo não respondeu nada, então dei uns passos para frente e olhei pela frecha da porta entre aberta. Saulo estava guardando algo em um dos armários do quarto. Logo a garota, que tinha cabelos cumpridos e lisos loiros com as pontas meio rosadas, se aproximou dele parando em sua frente. ㅡ Qual é, cara? Olha pra mim. ㅡ A mesma tocou seu dedo indicador no queixo de Saulo fazendo com que ele se virasse para ela e a olhasse.

Meu sangue ferveu por um minuto e meu punho abaixado se fechou. Quem ela pensa que é para tocar nele assim??

ㅡ O que você quer? ㅡ Saulo perguntou já parecendo sem paciência.

ㅡ O que eu quero? ㅡ A garota sorriu. ㅡ Acho que você sabe bem. 

ㅡ Mas eu não... ㅡ Ela o interrompeu.

ㅡ Pelo amor de Deus! Eu só quero uns beijos! Qual o problema?? Se você tem namorada o problema é dela por deixar um pedaço de mal caminho como você andar sozinho por aí. ㅡ A garota tentou beijar Saulo, mas o mesmo segurou os punhos dela a impedindo de avançar.

ㅡ Eu não quero. ㅡ Ele respondeu com certa calma. 

ㅡ Como não? ㅡ A garota fez uma careta. Aquilo deveria parecer um absurdo, uma garota dando em cima de um cara supostamente comprometido, mas eu já havia visto coisas assim acontecerem tantas vezes que nem parecia mais algo tão extraordinário. 

ㅡ Amor? ㅡ Chamei por Saulo abrindo totalmente a porta do quarto. Ambos me olharam. A garota com um olhar descontente e Saulo com uma careta assustada. 

ㅡ Perola, eu... ㅡ Ele tentou explicar, mas eu o interrompi.

ㅡ Desculpe a demora, as meninas não me deixaram sair de lá. ㅡ Sorri para ele me aproximando. Parei ao seu lado e segurei em seu braço. ㅡ Te fiz esperar muito? ㅡ Olhei para ele com um sorriso e pisquei. 

ㅡ Na verdade sim. Fiquei com saudades. ㅡ Ele sorriu para mim e eu segurei a gargalhada que quis soltar com a careta que a garota fez.

ㅡ Arg... vou indo. ㅡ Ela revirou os olhos e saiu do quarto. Me virei para Saulo com os braços cruzados e lhe dei um tapa no braço.

ㅡ Ai! Que foi? 

ㅡ A gente nem namora de verdade e você já estava me traindo? ㅡ Forcei um olhar de brava.

ㅡ Desculpa! Eu não fiz nada com a... nem sei qual o nome dela! Ela apareceu aqui do nada e... ㅡ Descruzei os braços e comecei a rir. 

ㅡ To brincando, Saulo. ㅡ Fui na direção da janela e me sentei na cama de frente para ela. Saulo veio perto de mim e gritou pelo pai de Maicão da janela. Ele jogou o dinheiro que havia pego e logo depois se sentou ao meu lado. Um silêncio bem esquisito se formou entre nós dois que apenas encarávamos o céu pela janela sentados na beira da cama. 

ㅡ O quanto você ouviu? ㅡ Ele quebrou o silêncio. 

Olhei para ele que observava a janela sem me olhar. Suspirei.

ㅡ Quase nada. ㅡ Menti.

ㅡ Mentira. ㅡ Olhei pra ele. Saulo me olhou. ㅡ Você mente muito mal.

ㅡ Engraçadinho. ㅡ Empurrei seu ombro de leve. 

ㅡ Você me ouviu dizer que te amo, né? ㅡ Respirei de forma pesada novamente.

ㅡ Eu...

ㅡ Eu não queria que soubesse. ㅡ Ele voltou a olhar para a janela. ㅡ Não agora e nem assim. Não quero que se sinta desconfortável comigo. Eu te amo, mas não vou mudar meu jeito de tratar você. Espero que não mude comigo. 

Observei seu olhar tão carinhoso para comigo e, novamente, me senti única. 

ㅡ Posso... posso perguntar uma coisa?

ㅡ O que quiser. 

ㅡ O que você viu em mim? ㅡ Meu tom era de total confusão. Eu era acostumada a ser rejeitada por caras legais e não... amada. Os caras que saiam comigo eram sempre idiotas e os legais que eu gostava sempre me davam um fora e depois ficavam com a Jurema. Por que agora, de repente, estava sendo diferente? 

