Durante a noite, o senhor Rondel acordou com sede e, antes de descer para a cozinha, resolveu passar no quarto de Core, constatando que o quarto estava vazio.
Enquanto isso na casa da familia Morel:
Enquanto a senhora Morel ajudava sua filha a vestir roupas mais quentes, os homens continuaram a conversa, e o senhor Morel, de maneira educada, tentou aliviar a tensão que se instaurara no ambiente:
- Agradeço muito pelo que fez por minha filha... Nossa filha.
- De nada. Eu realmente não tinha ideia do que estava fazendo, apenas sabia que não podia ficar de braços cruzados enquanto Samantha estava daquele jeito. Ah, e obrigado por emprestar as roupas. - Poncho agradeceu pela roupa emprestada, uma vez que sua farda estava na máquina de secar.
Nesse momento, o telefone de Poncho tocou, ele pediu licença aos pais de Samantha e se dirigiu à janela para atender o telefone.
- Senhor Rondel.
- Poncho, precisamos urgentemente da sua ajuda. Acordei e fui até o quarto da minha filha, mas descobri que ela saiu, saiu sem falar com ninguém. Sabe, meu filho, todos nós sentimos muito a sua falta, mas Core... Core não está bem.
- Senhor Rondel, eu também sinto muita falta de vocês. Qualquer dia eu passo aí para tomar um café. Core é adulta, e só podemos fazer alguma coisa após 48 horas de desaparecimento. Mas se o senhor estiver realmente com pressa de encontrá-la, talvez devesse verificar em casas de shows. Desculpe, Senhor Rondel, mas minha namorada não está muito bem.
- Desculpe, Afonso, não quero atrapalhá-lo novamente.
- Tudo bem.- Poncho falou desligando a ligação.
- Alguém mais quer café? Eu vou fazer um para mim. - O senhor Morel falou, aguardando as respostas.
- Aceito, muito obrigado. - Disse Poncho.
- Eu prefiro um uísque, se não se importar. - O senhor Lohan falou, ainda sentado no mesmo sofá que Poncho.
- Fique à vontade, você sabe onde fica. - O senhor Morel falou, indo até à cozinha fazer dois cafés em cápsula.
- Obrigado por ter ajudado a minha filha. - O senhor Lohan agradeceu, sem olhar nos olhos de Poncho.
- O senhor pode não acreditar, mas eu realmente gosto da sua filha. - Poncho falou, levantando-se e indo até a janela, onde abriu um pouco a cortina e olhou para a viatura descaracterizada que estava na frente da casa.
- Mas não é a vida que eu quero para minha filha, nem para a filha de ninguém. - O senhor Lohan falou, indo até o aparador onde estavam as bebidas e servindo-se.
- Eu sei que não sou rico, mas no mês que vem meus pais passarão a casa de Rungis para o meu nome. Posso morar aqui, neste bairro, e alugar o apartamento em Viry-Châtillon. Com meu salário de policial e o valor do aluguel, posso garantir que sua filha não passará por necessidades. - Poncho falou, olhando para o senhor Lohan.
- Não é isso. Não quero que minha filha perca noites de sono quando você estiver em alguma missão. Não quero que ela corra riscos de ser sequestrada ou morta por causa de suas atividades como policial. Isso já aconteceu quando Samantha tinha apenas 2 meses de vida. Alicia e minha filha foram sequestradas porque fiz uma grande apreensão de drogas e fui dar entrevista na televisão todo orgulhoso. Dois dias depois, minha esposa e minha filha haviam sido sequestradas, e o sequestrador exigiu como resgate a droga que eu tinha apreendido. Não tive alternativa, colocamos tudo em um pequeno caminhão e entregamos aos sequestradores. Minha família foi libertada, mas depois disso, iniciamos uma grande perseguição ao caminhão. Somente graças a um acidente que gerou um pequeno engarrafamento conseguimos pegá-lo. O caminhão não conseguiu parar a tempo, e o acidente resultou na morte de mais de 5 pessoas, deixando outras 20 feridas. Fiquei profundamente abalado com tudo isso, pedi uma licença, mas não consegui superar esses eventos. Após alguns meses, me separei de Alicia, o grande amor da minha vida, para garantir que nada semelhante acontecesse com ela e minha filha novamente. Arruinei minha vida para salvar minha família, e se algo acontecer com minha filha agora, tudo o que fiz será em vão. - Lohan explicou, olhando para o nada.
