Capítulo 16 - Final de semana no inferno. I

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 Um Duster 2.0 cor de cobre havia estacionado à porta da empresa quando ainda faltavam pouco menos de uma hora para às 17:30. Uma música baixa ecoava dentro do carro de fumê profundo e de vidros meio abertos. Encostado a porta do motorista ele parecia aproveitar o restante de raios quentes de sol do dia, com a cabeça inclinada relaxando ao ritmo das notas agudas da guitarra de Angus Young, o cabelo molhado seguia os movimentos leves, Ash curtia sua vibe de paz.
As primeiras pessoas começaram a finalmente sair. Um grupo animado que conversava e ria alto, cheios de planos para aquela sexta à noite. Pessoas cansadas ou ao telefone mal olhando onde os próprios pés pisavam enquanto andavam apresados até seus carros. Ele trocou o peso das pernas e conferiu o relógio no painel do carro outra vez. 17:37. Se ela se atrasasse não seria tão ruim, se até mesmo perdesse de vez a hora e não dessem mais pra pegar a estrada ele agradeceria aos céus em segredo.

 Uma das muitas mulheres saiu sozinha e ao telefone falando alto palavras de uma língua estrangeira exótica que o fez atentar aos sons. Ele pensou, "Pera, a mina que a Ava não curti não era..." – Impaciente ela exclamou algo no aparelho enquanto fuçava a bolsa atrás de alguma coisa que provavelmente estava dificultando o processo de chegar ao seu carro só por diversão. Ele sorriu e suspirou entendendo o sinal do universo, se espreguiçou e seguiu em direção a ela.

:_Eu sei Mamadi! Eu já entendi, você tá falando a mesma coisa pela quinta vez. Eu vou estar ai no domingo para o Diwali. O Bhaya já acertou todas as passagens. Baguan Keliê!! Já chega. – Uma mistura de mãos e coisas emaranhadas, alguns objetos caíram ao chão.

Ash não pode evitar de erguer uma sobrancelha, ele adorava uma mulher meio desastrada. Era quase um ponto fraco. Molhou os lábios antes de catar uma caixinha rosa que havia rolado um pouco mais longe da garota confusa com o equilíbrio de tantas coisas, ela pareceu congelar ao encarar o sorriso de Ash, e vislumbrar seus olhos por trás do que os pesados óculos escuros agora mostravam. Ele lhe entregou a caixinha, o sorriso ainda ali intimidador no ponto certo, capaz de prender completamente a atenção da garota.

_Acho que isso é seu. – Ele entregou se demorando ao tocar a mão dela por um instante.

_O-o-obriga-da. – Ela gaguejou ainda sem desviar os olhos do conjunto de detalhes tão atraentes aglomerados em um único cara. Os olhos cinzentos tão claros, o sorriso quase cínico de lado em uma boca tão rosada, os traços finos e maxilar marcado. – É... eu-eu sei, Mamadi. É a festa do bem contra o mal. Os demônios estão a solta... – ela perdeu o ar quando ele se aproximou a olhando um pouco mais de perto agora, ele parecia se divertir com o que causava.

_Prazer, me chamo Ash. – a língua dele discretamente roçou o canto do lábio superior quando sorriu agora e ela arfou.

_Me me me meme- – o celular baixou um pouco em sua mão, deixando uma mãe indiana nervosa aos gritos com os preparativos de algo que parecia importante.

_Deixa eu adivinhar. – ele se inclinou com as mãos nos bolsos do jeans, os olhos percorrendo descaradamente o corpo da garota de pele tom de chocolate e sorriu agora mais intimidador e predatório. - ... Sara. Seu nome é Sara.

Os olhos da garota se arregalaram e ela só soltou a respiração quando precisou dar passos pro lado pra algumas pessoas passarem. Ela estava enfeitiçada agora, Ash sabia e adorava aquele jogo, e por Deus... ele poderia joga-lo o dia todo.

_ASH! Dá pra me ajudar aqui?! – Ava exclamou do meio de uma multidão de pessoas, reposicionando uma mochila pesada nas gostas enquanto equilibrava uma pasta de projetos nas duas mãos. - Mas, que saco!

Ele ergueu os olhos na direção de Ava enquanto Sara ainda encarava seus braços expostos orgulhosamente sobre a regata preta. Ele suspirou e voltou a olhar a menina que corria os olhos em todas as direções agora, piscando várias vezes um pouco sem jeito. Ash ajeitou os óculos de volta ao lugar antes de começar a andar devagar de costas e ainda a encarando por alguns passos, ele mordeu os lábios sorrindo pra ela. Tinha ganhado a partida, sábia.

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