Capítulo 35 - O quanto uma noite pode dar errado?

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 Ava trocou o peso das pernas pela terceira vez e cogitou se recostar contra a parede da direita, e até teria feito isso não fosse a poeira da rua no tecido cor de creme tão difícil de tirar depois, ela sabia que o vestido era chato. Ash bufou impaciente e coçou os cabelos da nuca. Agora ela estava recostada nele, apoiando a cabeça no ombro de meio abraço dele, enquanto coçava o nariz e ensaiava um espirro.

_ Porra, de restaurante caro. – Ele resmungou analisando a fila a sua frente. – Eu tenho certeza que reservei a mesa ontem, e ainda fazem a gente mofar nessa fila.

_ Ash, deixa isso pra lá. Não vai resolver, eles já procuraram a reserva duas vezes. – Ele coçou o pescoço incomodado. - A gente espera mais um pouco. Vai dar certo, tá?

_ Como está seu pé? – Ava trocou o peso do corpo outra vez.

_ Essas sandálias definitivamente não foram feitas pra serem confortáveis. – Os dois olhavam os pés já avermelhados da garota. – São lindas, mas dolorosas.

_ Prefiro elas apoiadas nos meus ombros do que te fazendo sofrer desse jeito. – Isso a fez esboçar um sorriso enquanto olhava em volta na busca de um lugar qualquer pra sentar.

 Ash se remexeu inquieto e resolveu sanar aquele problema, puxou o terno escuro que vestia e tirou os braços o sacodindo contra o vento. Depois de um espirro dele e do cara de trás na fila, ele estendeu o tecido escuro sobre a calçada. Ava relutou e tentou segurar a peça, tentou impedir, mas já era tarde, o terno já tinha se tornando um tapete espaçoso pra que ela se sentasse contra a primeira superfície segura por perto. Ele ajudou ela a se sentar e quis arrebentar aquelas tiras finas que estavam deixando marcas. Com um arfar pesado e o maxilar trincado ele saiu um pouco da fila e olhou pra entrada do restaurante. Ash voltou com o rosto neutro, quase pensativo. Se abaixou próximo aos joelhos de Ava e falou baixo o suficiente pra só ela pudesse ouvir.

_ E se eu te dissesse que tem um jeito de entrar? – ela franziu o cenho observando concentrada. – Pode não ser muito... bom. Mas, acho que consigo fazer isso.

_ O que não seria muito bom? – Ava observou o rosto de Ash, ele estava lindo com a camisa clara, botões abertos perto do peito e o pescoço em leves tons de ... – Ash, o que houve no seu pescoço?

_ Olha, você vai ter que confiar em mim. – Ele juntou as mãos de Ava contra o peito atraindo a atenção da garota. – Não importa o que pareça... eu não vou comer ela.

_ Que? O que? Comer quem? – Ava mal teve tempo de associar a ordem das palavras e seus significados.

_ Confia em mim? – Ele repetiu baixinho, beijando levemente os dedos da garota. O mais ela poderia dizer agora? o que mais dizer para aqueles olhos cinzentos de tempestade?

_ Tá... – Ela sacodiu a cabeça e perguntou pro vazio que ele já havia deixado. – Mas espera aí, comer quem?

  Ash caminhou lentamente até a porta do restaurante, as mãos nos bolsos a cabeça baixa e olhos atentos. Notou a movimentação, conferiu mais uma vez e viu a recepcionista das 18hr entrando pela lateral do bar. A nova garota se organizava entre as pessoas que se amontoavam ao seu redor irritadiças e ansiosas. Ash encontrou o espaço perfeito entre os corpos e a observou com o rosto levemente inclinado, seus olhos não deixaram o alvo até que a menina o encarasse de volta por alguns segundos e acabasse por derrubar a prancheta. Ele sequer sorriu mas a menina arfou quando ele passou os dedos pelo cabelo ainda úmidos.

Levou alguns segundos até que se aproximasse um pouco da menina nervosa. Os olhos eram difíceis de encarar principalmente acompanhados de um meio sorriso quase malicioso. Ele suspirou enquanto a menina atendia o ultimo cliente insatisfeito.

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