Capítulo 7 - Você é péssimo de manhã.

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 O Uber deixou Ava a alguns metros da oficina. Ela conferiu o valor mais uma vez antes de entregar e agradecer, saiu do carro equilibrando um copo de café quente, a mochila verde militar nas costas e o celular com as chaves que tinha esquecido de guardar. Ela bebeu outro longo gole antes de começar a andar novamente pela calçada, enfiando como conseguia o restante das coisas na bolsa ao lado do corpo.

As vezes ela se esquecia de como aquele bairro era grande, ela sentia como se tivesse atravessado toda a cidade, quando na verdade só saiu de casa comprou um café e decidiu que precisava esticar as pernas antes de finalmente seguir pra o escritório da agência.

Como se tivesse marcado horário, as pesadas portas de metal rangeram quando começaram a rolar pra cima, se abrindo. Como se elas se espreguiçassem pra começar mais um dia. Ava preparou o sorriso mais imponente que tinha, inflou o peito preparada para se gabar; seria ótimo mostrar pra ele que ela tinha sido tão preparada, organizada e ...

_E ai? Posso ajudar, senhora? – Um cara franzino e com grandes olhos encarou Ava, limpando as mãos empoeiradas no macacão.

_Han, Não. – Um silêncio desconfortável se instalou enquanto ele fez uma leve careta imaginando que tipo de maluca Ava era. – Ash. Preciso do Ash... Essa é a oficina dele, né?

_Ah, tá. Claro. – O homem pareceu relaxar um pouco, como se aquilo fosse uma cena costumeira. Mas certamente com varias meninas estrelando o papel que Ava tinha agora. – Sobe lá. Ele tá lá em cima, tu deve saber o caminho né?

Ava franziu o cenho sentindo sua feminista interior resmungar se sentindo desconfortável, pensou, calculou e se virou enquanto andava pra dentro. E o encarou outra vez fazendo questão de mostrar a irritação bem estampada no rosto.

_O que você... – Ela congelou com o sorriso branco demais. E ele era bonito... e mais ainda ele tinha um ar provocativo, seus olhos e o sorriso a deixavam exposta. Ele tinha a sobrancelha falhada mesmo ou aquele risco do lado esquerdo era proposital?

_Ah, desculpa, gatinha. Não me leva a mal, tá. – Ele se apoiou em uma das muitas bancadas, analisando Ava, começando pelas pernas expostas. – É que nem todo mundo tem a sorte que o Ash tem.

Ele riu, aquele sorriso quase cínico e com um toque de malicia. Alguns passos descoordenados pra trás e ela derrubou tantas ferramentas quanto podia, fazendo um barulho estridente que se estendeu tempo demais. Ela puxou por reflexo a barra do vestido claro de verão e respirou fundo inflando o peito, o encarando de volta.

_Não me chame de senhora. Não sou sua mãe. – Ela virou decidida e saiu batendo o pé. Não havia decido exatamente o que sentir sobre aquilo, ela só precisa sair o mais rápido possível dali.

Subiu as escadas dos fundos do lugar batendo os pés enquanto tentava controlar a respiração e acalmar o calor ardente no rosto. Ajeitou a trança pesada que caia sobre o ombro direito e bateu na porta algumas vezes.
Nada.
Ela repetiu o movimento e dessa vez só anunciou que estava entrando, puxando levemente a porta alguns centímetros pra cima antes de conseguir abri-la de fato.0

_Eu morri, não enche meu saco. – Um bolo de travesseiros e cobertores se remexeu na cama no centro e aos fundos da casa de um cômodo só. – Eu já avisei que só vou descer as nove.

_Alguém já te falou que são sete e cinquenta e seis? – Ela entrou fechando a porta atrás de si mesma com a bunda e os pés, como podia. – Além, disso... você precisa concertar essa porta, é um cocô abrir isso aqui com as mãos ocupadas.

O rosto amassado de Ash emergiu do mar de lençóis e fitou Ava com apenas um dos olhos abertos. Ele caiu outro vez logo em seguida soltando o corpo como se apenas desistisse de segurar o próprio peso. Segundos depois ela já estava chegando à cama e se sentando na beirada inferior. Ash refez os mesmos movimentos e seu cabelo bagunçado a fez rir, parecia um emaranhado de linhas e folhas soltas.

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