Diamante Negro 🔞

Erguendo Barreiras

Sem correção

Na cozinha, Cindy, sem entusiasmo, ajudava Anne na escolha das travessas de prata para montar as saladas que serviriam no jantar.
Parecia estar vivendo um pesadelo, escolhendo o que de melhor enfeitaria a mesa de noivado do pai do seu filho, o homem a quem entregara o seu amor sem reservas. Fechou os olhos por alguns segundos, e o corpo nu de William dançou em seu pensamento. Uma inesperada vergonha invadiu-lhe, tinha passado de apenas uma distração para ele naqueles três meses. O desejo de que William se apaixonasse perdidamente a fez ser ousada demais, se mostrando intensa para atraí-lo. Que bobagem! Ele devia ter feito amor com mulheres bem mais experientes do que ela antes.

Srta Hatcliff parou junto as duas queimando seus pensamentos.
__ Pode retirar a mesa do café, Cindy! Perto do almoço, comece a arrumação dos quartos e a limpeza dos banheiros. Seja rápida e eficiente, ainda temos muito a fazer na tarde.

Ela buscou paciência no fundo da alma, mas a voz não deixou de sair um pouco irritada.
__ Sim, farei como me ordenou: lavarei e guardarei a porcelana inglesa do café, polirei as bandejas e castiçais de prata e também separarei a louça e os cristais que serão usados no jantar. Esqueci algo, srta Hatcliff?

A mulher estreitou os olhos, porém a voz soou calma.
__Ótimo! Vejo que está se esforçando, srta Collins. Isso é bom, muito bom. Por enquanto, as ordens são essas.

Diante do tom macio da governanta, que soava um tanto estranho para a aparência austera, Cindy não se iludiu. Peter poderia ter razão no que lhe dissera há poucas horas.

Virando-se para Laurent, Hatcliff avisou:
__Fui informada de que todos da casa irão almoçar no Byron, o que é um alívio! Não teríamos condições de arrumar tudo, tendo que preparar um almoço. Concentre-se Laurent, portanto, no jantar!

Dando uma volta para examinar as lagostas recém entregues, relembrou a Cindy.
__ O Sr. Fletchers está no momento na biblioteca. Às 10:30, não esqueça de levar o remédio para ele.

__ Claro, já os deixei separados em cima do balcão.

__Mais uma vez peço, quero tudo impecável no dia de hoje!

E assim, em meio ao serviço ordenado pela governanta, o relógio da cozinha a lembrou de dirigir-se até a biblioteca.

Seguiu com passadas calmas, equilibrando a garrafinha de vidro com água, o copo e as duas pílulas vermelhas na bandeja, relembrando a lista de coisas que tinha ainda para fazer. Sua barriga deu sinal. Até aquele momento, não tivera tempo de parar para comer. Os poucos minutos, entre uma tarefa e outra, foram gastos para olhar como estava o filho na edícula. Nada era mais importante que o bem estar de Noah. Ao atravessar uma saleta íntima também usada para pequenas refeições, acompanhou os desenhos do piso de parquê, lustroso. Agradeceu por não cruzar com William pelo caminho. Certamente, estava no andar de cima com a estonteante noiva e a mera constatação disso fez com que Cindy fosse invadida por uma onda de ódio, perigosamente, mesclado de dor e amargura.
Em seguida seguiu pelo largo corredor até o seu final, bateu de leve na madeira entalhada, torceu a fechadura e entrou.
Ela sentiu a ponta dos dedos congelarem, e uma súbita onda de frio percorrendo seu corpo, apesar da calefação da casa, quando os olhos de William a examinaram da cabeça aos pés, como se tivessem o dom de enxergar através do tecido do uniforme. Por um instante, mas só por um, teve a impressão de que o homem a sua frente a olhava como antes. Que ilusão, Elisabeth era uma musa latina, de cabelos brilhantes, curvas exuberantes e tinha tanto a admiração dele que até a pedira em casamento! Ele tinha feito a sua escolha entre muitas das que se deitaram em sua cama. E ela, Cindy, fora somente alguém que perdera tudo o que o encantou com as dores da vida. Não existia a menor possibilidade de que alguém olhasse para ela com algum sentimento. Era invisível. Poderia passar muito bem por um monte de trapos velhos, jogados numa lixeira que ninguém a notaria.