Cinquenta e Três

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𖧹

Com um suspiro cansado e fundo, Ellen segurou no corrimão de mais um lance de escadas que subia e parou no meio do caminho, olhando para cima e se perguntando se ela desejava mesmo chegar até o escritório que ficava no último andar. Apoiou uma das mãos na barriga e acariciou, mesmo que estivesse sentindo vontade de brigar com o bebê que carregava há cinco meses por estar a deixando tão pesada.

— Pedacinho, acho que não chegaremos lá hoje. — Avisou. — E a culpa é toda sua. — Acusou e cutucou a barriga coberta pelo tecido do vestido larguinho que usava.

Desviou a atenção daquela parte do seu corpo ao ouvir uma porta se abrindo e logo viu um dos jovens que morava no prédio aparecer no topo da escada. O garoto franziu o cenho e a encarou, parando onde estava.

— Encalhou aí, tia?

— Você me respeita, hein, garoto?! — Resmungou e ele riu, descendo os degraus até chegar perto dela e oferecer a mão.

Ellen aceitou e subiu mais um degrau, ficando ao lado dele.

— Vem, vou te ajudar a subir. — Falou. A morena agradeceu baixinho e terminou de subir o lance de escada, se encostando na parede próxima ao apartamento que o menino morava e respirando fundo. — Quer uma água? Eu pego pra senhora. — Ofereceu e viu a mais velha negar com a cabeça. — Olha, tia, eu acho que o seu marido não vai gostar de saber que a senhora tá subindo essa escada mais de duas vezes no dia, hein? — Comentou.

— Se você não contar, eu também não conto. — Disse Ellen, dando de ombros, o olhando. — E é claro que você não vai contar. — Levantou as sobrancelhas.

— Jamais faria isso. — Sorriu cínico e recebeu um tapa fraco no braço que o arrancou uma risada. — Precisa de mais alguma coisa?

— Para onde estava indo? — Indagou curiosa. O garoto riu nervoso e coçou a nuca. — Vinícius... — Falou em um tom sério e o viu suspirar e desviar o olhar. — Querido, achei que você tivesse parado de usar aquilo. — Comentou baixo e tocou o rosto dele. — Você quer conversar?

— Não é fácil parar. — Murmurou. — Eu estava indo comprar um.

— Sei bem que não é fácil, eu tive que parar com o cigarro, lembra? — Recordou. — E eu te juro que em algumas situações ainda sinto vontade de fumar e sentir aquela falsa sensação de relaxamento, mas então eu lembro de todos os motivos de ter parado. — Sorriu levemente e ele suspirou novamente. — Vamos subir, vai. Você me ajuda a chegar até o escritório e nós vamos conversando sobre isso, é bom que você se distrai um pouquinho.

— Eu sei que a senhora só está querendo minha ajuda pra subir as escadas, dona bola. — Brincou.

— Você tá ligado que um empurrão que eu te der você se quebra todo nessa escada, não tá? — Ameaçou e o garoto riu mais, oferecendo o braço dele para ajudar Ellen e iniciando a caminhada até o escritório da dona do prédio e do projeto que o acolheu.

Ellen Rivera não podia estar mais realizada com seu projeto, tudo estava indo perfeitamente bem e como planejado, e diversos jovens já haviam sido acolhidos ali, tendo a oportunidade de uma vida melhor do que antes. A mulher conseguiu mais parcerias e garantia de que cada um continuasse os estudos e, talvez, arrumassem um trabalho, e pelo que via e ouvia, eles estavam bem felizes em estar ali.

Ellen ━━ Emiliano RigoniOnde histórias criam vida. Descubra agora