3 Ladrão de peruca

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No mesmo dia, às 18:00 horas, Poncho apareceu na casa de Core, e como a mãe da garota o autorizou, o rapaz, ainda de farda, dirigiu-se ao quarto de Core.

*Toc, toc.*

O rapaz bateu na porta e a abriu imediatamente, enquanto a jovem, ainda acordando e bastante envergonhada, tentava pegar uma peruca que havia caído no chão, perto da cama.

- Pare com o espetáculo, já cansei de te ver sem peruca - disse Poncho, sentando na cama da jovem.

- Mas era quando eu estava passando por crises. Agora estou curada; só não sei por que essa droga de cabelo não cresce. Por que veio aqui a essa hora? Você não deveria estar na delegacia ou perseguindo bandidos? - Core falou, pegando a peruca cacheada de cor verde e tentando ajeitá-la em sua cabeça.

- Vim ver como você está. Supostamente, tem algum ladrão de perucas solto por aí, então tome cuidado - Poncho falou, pegando na mão da jovem que, ruborizada, puxou a mão enquanto falava:

- Tá brincando né? Ladrão nenhum vai vir atrás das minhas perucas baratas... Ah, tá, agora entendi de onde surgiu aquela peruca maravilhosa. Você a pegou da cena do crime, é isso? Ela era prova de algum crime?

- Antes de qualquer coisa, não fui eu quem pegou a peruca, foi o Bernard. Ele disse que ninguém sentiria falta de três perucas no meio de tantas. Porém, quando foi para casa, esqueceu uma no meu carro, e o resto você já sabe - Poncho explicou. - E por que estava dormindo a essa hora? Não está se sentindo bem?

- Sinto-me cansada, mas já estou melhorando - a jovem respondeu.

- Acha que é...

Core interrompeu o rapaz, dizendo:

- Não é nada, estou até pensando em entregar alguns currículos na segunda-feira.

- Nossa, como é bom ouvir você falar em coisas desse tipo - Poncho falou, abraçando Core, que ruborizou novamente, mas aproveitou o abraço para sentir o delicioso perfume do rapaz. Porém, exatamente nesse momento, a mãe de Core entrou no quarto, trazendo uma bandeja com duas xícaras.

- Espero não estar interrompendo nada. Café expresso para o Poncho e achocolatado para a bela adormecida.

- A senhora nunca atrapalha, senhora Rondel.

A senhora Rondel é uma jovem senhora de 44 anos, de origem coreana, que veio ainda adolescente com seus pais para a França em busca de uma vida melhor.

Com apenas 18 anos, casou-se com Adrian Rondel, e por isso, Core tem os traços tão peculiares, orientais por causa da mãe, mas com os olhos verdes, herança do pai.

Infelizmente, todo o dinheiro que o senhor e senhora Rondel haviam juntado por anos foi gasto durante o tratamento de Core, e por esse motivo, a garota queria tanto arrumar um emprego o quanto antes.

A senhora Rondel se retirou enquanto Poncho pegava a xícara da bandeja, colocando-a na mesinha de cabeceira de Core.

Os olhares dos jovens se cruzaram, e a moça rapidamente desviou seu olhar para a viatura em frente à sua casa.

- Chamando todos os policiais, manifestação dos caminhoneiros em Champs-Élysées está fugindo do controle...

- Essa é a minha deixa - Poncho falou, selando carinhosamente a testa de Core, que continuou sentada em sua cama rosa, repleta de pelúcias ganhadas nos muitos anos de sua doença.

- Se cuida - a jovem falou enquanto via seu amigo tomar o café às pressas e sair pela porta do seu quarto.

Core tinha muito medo de se iludir, acreditando que Poncho realmente gostava dela e que tudo não passava de pena.

Durante a adolescência, antes dessa doença maldita destruir seis anos da vida de Core Rondel e transformá-la em Core Poupée, os dois melhores amigos da garota eram Poncho e Milena. Milena não gostava muito de Core andar com Poncho, falava que ele assustaria os garotos, que não chegariam nela pensando que eles tinham alguma coisa. Core sabia que Milena andava consigo apenas porque ela era uma garota popular; pois sempre era o centro das atenções com sua beleza incomum, mas a garota não ligava, falava que Milena um dia iria aprender que beleza não é tudo.

Quando Core voltou para a escola após ter perdido os cabelos por causa da quimioterapia, encontrou Milena já com seu grupinho composto pelas cinco meninas mais metidas da escola: Lara era filha de imigrantes brasileiros, negra, cabelo castanho, olhos da mesma cor, e tinha a serenidade no olhar de quem nunca gastaria um centavo para fazer as sobrancelhas, pois eram perfeitas; Roberta era branca, cabelo castanho ondulado, seus pais eram donos de uma lanchonete que ficava na frente do supermercado; Samanta era a Maria vai com as outras, tinha cabelo castanho liso longo e olhos cor de mel; Rita tinha o cabelo loiro escuro até a cintura e olhos azuis, seus pais eram donos de uma concessionária da Renault, o que ajudava ela a ficar com muitos rapazes que achavam que poderiam ganhar algum desconto quando comprassem um carro. Duda tinha o cabelo castanho, olhos azuis, e seus pais tinham uma loja de roupas na Champs Élysées, o que fazia com que, mesmo todas as outras achando ela chata, nunca a tirassem do grupo. E para diversão do grupinho da Milena, Core virou motivo de chacota por suas perucas de cabelos sintéticos e de preço acessível, o que fez com que ganhasse o apelido de "Core cabelos de boneca" no começo, mas em pouco tempo virou "Core poupée".

Core poupée, a Garota do Cabelo de Boneca( +18)Onde histórias criam vida. Descubra agora