Saulo riu do que eu tinha falado e tocou o topo da minha cabeça com a palma de sua mão.
ㅡ Ir com você até lá em cima, Perola. Eu fico no seu quarto falando com você enquanto você toma banho. ㅡ Ele explicou me fazendo sentir uma pervertida por ter imaginado outra coisa.
ㅡ Ah, é claro. ㅡ Cocei a minha cabeça. ㅡ Gente, eu já... eu já venho.
ㅡ Aonde vão? ㅡ Dafine perguntou naquele tom safado dela e todos nos olharam com sorrisos maliciosos, apenas Jurema estava emburrada no sofá.
ㅡ No meu quarto dar uns pegas. ㅡ Respondi com deboche. Eles riram e voltaram a mexer nas comidas que os rapazes haviam trazido, só naquele momento consegui enxergar a logo da Americanas nas sacolas.
Eu e Saulo subimos usando os flashs dos celulares enquanto eu tentava não tropeçar e morrer naquela escada. Eu já caí nela tantas vezes que nem posso contar. Uma vez até fui parar no hospital porque bati a cabeça na quina do corrimão. Eu devia ter uns oito anos na época, mas Pedro me zoa até hoje dizendo que eu era meio doida da cabeça por causa disso. Disse que os poucos neurônios que eu tinha ficaram jogados na escada aquele dia.
ㅡ Acabou a luz só aqui na Bela? ㅡ Perguntei para Saulo depois que entramos no corredor.
ㅡ Sim, mas foi na Bela toda. A gente passou nas Americanas no centro e viemos conversando mó distraídos sobre o jogo do flamengo que passou agora pouco. Aí, quando vimos, a Bela tava toda escura. Na maioria das casas as pessoas estavam do lado fora com os celulares acesos. ㅡ Entramos no meu quarto e ele sentou na minha cama apontando o flash pra mim. Fui na direção do meu guarda roupas e comecei a procurar por algo para vestir depois do banho. ㅡ Quando passamos um pouquinho da academia, dois caras numa moto saíram de uma das ruas e vieram na nossa direção. Nó já ficamos meio em alerta observando eles, né? Os caras passaram por nós nos observando e deram a volta para vir na nossa direção de novo. Aí tivemos certeza que era assalto.
ㅡ O que vocês fizeram?? ㅡ Me virei para ele com as peças de roupa em mãos.
ㅡ Corremos. ㅡ Saulo riu. ㅡ Nos escondemos no primeiro arbusto que vimos e eles passaram sem nos ver.
ㅡ Vocês são malucos. ㅡ Ri caminhando na direção da porta do banheiro. ㅡ E se eles estivessem armados?
ㅡ Nós conhecemos os bandidos daqui, aqueles eram só dois moleques de 16 anos numa moto. Garanto que o máximo que tinham era uma faca de cozinha. ㅡ Saulo respondeu com tranquilidade. ㅡ Agora você toma banho e eu vou lá pra baixo comer.
ㅡ Ei, ei, ei! ㅡ Parei na porta. ㅡ Nada disso! Ta doidão? Senta esse rabo aí na cama e fica falando comigo. Já não basta o fato de que vou ter que tomar banho frio. ㅡ Resmunguei entrando no banheiro e ouvi a risada de Saulo.
Coloquei o meu celular de tela para baixo no mármore da pia e deixei o flash ligado virado para o teto, assim iluminando um pouco do banheiro pra mim.
ㅡ O que vocês pretendiam fazer hoje? ㅡ Perguntei do banheiro.
ㅡ Segundo a Dafine, iríamos assistir filme. Mas agora, sem luz, eu não sei. ㅡ Ele respondeu.
Tomei o banho mais rápido da minha vida naquele dia. Não vou mentir, eu não era nem um pouco acostumada com água fria. Eu dei uns gritinhos? Dei. Resmunguei? Sim. Tive que dar uns pulinhos para aguentar? Sim. Saulo? Ele ficou rindo da minha cara no meu quarto. A risada dele estava bem alta, para falar a verdade.
Saí do banho e, para minha surpresa, eu não estava tremendo de frio. Meu pai, quando ele ainda era um ser humano legal, sempre me dizia que quando você toma banho frio a noite, seu corpo sai quente do banheiro, mas quando toma banho quente, você sai com frio. Eu sempre tomei banho quente e sempre saí congelando do banho, me surpreendi por saber que meu pai falava a verdade.
