Reencontro de natal [Concluído]

54. Café sem açúcar

Respirei fundo e tomei cuidado para não me embolar na hora de pronunciar as palavras, quando eu fico nervosa eu consigo fazer coisas que qualquer ser humano duvidaria ser possível.

– Lembra quando eu tomei a pílula do dia seguinte?
– Lembro...
– Então, a minha menstruação não desceu até agora.
– E você já fez exames?
– Já fiz o beta HCG.

Ele me olhou confuso, como se fosse um filhotinho de cachorro ouvindo um barulho estranho pela primeira vez:

– É o exame de sangue para detectar a gravidez.
– E...
– Eu não estou grávida.

Ele só ficou parado na minha frente, não esboçou nenhuma reação e isso me deixou mais nervosa ainda.

– É isso, só queria te falar que dessa vez você não vai ser pai.

Desde a morte da minha mãe, da minha irmã e do meu cunhado eu fiquei pensando sobre como é ruim ver a minha família diminuir e tenho que confessar que...

– Depois de tudo o que nós passamos juntos não seria tão ruim você sendo mãe dos meus filhos.
– Não seria tão ruim? – questionei sem entender onde ele queria chegar.
– Se tivesse que acontecer um acidente e eu virar pai eu queria que você fosse a mãe.
– Está falando sério?
– Mais sério impossível.

Suspirei e disse:

– Esse encontro está sendo cheio de revelações.
– Agora que vamos morar juntos é melhor deixar as coisas às claras.
– Concordo.

Dei mais um gole no meu vinho e vi o garçom se aproximando de nós:

– Boa noite senhores, gostaram da refeição?
– Estava uma delícia – elogiei.
– Estava maravilhosa.
– Fico feliz. Os senhores desejam uma sobremesa ou um café para fechar a noite.

Sorri para o garçom e disse:

– Eu quero o cardápio para ver as sobremesas.
– E eu quero um café expresso sem açúcar e sem adoçante.
– Só um minuto que já trago o pedido e o cardápio.

Olhei para o Pietro e constatei:

– Dizem que quem toma café sem açúcar já está morto por dentro.

Ele deu um sorrisinho sacana e falou:

– O sujo falando do mau lavado.
– Como você sabe que eu tomo café sem açúcar?
– Estamos morando juntos a algumas semanas e eu nunca te vi pegar a xícara e o açucareiro quando faz café.
– Você me pegou...

Nessa hora o garçom chegou com o cardápio e me entregou. Olhei rapidamente optei por um petit gateau.

Devolvi o cardápio para o garçom e perguntei para o Pietro:

– Quanto tempo demora até você levar as coisas para o meu apartamento.
– Nosso apartamento – ele falou entre um pigarro e outro – e eu acho que alguns dias considerando que a maior parte eu vou fazer sozinho.
– Quer que eu volte a faltar no trabalho? – provoquei.
– Jamais.

Nessa hora o garçom se aproximou com o café e com a sobremesa e nós dois nos permitimos só apreciar o momento.