Capítulo 20 - Cadeados emocionais e suas chaves.

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 Devia ser a terceira vez que aquela música do passarinho se repetia e todas aquelas pessoas claramente alteradas pelo álcool se contorciam na pista de dança. Olhando de fora realmente era deprimente o efeito de alucinógenos em pessoas velhas. Ah sim, e em Ava também. Já que ela estava no centro do grupinho dançando com duas senhoras animadas com pompons coloridos no pescoço. Ele se remexeu na cadeira e cutucou o pedaço de bolo com o garfo nas mãos.

_Só assim pra te achar, seu moleque. – a voz familiar fez Ash virar por reflexo. O Sorriso Largo de Leandro o fez se levantar por reflexo. Um abraço apertado no primo distante, mas que ocupava grandes partes das memórias felizes infantis. – É serio... Por onde você tem se escondido?

_Pela capital. O lugar que você sempre teve medo de conhecer. – as mãos do mais velho no rosto de Ash agora, analisando saudoso. Não demorou até os dois se sentassem e Leandro afrouxasse a gravata que usava.

_Ah, você sabe como é. A vida mais simples sempre foi a minha, principalmente depois que casei. – Ash observava sorrindo. – E depois que a Lala nasceu então, nem pensar. Tenho mil coisas pra fazer aqui.

_Ah sim, claro. Você precisa cuidar da... Lala. – Ash bebeu mais da taça de suco de uva verde. Leandro estreitou os olhos.

_Não sabe o nome da minha filha né, seu pilantra?

_Ué. Sei sim. La... La. – eles riram.

_Lavínia. É Lavínia pra você saber agora pelo menos. – eles riram amistosos. – E você? Já casou com a... como era mesmo o nome da ultima? Fa... Fabiana?

_Fernanda. – Leandro apontou pra ele assertivo, como se disse nas entrelinhas visuais. "Isso ai". – Não, nem pensar. Casar não é pra mim. Mas ela tem um filho agora, com outro cara.

_Que você também não sabe o nome.

_Claro que não. – Ele riu – Cidade grande, Cara... As pessoas se orgulham em não conhecer umas as outras.

_Tá. Mas e a Ava? Tô vendo que ela você não perdeu.

_E oque que tem?

_Ué, nada... só fiquei surpreso de não ter colocado de escanteio também. – eles observavam a menina na pista de dança agora. Ash segurou a vontade involuntária de sorrir e franziu o cenho fitando a mesa. – Se bem que com esses peitinhos, eu também não me esqueceria.

_Cara, você é um pai de família. Não seja nojento. – Ash resmungou das cutucadas de Leandro que se contorcia em risadas pesadas. – Você tem filha, nunca se esqueça disso.

_Porra, nem brinca com isso, Ashington. – ele pareceu perder a graça instantaneamente. – Mas sério? Vocês já assumiram esse lance do namoro ou ainda nem?

_Que?! Que porra de lance de namoro? Do que tu tá falando? – Ash sacudiu a cabeça.

_Ah vai, vocês ficam grudados desde crianças já deu mais que tempo de trocarem uns beijinhos. Só falta vocês se assumirem hein, hein... – Ash sacudia a cabeça negativamente quando levantou e se preparou pra sair dali.

_É, você é oficialmente um tiozão com piadinhas de baixo calão e péssimo gosto. – Leandro ainda ria com Ash ao seu lado amistoso. – Você é oficialmente um pai de família, Leo. E eu tô vazando de você. Vou te ensinar algo antes de voltar pra cidade grande, homens e mulheres também podem ser amigos, sabia? Só amigos.

Os dois riram enquanto Ash se esquivou de receber mais felicitações por algo que não era dele ou pra ele. Saiu de fininho nos cantinhos até encontrar um caminho afastado a vista, se segurou na beirada de uma mesa e observou o local. Todas pessoas felizes, Lilian e Carlos ao centro dançando lento uma música agitada, Ava ainda ria e se balançava com algumas crianças ao redor dela que giravam brincando. Ela com certeza ficaria bêbada demais, ainda mais se girasse tanto, ele sabia. Ela segurou as pontas de um dos lados do vestido reverenciando um dos pequenos em um terninho preto e saiu dançando com ele, os cabelos em sintonia. O sorriso iluminado pelas luzinhas de festa parecia brilhar mais que o normal, parecia o chamar. O peito apertou em gratidão. Ash não acreditava em Deus. Mas naquele momento, naquele suspiro ele agradeceu ao que fosse que tivesse criado ela. Criado aqueles olhos, o sorriso e o cabelo engraçado e grande demais. Os pés descalços e a forma como ria quando estava meio bêbada.
 Leandro sorria o encarando do outro lado do salão, Ash se ajeitou nos dois pés outra vez. Ajeitou a gola da camisa azul escura outra vez e antes disso mostrou o dedo do meio pra ele que explodiu em uma gargalhadas em meio a música alta.

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