Três

2.2K 177 124
                                    

𖧹

— Estou fudida!

— Sorte a sua. — Murmurou Karine, concentrada em tirar o esmalte das unhas dos pés, enquanto Ellen andava de um lado para o outro na sala do próprio apartamento há alguns minutos. — Eu não fodo há semanas. — Resmungou. — Minha buceta já está com teia de...

Se interrompeu ao levar um tapa leve na cabeça e murmurou um “ai!”, olhando para a amiga.

— Não faz a sonsa, você sabe que não é nesse sentido que estou falando! — Disse e se jogou ao lado dela no sofá, tombando a cabeça para trás e encarando o teto, lembrando dos acontecimentos do dia e cruzando as pernas ao lembrar do olhar de Rigoni em seu corpo. — Ka, ele mora lá. Ele é o dono da casa, pai das crianças e me contratou no mesmo instante para ser a babá dos filhos dele.

— Acho que ele te contratou querendo que você seja a babá dele. — Riu a loira. — Já vi um filme onde umas garotas diziam ser babás, mas na verdade eram garotas de programa e pegavam os pais das crianças. Você está nessa vibe.

— Eu não estou em vibe nenhuma! — Resmungou. — Só preciso cuidar bem daqueles dois, pegar o meu dinheiro e pronto, depois posso procurar outro emprego.

— Querida, o Brasil está em crise, você sabe, não é? — Perguntou Karine, olhando para Ellen. — Emprego tá difícil de achar.

— Ah, e você quer o que? Que eu fique na mesma casa que aquele homem tendo que controlar a vontade enorme que sinto de transar com ele outra vez? Não consigo parar de lembrar um minuto se quer daquela noite e conviver com ele só vai fazer a vontade e os pensamentos aumentarem, Karine. Eu vou surtar naquela casa em três dias ou menos! — Falou exasperada e passou as mãos no rosto com certa força.

— E quem falou em controlar a vontade? — Karine riu baixo, voltando a atenção para as unhas. — Tem é que saciar ela.

. . .

Após respirar fundo pela terceira vez, Ellen entrou na casa onde trabalharia, dando de cara com Magdalena, que estava no meio da sala em sua pose ereta e os braços para trás, assim como costumava ficar. Ellen engoliu em seco, fechando a porta atrás dela devagar. Não costumava se sentir amedrontada por ninguém, mas a expressão séria no rosto da senhora era facilmente capaz de fazê-la estremecer.

— Bom dia, Magdalena. — Cumprimentou com a voz baixa.

Buenos dias, Ellen. — A mais velha respondeu e apontou para a poltrona, onde tinha uma roupa dobrada. — Providenciei o seu uniforme, assim não você não gasta as próprias roupas. — Falou. — As crianças ainda estão dormindo, mas não vai demorar muito para levantarem. Já te passei toda a programação deles, então creio que saiba o que fazer.

— Sim. Eu li todas aquelas folhas mais de três vezes, gravei tudo. — Afirmou. — Vou me trocar. Licença. — Pediu e pegou o uniforme, mas não saiu do lugar, olhando confusa para a casa, sem fazer a mínima ideia de onde ir. Voltou o olhar para Magdalena, que tinha um cantinho dos lábios puxados em um sorrisinho divertido.

— Gostaria de conhecer a casa, Ellen? — Magdalena perguntou e ela confirmou com a cabeça. — Vou te levar até o banheiro para se trocar e então apresento o resto da residência.

— Está bem.

Seguiu Magdalena pela casa, até chegarem a um banheiro. Ellen entrou no cômodo e trancou a porta, retirando a roupa que usava e colocando o uniforme, se olhando no espelho e deixando seu queixo cair.

— Não uso isso nem fudendo. — Sussurrou.

Estava ridícula. A calça era folgada demais, a blusa muito grande e o jaleco — que fez Ellen se perguntar quando havia se formado em medicina — cobria até quase o seu joelho, sem contar na péssima escolha de cor. Rosa choque não era, nem de longe, a coloração que mais combinava com ela.

Ellen ━━ Emiliano RigoniOnde histórias criam vida. Descubra agora