ㅡ Está viva? ㅡ Saulo perguntou com seu sorriso risonho.
ㅡ A vizinhança inteira deve ter te ouvido rir, seu idiota! ㅡ Dei tapas leves em seu ombro, o que apenas o fez cair para trás na minha cama rindo mais.
ㅡ Desculpa, linda, mas parecia que tinha um pinguim tomando banho lá dentro pelos gritinhos. ㅡ Ele voltou a me zoar e eu voltei a lhe dar tapas para que ele parasse, mas tudo que ele fez foi me puxar junto com ele enquanto ria.
ㅡ Saulo! Qual foi? ㅡ Perguntei começando a rir junto dele, não por causa da situação, mas por causa da risada escandalosa dele.
ㅡ Desculpa. ㅡ Ele disse de novo. ㅡ Ta bom, parei.
ㅡ Você é muito sem graça. ㅡ Saí da cama resmungando com um sorriso e ele apenas me mandou um beijinho.
ㅡ Você me ama. ㅡ Saulo disse num tom brincalhão.
ㅡ Ah, devo amar mesmo, pra te aturar tanto. ㅡ Voltei ao banheiro para pentear meu cabelo. Fiquei em silêncio tentando desembaraça-lo até que ouvi o som da porta do meu quarto. Estava pronta para chamar por Saulo pensando que ele havia me deixado sozinha, mas fiquei calada quando ouvi outra voz.
ㅡ Saulo?
ㅡ Ai, que susto! ㅡ Saulo respondeu. ㅡ Quase me matou do coração, Jurema!
ㅡ Cadê a Perola?
ㅡ Pra que quer saber?
ㅡ Porque quero falar apenas com você.
ㅡ Então fala.
ㅡ Por que você está fazendo isso?
ㅡ O que?
ㅡ Ficando com a Perola, isso é idiotice! Eu sei que... Eu sei que gosta dela desde sei lá quando, mas sabe muito bem que ela não sente o mesmo por você! Aposto que está com você por pena.
ㅡ Era só isso?
ㅡ Para de debochar e me escuta! Saulo, eu gosto de você. Não precisa perder seu tempo com alguém que nem te merece! A Perola não gosta de você e...
ㅡ Que horas será que a luz vai voltar?
ㅡ Saulo??
ㅡ Ah, desculpa, me distrai. O que você estava dizendo?
ㅡ A Perola não gosta de você como você gosta dela! Entenda! Fica comigo, cara!
ㅡ Você pintou o cabelo?
Ouvi Jurema bufar. No meu momento de sanidade, eu riria da situação e da Kátia que Saulo estava fazendo, mas eu não estava. Eu estava possessa. Estava furiosa. Naquela altura eu nem me importava de pensar que estava com ciúmes, eu simplesmente queria jogar a Jurema de escada a baixo para ver se ela cata os neurônios que eu perdi lá e cai um pouco na real.
Eu não estava os vendo, mas minha imaginação estava trabalhando bem. Bem até demais. Tudo que eu imaginava era Jurema bem perto dele, como eu costumava ficar. Imaginei ela dando em cima dele, o que era verdade, e meu sangue ferveu.
Era ciúmes e eu sabia, mas não estava nem aí.
ㅡ Você não vai mesmo me ouvir, né?
ㅡ Desculpa. ㅡ Saulo falou num tom sincero. ㅡ Eu amo a Perola não importando o que você faça.
Naquele momento eu voltei a mim. Minha raiva se acalmou e meu coração voltou a bater normalmente. Os passos de Jurema para fora do quarto me fizeram sair do banheiro e encarar Saulo.
ㅡ Que demora é essa? A Jurema poderia ter me matado. ㅡ Saulo falou no seu tom brincalhão novamente e eu sorri indo em sua direção. Sentei-me ao seu lado sem dizer nada. ㅡ Que foi?
ㅡ Eu não gostei. ㅡ Falei de forma simples.
ㅡ Não gostou do que?
ㅡ Da Jurema perto de você. ㅡ Continue a falar com tranquilidade.
ㅡ Por que? Ficou com ciúmes? ㅡ Saulo riu e eu o olhei.
ㅡ É.
•••
Continua...
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As Regras do Amor Vol. 1
RomanceCom 19 anos eu não sabia muito sobre amor. Já havia assistido centenas de filmes, visto centenas de séries, lido centenas de livros e ouvido centenas de músicas, e todos sempre acabavam falando sobre amor. Eu não me lembrava de já ter realmente sen...