24 clarividência ou loucura

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- Eu juro, juro que não estou inventando nada, nem sou louca. Não foi apenas um pesadelo; era um aviso. Eu sou a próxima. Meu pai pode confirmar tudo, meu pai sabe de tudo, o Lohan. - Samantha falou, olhando para o nada novamente.

Poncho, com a intenção de distraí-la, pegou o controle remoto da televisão do quarto da jovem e começou a trocar de canal, procurando por desenhos animados. Ele parou em um filme, Coraline, mas logo percebeu que não era o ideal.

- Esse não, vamos procurar outra coisa. Bob Esponja é perfeito. Ah! Você pode me passar o seu relógio, aquele que consegue te rastrear? Vou colocar o meu número também. Quando você acionar o S.O.S., saberei também, mesmo que eu precise hackear essa coisa. Vou chegar voando se você estiver em perigo.

A jovem tirou o relógio do pulso e entregou a Poncho, voltando a olhar para o nada.

Não demorou muito, e a senhora Morel apareceu com uma sopa de legumes batidos e um pedaço de pão. Samantha sentou e começou a comer, enquanto Alicia Morel também trouxe uma refeição para o policial, a quem ele agradeceu.

Quando a senhora Morel saiu do quarto, Poncho falou:

- Querida, você não pode passar todo esse tempo sem dormir. Faz mal para você.

- Você já viu o que acontece quando eu durmo? - Samantha falou, colocando mais uma colher de sopa na boca.

- Mas se isso foi realmente um aviso, o recado já foi dado. Você pode dormir, e nós vamos ficar velando o seu sono. Se você der o menor sinal de desconforto, prometo que te acordaremos. - Poncho insistiu.

- Vou pensar no seu caso. - A jovem respondeu a Poncho, bocejando.

Alguns minutos depois, Samantha terminou de comer e colocou o prato na mesinha de cabeceira. Poncho, que havia terminado primeiro, aproveitou para mexer no relógio da jovem, claramente ansioso para que ela adormecesse.

Quando isso aconteceu, Poncho retirou cuidadosamente sua perna, que estava servindo de travesseiro para a jovem, e foi até a sala, onde estavam reunidos o senhor e a senhora Morel, e o senhor Lohan. O rapaz, com muita educação, pediu à senhora Alicia para subir e vigiar o sono da filha, pois havia prometido acordá-la ao menor sinal de pesadelo. Alicia assentiu, entregando-lhe a farda lavada e passada antes de deixar a sala.

Após a mãe de Samantha subir as escadas, Poncho respirou fundo e, em seguida, segurou Lohan pelo colarinho de sua camisa social, pressionando-o contra a parede e mantendo o braço de modo que seu antebraço enforcasse o capitão.

- Estou tentando ajudar, mas parece que você está me escondendo alguma coisa. Por que Samantha diz que você sabe que os sonhos dela não são simples pesadelos, mas sim avisos? - Poncho falou com seriedade.

- Isso não é da sua conta, é assunto de família. E afaste-se de mim antes que eu pegue minha arma. - Lohan respondeu com voz baixa, mas com convicção.

- Lohan, o rapaz só quer ajudar. - O senhor Morel interveio. - E eu não quero ninguém usando armas na minha casa, a menos que seja absolutamente necessário, como para matar o assassino que está atrás da minha filha... Nossa filha. - O senhor Morel falou, elevando o tom de voz e revirando os olhos.

O rapaz se afastou de Lohan e sentou-se no sofá.

- A verdade é que, desde pequena, Samantha é especial. Ela acertava coisas simples, como prever o clima ou adivinhar o sexo de bebês em gestação. Todos achavam bonitinho, mas ninguém a levava a sério, pensavam que eram apenas coincidências. Mas um dia, estávamos em uma fila para o cinema, e na nossa frente havia uma senhora que estava dando uma bala para o filho, um garotinho com cerca de 5 ou 6 anos. Samantha, do nada, disse à senhora que não desse a bala para o menino, pois ele engasgaria. A mulher sorriu e ignorou o aviso, dando a bala para o garoto. Segundos depois, o menino realmente engasgou e a bala estava obstruindo a respiração do garoto. Tive que realizar os primeiros socorros para desobstruir as vias aéreas e salvá-lo de sufocar. Se eu não estivesse lá, aquela criança poderia ter morrido. A partir desse momento, comecei a prestar mais atenção em Samantha, pois já não achava que eram simples coincidências.

Certa vez, a levei ao trabalho e ela viu uma policial com problemas financeiros. Samantha, com apenas 6 anos, escreveu alguns números em um papel e disse para a policial jogar na loteria. Anotei os números em um bloco de notas, e no dia seguinte, conferi o resultado da loteria. Surpreendentemente, os números que Samantha havia dado eram os mesmos que fizeram uma pessoa ganhar uma quantia considerável. No entanto, a policial não deu muita atenção a minha filha na época e ainda trabalha na mesma delegacia, reclamando da vida como sempre. Se tivesse seguido o conselho dela, estaria rica agora. Mas (Alicia) começou a repreendê-la, dizendo que ela deveria parar de fazer essas previsões, pois meninas normais não fazem amigos assim.

Poncho ouvia em silêncio, prestando atenção a cada palavra que Lohan dizia.

- Samantha costumava passar as férias comigo, então a levei à casa da minha mãe, que disse que a menina era clarividente. Ela explicou que, no passado, isso era comum em nossa família. Ela me contou que os Caron eram uma família de bruxos poderosos e que costumavam se casar entre si para manter seus poderes. No entanto, com o tempo, essa prática foi abandonada, e a magia começou a enfraquecer. Minha mãe e sua irmã foram as últimas pessoas que ela sabia que nasceram com poderes. Houve um salto geracional, e Samantha foi a única que mostrou ter desenvolvido o que alguns chamam de "dom".

Conversei com Alicia para ver se permitiríamos que Samantha fosse morar com minha mãe para aprender a usar seu dom. No entanto, Alicia sempre quis que nossa filha ficasse longe de tudo isso, pois acreditava que essas coisas eram perigosas. - Lohan explicou.

Poncho, ainda intrigado, perguntou:

- Você realmente acredita que Samantha tem o poder de prever o futuro?

Lohan suspirou profundamente antes de responder:

- Quando estava no caso do serial killer que assassinava vencedoras de concursos de beleza, estava à beira da loucura. Já haviam morrido sete misses, e não tínhamos pistas sobre o assassino. Três dias antes do último assassinato, Samantha me ligou e insistiu para que eu considerasse outro plano, pois o que tínhamos não funcionaria. Eu a ignorei, convencido de que o plano de usar a Miss Espanha como isca era perfeito. A casa estava completamente cercada por policiais em pontos estratégicos, de modo que o assassino não suspeitaria de emboscada. No entanto, Louise Durand, a Miss França, conseguiu entrar no terreno da casa sem ser vista. Ela removeu algumas telhas e, como o teto era de gesso, não teve dificuldades para entrar no quarto onde minha namorada estava. O resto da história você já conhece: ambas foram assassinadas, e eu carrego o peso da culpa por não ter ouvido minha filha.

O ambiente ficou tenso enquanto Poncho refletia sobre a história que acabara de ouvir, e a verdade sobre os poderes especiais de Samantha começava a se tornar mais evidente.

Core poupée, a Garota do Cabelo de Boneca( +18)Onde histórias criam vida. Descubra agora