_ Você tem certeza que ainda tem isso? - Ash analisa a bancada de trabalho de Matheus, canetas, cadernos, e um completo caos em torno do pequeno computador com cálculos matemáticos por todos os lados em post it. Os braços se esticando pra trás e repousando no encosto da cabeça.
_Cara. Eu tenho. Relaxa, confia aí. Dois minutinhos. Relaxa essa bunda e me espera. - Ele falava de dentro do extenso closet, a voz saindo abafada pelo mundo de roupas emboladas que desbravava. - Eu sei que tenho, só não sei onde está. Eu lembro que a última vez em que usei, eu tava... ACHEI! - Ash ficou em alerta, mas antes que andasse quaisquer passos, parou. - Minha camisa do Super Patos, porra! Tava procurando a meses.
_Matheus, foco. Caralho! Já são 16:45 não tenho muito tempo sobrando. - ele desmoronou na cadeira outra vez.
_Eu sei, eu sei. Acende um aí pra gente que eu já acho essa porra. - Ash encarou o teto e deixou o corpo pesar na cadeira a fazendo inclinar alguns graus.
_Matheus, a mãe pediu pra você buscar o... - uma voz feminina entrou no quarto bagunçado. Assim que Fernanda viu Ash na cadeira do irmão enrijeceu o corpo todo. Os olhos ainda estavam perdidos quando o silêncio chamou atenção. Matheus saiu aos tropeços pela porta pequena.
_O que? Buscar o que?! - Ele saiu tenso, olhos atentos no amigo e na irmã e com algumas calças penduradas pelo ombro. - Fernanda! Alôuuu! Buscar o que?
_Pasta de atum... pro... - ela ainda olhava pra Ash, sentado gloriosamente sob a penumbra misteriosa do fim de tarde, a cadeira se movendo delicadamente pra esquerda e direita, os olhos cinzentos e intensos sobre ela. A luz dourada lhe conferindo uma aura quase celestial, ou mais apropriadamente demoníaca.
_Tá. Tá! Já entendi. Busco em cinco minutos! - Matheus entrou na frente da visão dela, puxando a atenção da irmã pra si mesmo com um estalar de dedos. - Ei! Você, fora! - A menina mal evitava a queimação no rosto quando saiu pela porta com risinhos contidos, Matheus se virou apontando o dedo acusativo para Ash que ainda relaxado tinha um sorriso debochado se formando - e você! Controla essas calças, ela tem 16.
_Cacete, Matheus... ela é uma criança. Vai se ferrar. Não sou um doente. - Um cubo mágico agora começou a rolar pelos dedos de Ash que se inclinou na cadeira, apoiando os braços nas pernas.
_Acho bom. Eu preciso sair dessa casa, tá mais do que na hora. - Ele mergulhou outra vez no closet amplo. - Se tudo der certo eu alugo aquele apê do centro até o meio do ano que vem. Já tô com o dinheiro do contrato, só preciso terminar de juntar pros móveis.
Ele saiu do closet finalmente segurando uma embalagem grafite dependurada em cabide de madeira. Ash suspirou ficando de pé, Matheus parecia equilibrar a peça na direção do amigo, como se tentasse medir visualmente se aquela forma amassada e misteriosa realmente serviria em Ash. Ele ainda achava que Ash tinha mais altura, mas era isso ou alugar em uma loja cara e ele definitivamente não iria querer isso, já que o pouco dinheiro estava sendo dividido entre tantas outras coisas para aquela noite. Ash pegou o cabide e analisou sob a luz do sol, tentou cheirar, mas voltou no meio do caminho coçando um pouco o nariz.
_Meu Deus do céu. - Ele apertou os olhos segurando um espirro.
_Eu te avisei que a ultima vez que usei isso foi no velório do meu tio avô Brenner. - Agora era Matheus quem se jogava contra a cadeira, pescando um maço de cigarros na mesa e um isqueiro verde. - Ele tá inteiro, dá pra usar.
_Você podia ter falado que ele tinha sido enterrado aqui dentro antes de dizer que ia me emprestar essa porra. - Ash desceu o zíper e se arrependeu instantaneamente. - Cacete...
_Que exagero. Maluco, você é maluco. - Ele tragou profundamente fazendo a ponta avermelhar como uma brasa viva. Logo em seguida esticou o cigarro pro amigo. - É só tu deixar ele fora da capa respirando por umas horas e espirrar um perfume ou sei lá.
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A Melhor parte de mim.
RomanceTalvez o amor se mostre pra você de formas diferentes do que se espera. Talvez ele não seja obvio, talvez venha de onde menos se espera, ou mesmo de muita persistência. O amor gosta da surpresa, do olhar que não se deixa, da pele arrepiada, da vonta...