Sombras do Passado

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Sniper Mask

Eu sabia que jamais deveria ter deixado as coisas chegarem a esse ponto.

Agora me encontro em uma situação ainda pior do que antes.

Kuon não me afastou.

Não me mandou embora.

Pelo contrário.

Ela me segura próximo ao seu corpo como se temesse que eu desaparecesse a qualquer instante. Seus lábios pressionam os meus, hesitantes no início, mas carregados de algo que me devora por dentro.

A inexperiência dela é evidente, mas, por Deus, isso só me faz querer ensiná-la, mostrar a ela como cada toque, cada movimento pode se tornar algo ainda mais intenso.

Em algum lugar da minha memória nebulosa, sei que já vivi momentos assim antes. Sei que outras garotas já passaram pelos meus braços, que outros beijos já queimaram em minha pele.

Mas nada se compara a isso.

Nada se compara a ela.

Kuon é única.

E nesse instante, enquanto sinto seu corpo colado ao meu, percebo algo que talvez já estivesse claro desde o começo: ninguém mais me bastaria.

Aprofundo o beijo, desejando explorar cada pedacinho dessa sensação que me entorpece, mas preciso me conter.

Preciso respeitá-la.

Afasto-me, apenas o suficiente para recuperar o fôlego, e a vejo. Seu rosto está vermelho, suas pupilas dilatadas, seus lábios levemente entreabertos, ofegantes. Mas o que mais me prende é o brilho nos olhos dela.

Ela não parece arrependida.

E isso me dá um alívio imensurável.

A última coisa que quero é machucá-la.

Vou com calma. Por ela.

Coloco minhas vontades em segundo plano porque, por mais que seja difícil me controlar, sei que Kuon vale a pena.

— Você está bem? — pergunto, minha voz saindo mais rouca do que pretendia.

Ela confirma com a cabeça.

Antes que eu possa dizer mais alguma coisa, uma voz corta o momento como uma lâmina afiada.

— Ei, já estamos prontas! Podemos comer? Temos um longo caminho pela frente...

A Yuri aparece, me fazendo agradecer mentalmente por já termos nos afastado.

Kuon dá um pulo, levando a mão aos lábios como se tentasse esconder o que acabamos de fazer.

Mas a May não deixa passar.

— Kuon, ainda não se ajeitou?

O sorriso malicioso no rosto dela me faz sentir uma pontada de irritação.

Será que ela sabe?

— E-eu vou agora! Podem ir comendo.

Kuon some em direção ao quarto.

Eu me dirijo à sala de jantar, tentando ignorar as batidas aceleradas do meu coração, mas a Yuri se aproxima sorrateiramente.

— O que aconteceu entre vocês?

Congelo no lugar.

Ela não teria como saber.

Além disso, a última pessoa com quem quero conversar sobre isso é justamente aquela que estava apalpando a Kuon poucos instantes atrás.

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