Voltando

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Catra se via mais uma vez sentada no chão do banheiro em frente ao vaso, não conseguia abrir os olhos tentando controlar a queimação presente na garganta, nunca havia se sentido tão mal em toda sua vida, as dores, as tonturas, o mal-estar, e as náuseas, pelos deuses as náuseas eram as piores, os enjôos não a deixavam dormir, não a deixavam comer direito, muito menos andar de moto, pois a última vez que tentou o ácido gástrico a atingiu subitamente a fazendo parar bruscamente quase caindo da moto jogando com tudo o capacete para longe e colocar para fora tudo o que tinha comido aquele dia, Adora provavelmente a mataria se ficasse sabendo disso, então calculadamente fez questão de omitir isso dela, e não ousou pilotar novamente, apenas fazia meras e vãs tentativas.

Além disso suas variações de humor eram constantes e visíveis, com dores e emocionalmente sensível, nas últimas semanas chorou mais do que já havia chorado em sua vida toda, porque não conseguia controlar as lágrimas, porque não queria estar grávida, porque se sentia confusa, porque não aguentava mais, porque estava exausta disso tudo.

Então o final do primeiro trimestre chegou avassalador não somente para Catra, mas para Adora também, a loira acompanhava de perto o quão mal Catra se sentia, e como a gravidez a desgastava excessivamente sugando todas as energias da gata. Ajudava no que era necessário e no que podia mesmo quando não era solicitada, como por exemplo, insistir para Catra se alimentar já que ultimamente ela se recusava por contas dos vômitos e noites mal dormidas, ou tentava conversar sobre outros assuntos que não envolvessem gravidez mas de algum jeito a conversa sempre acabava em choro, o que fez a gata se distanciar e cada dia que passava ficava mais reclusa, a insistência levou a inúmeras discussões, brigas e mais choros. Um dia leu num artigo que jamais deveria enfrentar ou discordar de uma mulher grávida, ainda mais nessa fase, Catra já estava de 3 meses e segundo os artigos esse era uns dos piores meses de uma gestação, por conta das modificações e adaptações tanto físicas como emocionais.

Foi por isso que apenas deixou Catra se distanciar e não a questionava em nada e mal falava com ela se sentiu mal, mas não insistiria mais já que nem a própria gata parecia se importar. E isso prosseguiu assim até que em uma certa noite chegou do trabalho e encontrou a gata praticamente desmaiada no chão do banheiro do quarto, jogada no piso frio com o corpo encolhido e os braços envolta do ventre como se o quisesse proteger de alguma coisa, correu desesperada a chamando pelo nome buscando por alguma reação consciente dela, a gata apenas resmungou, tremia e transpirava a ponto de conseguir sentir o suor dela transpassando pela sua pelagem já escura pela umidade, a pegou no colo com todo cuidado possível e a depositou na cama, correu para seu celular, discando para a doutora Razz o mais rápido possível em seguida para sua irmã, buscou água e conseguiu fazer com que Catra bebesse um pouco, deitou ao lado dela a envolvendo em seus braços, controlando internamente o temor que estava sentindo.

Como num piscar de olhos Glimmer já estava lá assim como a médica da família, que examinou e medicou Catra, deixando a loira mais aliviada ao saber que ela estava bem e teve apenas uma febre forte causada possivelmente por exaustão e má alimentação, Razz não deu uma bela bronca na loira como sempre fazia, mas mesmo assim Adora não pode deixar de se culpar, pois passava o dia inteiro no trabalho, não sabia se a gata comia direito ou não, não conversava com ela para saber sobre seu dia, se culpou amargamente por isso, que chegou até se questionar se aquela tinha sido mesmo a decisão correta, não que se arrependeu de ter o bebê, mas sua escolha, seu egoísmo estava estragando a vida de outra pessoa, Catra não queria aquilo, não pediu por aquilo e isso a estava quebrantando a cada dia.

Aquela noite Glimmer só saiu de lá após Catra apresentar uma melhora significante, optou por ir embora com a promessa que voltaria no dia seguinte de manhã para checar Catra já que Adora tinha uma ação muito importante no trabalho. Acompanhou a irmã adotiva até a porta se despedindo, ouvindo seus conselhos para não se culpar, é claro que Glimmer a conhecia muito bem para saber que estava se culpando internamente, a agradeceu por tudo e voltou para quarto para checar Catra mais uma vez antes de voltar para a sala para dormir, sim, ela estava dormindo no sofá, a última briga com a híbrida resultou na mesma pedindo distanciamento e que talvez fosse melhor ir embora pois nada daquilo iria dar certo, naquele dia sentiu seu coração afundar no peito somente pela menção de que Catra poderia ir embora, com todas suas forças conseguiu convencer a morena a ficar, então se afastou novamente e por mais que não quisesse já que dormir ao lado dela era a melhor parte do seu dia, assim o fez, por isso já não dormiam mais juntas.

ACCIDENTAL (G!P) (CATRADORA)Onde histórias criam vida. Descubra agora