_Mas que filho da p... – Ava apertou o braço de Ash sobre as mãos, um sinal sutil pra que ele se controlasse, e só conseguiu fazer isso porque olhou profundamente nos olhos da garota à sua frente e entendeu. – Sai. Agora antes que eu tenha mais motivos pra quebrar essa sua cara feia.
_Você ta me ameaçando? – Daniel deu um passo decisivo em direção aos dois e Ash ficou de pé por reflexo saindo da moto, quase mostrando os dentes, os olhos ardendo em ódio. Ava respirou fundo, se afastou um pouco de Ash pra encarar Daniel.
_Qual o seu problema? O que tá fazendo?
_Me diz você. O que tá rolando aqui?
_O que eu sempre te disse que rolou. Amizade sincera e profunda, e se você tá vendo outra coisa sugiro fortemente que procure um psiquiatra. – Ava não iria recuar, ela não era do tipo que se escondia. Daniel sabia disso e se tinha alguma dúvida estaria prestes a descobrir.
Uma janela se abriu de espreita, fazendo o mínimo de barulho, mas o suficiente para atrair a atenção dos três em pé na calçada. Olhos curiosos da vizinha brilharam atrás das cortinas finas, ela resmungou fingindo verificar algumas flores nos vasos dependurados no beiral. Ava respirou fundo, por mais que seu relacionamento nunca tivesse sido dos melhores, ela gostaria de acreditar que umas das inúmeras vezes em que ela pedira a Daniel que confiasse nela, em sua fidelidade, isso seria ouvido de alguma forma.
_Vai embora. – Ela sibilou em tom baixo sem tirar os olhos do chão. Daniel olhou em volta como se procurasse argumentos, procurasse algum motivo pra insistir em uma briga que lhe permitisse extravasar tudo que queria dizer aos dois, mas desistiu ao ouvir Ash grunhir baixinho.
Ele encarou a garota mais uma vez, parecendo frustrado, irritado e desapontado. Mas Ava, ela não recuou um passo. Manteve seus olhos tão firmes quanto os dele, encarando o de volta com tanta ou maior intensidade. A frustração e decepção ali presentes, tão claras quanto a lua que começava a despontar no céu.
Daniel encarou Ash outra vez antes de sair finalmente, socando as mãos tensas em punhos nos bolsos do típico sobretudo escuro de linho. Ash não relaxou a expressão até que ele virasse a esquina da rua, e mesmo enquanto Ava o puxava pra dentro, ele não moveu um centímetro do lugar até ter certeza que ele não voltaria. A típica pose de encrenqueiro.
Quando passaram pela janela da senhora atenta, Ash parou por alguns segundos e a encarou. "Quer uma foto?" – Ava o puxou pra dentro resmungando enquanto subiam as escadas. Ash começou a respirar um pouco mais leve quando ela reclamou das panturrilhas rígidas e xingou a velha bicicleta do chalé naquela tarde.
Quando chegaram a porta de Ava, um pacote branco brilhava sobre o tapete de entrada, em um formato quadrado quase perfeito. Algo estava amarrado e embalado de forma delicada e cuidadosa e tinha um pequeno bilhete em cima dele. Ash franziu o cenho quando ela pegou o pacote e abriu o cartãozinho com seu nome.
"Eu vou lhe dar o mundo um dia, mas vou começar com um jantar legal"
- Dani.Ela suspirou observando o papel, levou alguns segundos pensando em algo só dela, alguns segundos se questionando se tinha realmente alguma parcela de culpa naquilo tudo e só então finalmente abriu a porta e eles entraram. Ava caminhou até a bancada da cozinha do apê pequeno e deixou o pacote por lá. Ash fez o movimento costumeiro de largar a jaqueta em qualquer lugar e explorar o local familiar, logo atrás dela.
_Pato? Quem diabos gosta de comer pato? – Ele resmungou olhando dentro da sacola um papel com a especificação do que havia dentro dos isopores. – Coisa bizarra.
_Ele tava falando desse lugar a meses. – Ava saiu em direção ao quarto tirando a jaqueta de couro emprestada com um movimento fluido, abriu a porta do guarda roupas a colocando no cabide. – Eu nem mesmo sabia o que eles serviam lá, ele nem chegou a me falar...
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Melhor parte de mim.
RomanceTalvez o amor se mostre pra você de formas diferentes do que se espera. Talvez ele não seja obvio, talvez venha de onde menos se espera, ou mesmo de muita persistência. O amor gosta da surpresa, do olhar que não se deixa, da pele arrepiada, da vonta...