Ellen ━━ Emiliano Rigoni

Quarenta e Quatro

𖧹

Os créditos finais de mais um dos filmes infantis escolhidos pelas crianças e assistidos por toda a família começou a passar na tela da grande TV e Ellen suspirou cansada, desviando a atenção de lá e olhando para Fran, que estava com a cabeça apoiada nos peitos dela e já dormia profundamente, resmungando algumas vezes e se remexendo em busca da melhor posição. Gio, do outro lado da cama, não estava diferente, porém se encontrava deitado sobre a barriga do pai, em sua posição favorita, recebendo o carinho lento de Emiliano nas costas.

— Eles nunca terminam de ver os filmes. — Murmurou a morena, chamando a atenção do jogador para ela, que continuou olhando para Fran, analisando o rostinho da menina e acariciando levemente.

— O sono sempre fala mais alto. — Sorriu ele, observando as duas até completar: — É engraçado o quanto o gênio dela se parece com o seu. — Comentou Rigoni, arrancando um riso baixo de Ellen. — Olha tudo o que ela disse hoje para a Luciana, sem gaguejar, sem parecer insegura ou com medo de ser repreendida após terminar... falou melhor do que eu. — Sussurrou e a namorada riu novamente.

— Ela é uma garotinha muito inteligente. — Afirmou com carinho e sorriu boba. — Você acha que ela também vai me chamar de “mamãe”, amor? — Perguntou baixinho.

— Você quer?

— Ah, eu quero. — Sussurrou e o olhou. — Não tem problema para você, não é? Como disse aquilo na cozinha, imaginei que...

— Eu não vejo problema nenhum, mi amor. — A interrompeu com cuidado e sorriu. — Você cuida muito bem deles dois e já está mais do que óbvio o quanto eles te amam. Se eles estão confortáveis em te chamar de “mamãe” e você não se importa com isso, então está tudo bem. — Afirmou.

Ellen sorriu largamente e voltou a olhar para Fran, então o sorriso em seu rosto se fechou e ela franziu as sobrancelhas em preocupação. Rigoni ficou confuso ao vê-la com os olhos cheios de lágrimas.

— Amor?

— Será que eu vou ser uma boa mãe? — Sussurrou ela, o olhando.

— Claro que vai, mi bien. — Respondeu rapidamente, estranhando o questionamento repentino. — Por que não seria? Você é incrível em tudo. — Completou.

— É que eu não tive uma. — Falou baixo, olhando para ele e puxando na memória todas as coisas que sua mãe a disse e fez. — Não faço a mínima ideia de como é ser mãe, ser responsável por duas crianças que vão se espelhar em mim para muitas coisas, ou o que devo ou não fazer, o que...

— Você já sabe muito bem o que não deve fazer, Ellen. — Disse e ela respirou fundo, com os olhos marejados.

— Eu não quero ser uma mãe ruim, Emi. — Falou quase chorando.

O jogador sentiu o próprio coração se apertar e segurou Gio com mais força, levantando da cama e dando a volta, chegando do outro lado e deitando no pequeno espaço disponível perto de Ellen, que até tentou se afastar um pouquinho, mas ouviu Fran resmungar e desistiu para não a acordar. Sem contar que ter Emiliano tão pertinho a fazia muito bem.

— Amor, você não é e jamais será uma mãe ruim. — Afirmou baixinho, sem desviar os olhos dos dela. — Lembra quando chegou aqui? As crianças estavam totalmente desconfiadas de você, principalmente a Fran, que até te deu um banho de tinta. — Riu ao se lembrar e Ellen o acompanhou, deixando a preocupação um pouquinho de lado. — E você conseguiu conquistar eles bem rapidinho, sendo você mesma, cuidando de cada um com bastante carinho e dando mais atenção do que eu mesmo dava. — Sussurrou.