Ellen ━━ Emiliano Rigoni

Prólogo

𖧹

Ellen Rivera soltou um gemido de satisfação quando deu um trago em seu cigarro, relaxando o corpo no mesmo instante em que soltou a fumaça para cima, fechando os olhos por alguns segundos e sentindo aquilo a acalmar como sempre, junto com a brisa leve que atingia seu rosto na janela. Os dedos ainda estavam levemente trêmulos, o que, consequentemente, fazia o cigarro preso entre eles também se balançar um pouco, mas ela já estava acostumada.

Repetiu o ato de poucos segundos atrás, levando o cigarro até a boca e puxando o quanto pôde, segurando e depois soltando, encarando o bairro que morava da janela de seu apartamento e pensando nas palavras da dona do imóvel:

— Você tem três semanas para pagar todos os meses de aluguel que está me devendo, se isso não acontecer, está despejada!

Rangeu os dentes ao lembrar que a mulher insuportável só faltou cuspir na cara dela ao falar.

Ellen sentia-se como o seu Madruga, devendo quatorze meses de aluguel e enrolando mais sempre que podia, até porque não tinha dinheiro nem para comprar alguma coisa para comer. Sua geladeira tinha uma jarra de água e um limão seco e amarelado na porta, próximo a um tubo de cola super bonder pela metade.

Felizmente ainda conseguia comprar cigarros para se acalmar.

Sentiu as mãos tremerem mais uma vez e apertou uma delas na própria perna, voltando a tragar o cigarro e ouvindo o som do seu aparelho celular tocar. Se afastou da janela após soltar mais fumaça e caminhou até o aparelho, o alcançando sobre sua cama bem arrumada e atendendo ao ver o nome de uma amiga na tela.

— Ellen, tenho uma festinha para nós duas! — Disse animada e a morena não resistiu e revirou os olhos. Amava Karine, mas não conseguia entender como a amiga gostava tanto de ir a festas. — Se arruma e vamos!

— Essa sua festa vai fazer eu faturar oito mil reais para pagar o aluguel? — Perguntou, levando o cigarro até a boca mais uma vez. — Não tenho dinheiro para festa, Karine. Aliás, eu não tenho dinheiro para nada e estou a um passo de ser despejada do meu apartamento caído. — Contou e olhou ao redor.

O apartamento que continha apenas três cômodos: uma sala, que também era uma cozinha, um quarto e um banheiro, não era o melhor e mais luxuoso lugar do mundo, mas era um teto. Ela não passava frio, nem tomava chuva ou Sol ali dentro, e aquilo era mais do que suficiente para Ellen.

— Vamos viver o hoje, Ellen! — Ela gritou. — Amanhã pensamos nisso de você ser despejada ou não. Manda essa mulher para a puta que pariu e vem para a minha casa, vamos curtir a noite inteira e esquecer dos problemas.

— E você tem problemas? — Riu, porque sabia que para a amiga não havia tempo ruim.

— Não, e sabe o por quê? — Fez uma pausa. — Exatamente, festas!

. . .

Um palavrão escapou por entre os lábios de Ellen e ela bateu o isqueiro na palma da mão algumas vezes, tentando o fazer funcionar novamente.

— Achei que você tivesse parado. — Ouviu alto por conta da música e olhou para a amiga, que dançava animadamente bem na sua frente, com um sorriso largo no rosto e os olhos vermelhos. Ellen presumia ser de tanta bebida alcoólica, já que Karine não saiu do seu lado em momento algum para usar qualquer outra droga que pudesse facilmente ser encontrada naquela festa.

— Fiquei nervosa hoje. — Explicou brevemente e a amiga mudou o sorriso para um mais leve, balançando a cabeça em um aceno para dizer que entendia. — Você tem? — Perguntou gritando, mostrando o isqueiro.