Cinco

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𖧹

O único som presente na sala de estar eram os soluços baixos de Fran, que estava agarrada à Magdalena, sendo confortada com carinho e palavras de apoio, enquanto Ellen, de pé no meio do cômodo, segurava a vontade de revirar os olhos pela quinta vez seguida, observando toda a cena. Gio estava sentado no outro sofá, olhando atento ao que estava acontecendo, sem fazer ideia do que realmente era aquilo tudo. Ainda não tinha entendido nada.

Quiero mi papa. — Choramingou Fran.

— Querida, seu pai está no trabalho. — Magdalena disse cuidadosa. — Não tem como ele vir até você agora.

— Fran, chega de drama, não é? — Disse Ellen, recebendo o olhar duro da governanta e o de ódio da menina. — O sapo não fez absolutamente nada com você, foi só um susto. Se você não tivesse me dado um banho de tinta ontem, eu não teria colocado um sapo na sua barriga hoje de manhã. — Levantou e abaixou os ombros.

— Quantos anos você tem, Ellen? — Magdalena perguntou irritada. — Uma mulher adulta como você agindo como uma criança de sete anos como a Fran!

— Agi igual para ela aprender que aqui se faz, aqui se paga. — Falou.

— Ela é só uma criança!

— Uma criança mimada! — Retrucou. — Eu preciso muito da merda do dinheiro desse trabalho, mas não é por isso que eu vou aturar uma criança mal educada, que não sabe aceitar que precisa de alguém adulta e responsável para cuidar dela durante o dia, me fazendo pegadinhas idiotas. — Disse rápido e ao terminar respirou fundo, apertando as mãos, que, sem novidade alguma, já estavam trêmulas. — Meu trabalho é mantê-los vivos e, pelo que vejo, eles estão, então está tudo bem. — Completou mais calma.

Magdalena negou devagar com a cabeça, voltando a consolar Fran e resmungando “Ele não me escutou e olha só...” em espanhol.

Respirando bem fundo, Ellen caminhou até o canto da sala e pegou a bolsa dela, saindo da casa do jogador e andando até alcançar a calçada do condomínio, revirando rapidamente a bolsa à procura do cigarro, não demorando a pegar um do maço e prender entre os lábios, usando um isqueiro para acender. Se sentou no chão e puxou a fumaça, segurando ela por alguns segundos e suspirando ao soltar, tentando se acalmar.

— Gio gosta de sapinho. — Ouviu e franziu o cenho, olhando para trás e encontrando o filho de Rigoni na frente da casa.

— Na próxima vez eu coloco um na sua cama, então. — Falou Ellen, voltando a encarar a rua e colocando o cigarro na boca mais uma vez, mesmo que tivesse garantido para Rigoni que não faria aquilo na frente dos filhos dele.

— Legal! — Ele comemorou sobre o sapo e se aproximou dela, sentando ao lado da babá e encarando o cigarro. — Isso não é do mal? — Murmurou.

— Sim. Nunca use.

— Tá bom. — Deu de ombros. — Pu quê bololeta usa se é do mal?

— Porque me acalma. — Respondeu e olhou para Gio, que a encarava com os famosos olhinhos curiosos de uma criança. Ellen respirou fundo novamente e apagou o cigarro em seguida, o guardando para outra hora. — O que acalma você, Gio? — Indagou e o garotinho olhou para o céu, parecendo pensar em uma resposta.

Ellen ━━ Emiliano RigoniOnde histórias criam vida. Descubra agora