- Ninguém pode prever algo assim, e há muitas famílias de policiais que vivem felizes. O senhor não pode escolher o destino de sua filha, afinal, ela já é adulta. - Poncho falou, mas foi interrompido pelo senhor Morel ao trazer o café.
- Oliver, o que Samantha anda fazendo para ganhar tanto dinheiro? - Lohan perguntou, já desconfiando da resposta.
-Basicamente, quando ela tem alguma intuição, ela aposta na loteria, em corridas de cavalos ou até mesmo investe na bolsa de valores. Nada disso é ilegal. Ah, e ela também dá dicas para investidores, e as pessoas pagam muito bem por algumas informações. - O senhor Morel falou, dando de ombros.
Nesse momento, a senhora Morel chamou Poncho em voz alta, deixando os demais em silêncio.
Quando entrou no quarto, o rapaz assentiu com a cabeça para a senhora Morel e foi até Samantha. Quando a abraçou e sentou-se na cama ao lado da jovem, ele disse:
- Senhora Morel, se for possível, poderia trazer outra manta para Samantha? Ela ainda está gelada.
- Claro, num instante.
Samantha estava sentada, olhando para o nada, vestindo um moletom cinza grafite com detalhes em rosa, debaixo de um edredom.
- Gata, por favor, nunca mais me dê um susto desses. - Poncho falou, selando a testa da jovem.
- Não posso prometer algo que não posso cumprir. - Samantha finalmente falou, olhando para o rosto de Poncho.
- O que te fez ficar assim? Você pode me contar? - O rapaz, realmente preocupado, perguntou.
- Eu sonhei com ela, mas não era apenas um sonho; era um aviso. Ela me dizia que eu seria a próxima. Ela quebrou meus pés, meu crânio e chamou o médico. E quando achei que ela fosse me deixar viva, ela me matou. - A jovem falou enquanto deitava a cabeça nas pernas de Poncho e se aninhava.
- Sabe, teve uma época em que também tive muitos pesadelos. Foi logo quando entrei para a polícia. Na primeira semana, entramos em confronto com ladrões, e quando atirei, acabei acertando diretamente no coração de um deles. Ele havia atirado primeiro em um colega, mas o tiro acertou seu colete à prova de balas. Não foi minha intenção matar ninguém. Passei noites e noites acordado, sem conseguir dormir. Quando dormia, sonhava com aquele sujeito morrendo diante de mim. Ainda no meu primeiro mês, houve uma manifestação em Paris, e a maioria dos policiais foi para lá. Os novatos, como eu, ficaram para fazer ronda. Houve um roubo, e encontramos o carro em um bairro perigoso. Pedimos reforço, e vieram mais quatro policiais, inclusive alguns bastante experientes. Entramos no bairro em modo de defesa, mal tínhamos andado pela estação de metrô quando alguém atirou, acertando na cabeça do policial que comandava a missão. Não tivemos escolha a não ser pegar o corpo do policial e correr para longe dali.
Tive pesadelos por meses. Com o tempo, a gente se acostuma a matar quando é necessário, mas acho que não existe treinamento que nos prepare para olhar nos olhos de alguém e matá-lo.
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Core poupée, a Garota do Cabelo de Boneca( +18)
Mystery / Thriller"Core Poupée é uma jovem que ficou conhecida assim após enfrentar 6 anos de tratamento contra a leucemia. Devido ao tratamento ter feito com que seus cabelos caíssem, a jovem optou por usar perucas, mas não podendo comprar perucas de cabelos naturai...