ㅡ Bem... ㅡ Saulo sorriu. ㅡ Você quer que eu conte desde o início? ㅡ Assenti. ㅡ Hmmm... há quatro anos atrás eu mudei de escola e fui estudar o ensino médio no Desembargador ( Colégio que Perola estudou sua vida inteira ). Eu sempre fui muito sociável, então no primeiro dia eu já tinha conseguido fazer amizade com geral da turma, Maicão, Gabriel, Leo, Dafine, Priscilão, Rodolfo, Maria Clara, Ana Carolina e assim vai, mas todos sempre falavam de uma tal Perola que eu tinha que conhecer porque ela era muito gente boa e eu ia amar conhecer ela. Naquele dia essa tal Perola tinha faltado, então não me preocupei, seria apenas mais uma garota do colégio que eu conheceria. No dia seguinte ela chegou na sala de aula já falando com todo mundo com um bom humor incrível. Eu devo ter ficado com uma cara de bobão durante todas as aulas daquele dia, porque ela era a garota mais linda que eu já havia visto. O sorriso dela era perfeito, seu rosto angelical e o jeito dela de ser legal com todo mundo era encantador. Ela me viu e logo percebeu que eu era novo. Dafine me apresentou pra ela e ela estendeu a mão para mim, ela disse algo parecido com: Fala, Saulão! ㅡ Abri um sorriso tímido. Eu nem ao menos me lembrava daquilo. ㅡ Os dias foram passando, nossos amigos marcavam coisas e nós sempre íamos. Eu e ela criamos uma amizade legal e eu passei a me sentar entre ela e Maicão para poder encher o saco dela. Era tão legal irrita-la, para falar a verdade, ainda faço isso. ㅡ Ele assentiu com um sorriso. ㅡ Os anos foram se passando e nossa amizade apenas cresceu. Eu ia na casa dela com o pessoal e ela vinha na minha. Nas nossas saídas eu sempre fazia de tudo para estar perto dela e fazê-la rir o máximo que eu podia. Teve até um dia que fomos assistir um filme na minha casa e ela dormiu do meu lado. Naquele dia Gabriel e Maicão perceberam que eu gostava dela. Eles tentaram me encorajar a dizer o que sentia, mas eu não queria estragar a amizade que tínhamos. Sabia que ela só me via como amigo.

Continuei olhando para Saulo atentamente me perguntando como eu nunca havia notado.

ㅡ Eu vi ela saindo com outros caras e também a vi magoada por causa dos que lhe davam fora. Tudo que eu queria era poder abraça-la naqueles dias e dizer que eu estava ali por ela, mas eu nunca fiz isso, eu apenas observava de longe o seu olhar cabisbaixo. O ensino médio se passou e nós nos formamos. Eu escrevi um dos meus textos para dar para ela no último dia de aula, mas ela era tão popular que ficou rodeada de gente o tempo inteiro. Eu acabei indo pra casa sem lhe entregar e me arrependi amargamente. Ela passou pra faculdade e eu comemorei por ela da minha casa sem ela nem saber. Eu acompanhei ela pelo Instagram todos os dias enquanto sentia a saudade apenas aumentar no meu peito. Já eram três anos apaixonado pela garota mais linda que eu já havia conhecido. ㅡ Seu sorriso bobo olhando para os próprios pés arrancou um sorriso de mim. ㅡ Mais um ano se passou e a minha saudade por ela apenas cresceu de mim. O meu aniversário chegou e eu estava no parque da caixa d'agua comemorando com uns amigos até que... até que ela chegou. Eu estaria mentindo se dissesse que ela não estava ainda mais linda, pois ela estava e muito. Na primeira oportunidade agarrei ela e a abracei. Minha vontade era de beija-la, mas eu me segurei. ㅡ Ele soltou uma risada fraca. ㅡ Não consegui esconder tão bem a falta que eu senti dela, acho que ela percebeu já que até perguntou o motivo por eu a olhar tanto. 

ㅡ Saulo...

ㅡ Desde então temos nos visto e até finjo se namorado dela hoje para me livrar de uma tal de Jurema e para ela se livrar das tias. ㅡ Ele sorriu para mim. ㅡ Eu expliquei bem? ㅡ Soltou uma risada curta. ㅡ Eu vi tudo em você, Perola. Vi tudo que eu queria pra mim. 

ㅡ Desculpe te fazer falar disso.

ㅡ Não se desculpe. ㅡ Saulo tocou a minha bochecha. ㅡ É bom finalmente ter dito tudo para você. 

•••
Continua...

As Regras do Amor Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora