Ser Pai Nunca Esteve Nos Meus Planos

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__ Noah, você não irá fazer manha, não é?

__ Mamãe...- ele suplicou com olhinhos marejados.__ Só um pouquinho...

Ela disse baixinho:
__ Por favor, filho seja bonzinho... Não posso deixar você aqui. Lembra? Hoje é dia de trabalho duro. Você tem que ficar com o tio Peter.

William aproximou-se sem se importar se Elisabeth ou o motorista estivessem achando estranho. Os olhos espertos de Noah estavam tristes. Conhecia bem aquele sentimento, o de ter algo negado. A sua infância inteira fora assim.
__Que mal haverá dele conhecer o interior de uma dessas máquinas? Só levará alguns poucos minutos.

__ Aquele carro ali é igualzinho ao que vi na televisão... - Noah, explanou esperançoso diante do argumento de William.

Cindy balançou a cabeça negativamente. Estava apavorada com os dois pares de olhos em cima dela e do filho.
__ Noah...temos que ir.- disse sentindo as pernas tremendo.
Mas, antes que pudesse falar mais qualquer outra coisa para convencer, Elisabeth pôs a mão no ombro de William e arrazoou, evidenciando todo seu desconforto.
__ Melhor ela levar o garotinho, William! Está muito frio aqui fora. O dia que tivermos os nossos filhos irá entender a preocupação e o cuidado de ....- pausou fingindo prestar atenção no rosto de Cindy.__Como é seu nome mesmo?

__ Cíntia Collins, mas aqui na mansão, os meus colegas me chamam pelo apelido: Cindy.

Num giro de corpo, a noiva o enlaçou pela cintura, fincando seus olhos reprovadores nos dele.
__ Então querido, quando for pai vai entender a moça.
Aliás, não vejo a hora disso acontecer.

A boca de William formou uma linha tensa.
Por um longo minuto, o olhar se intensificou em Noah, que já fazia beiço, e Elisabeth acompanhou atenta a sua mirada. E quando, finalmente, William abriu a boca, foi para fazer uso da sua típica necessidade de deixar todas as suas intenções às claras. Prático e cruel como todos que lidam com negócios, que envolvem vultuosas somas de dinheiro, ele sorriu, mas seus olhos eram sérios.
__ Não espere isso de mim, Elisabeth.
Ser pai nunca esteve e continua não fazendo parte dos meus planos para o futuro.

Desconcertada, Elisabeth apontou o carro preto a sua esquerda.
__ Bem, não vejo porque ficarmos discutindo nossa vida na frente dos empregados. Você mudará de ideia tenho certeza. - segurou carinhosamente sua mão.

__ Não mudarei de ideia.- afirmou.

__ Vamos?- a noiva convidou com uma expressão contida.

William olhou mais uma vez para Cindy e afagou os crespos do menino, dando as costas, acompanhando a noiva, mas teve uma vontade quase que incontrolável de ficar e consolar o filho de Cindy.

Para seu alívio, Noah conformou-se e não fez uma cena, e ambos retornaram para a edícula.
A situação atual era uma das mais duras que ela já precisou enfrentar. Em apenas uma metade de manhã, seu mundo já bagunçado, voltava a ser revirado. Em menos de nove horas, William estaria colocando um anel de noivado no dedo da mulher que escolheu para ficar o resto de sua vida. Cindy não tinha como fugir da cena em que seria a expectadora da felicidade deles.
Cindy mordeu a boca, sufocando a onda de tristeza que a invadiu.
Quase cinco anos sem ele, sentindo como se uma importante parte dela lhe tivesse sido arrancada e de repente, ele reaparece para acabar de vez com o seu coração. Como se não bastasse, ainda tinha uma criança envolvida.
Temeu enlouquecer com toda aquela situação.

Quarenta minutos depois, com os nervos mais exaustos do que estava conseguindo suportar, ela empurrou a porta do magnífico quarto de William, com o máximo de cautela, e entrou como se fosse um lugar proibido. Quando fechou a madeira atrás de si, sentiu-se aprisionada na intimidade daquele aposento.
O reencontro de pai e filho nas garagens fez ela pensar se William não havia percebido a enorme semelhança entre os dois. Ele era um homem inteligente, impossível que já não tivesse cogitado ao menos, a possibilidade dele ser o pai de Noah. Cindy se perguntou se a descoberta sobre o filho influenciaria no seu relacionamento com Elisabeth. Como a herdeira reagiria diante daquela verdade?
Contudo, Cindy leu nas entrelinhas que a frase sobre não querer filhos tinha sido mais uma indireta para ela do que, propriamente, uma decisão dele para com o futuro junto da noiva. Era como se William dissesse: "Se for o pai, não me conte, não quero saber."
Sim, provavelmente, William já tinha juntado as peças do quebra cabeças. A frase de aversão à paternidade não era somente devido ao que passara na infância. Sempre o ouvira dizer, ao observar o sofrimento naquele campo de refugiados, que as pessoas precisavam parar de porem inocentes no mundo. Que numa guerra e em relacionamentos fracassados as crianças eram as que mais sofriam.
Balançando a cabeça para afastá-lo do seu pensamento e trabalhar em paz, Cindy suspirou. No entanto era impossível. O ambiente era o dele. William não deixara de ser um exímio homem organizado. Os anos vividos no orfanato lhe ensinaram a arrumar sua própria bagunça. Sorriu nostálgica. Inúmeras vezes, ele a ensinara dobrar camisetas e ela nunca aprendera direito. Observou a cama ainda arrumada, imaginou que não havia dormido nela. Ou talvez, ele tivesse arrumado?
Não. Não seria por estar na casa dos sogros conservadores que deixaria de fazer amor com a noiva. Conhecia-lhe bem, o proibido o excitava. Aquela constatação, apertou ainda mais a garganta de Cindy.
Quartos separados era exatamente o sentido da expressão que lera num clássico:"Para inglês ver."

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