01 | Novo Lar

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BRIAN BROOKS
𝟬𝟮 𝗱𝗲 𝗔𝗴𝗼𝘀𝘁𝗼, 𝗗𝗼𝗺𝗶𝗻𝗴𝗼

— (...) Três mil e setecentos, três mil e oitocentos, três mil e novecentos, quatro mil. Perfeito — a locadora da casa conciliou ao terminar de contar o dinheiro dos aluguéis atrasados que eu acabara de lhe entregar.

No mesmo instante em que a ouvi satisfeita, soltei um pequeno suspiro aliviado e senti os meus ombros, que antes estavam bem tensos, darem uma leve relaxada.

Consegui, porra!

Depois de vender todos os móveis da casa, trabalhar de motorista particular por semanas e em seguida trocar o carro por outro muito mais velho, com um adicional de oitocentos dólares, finalmente consegui quitar a dívida que tinha com a Sra. Gibbons.

E apesar de ainda ter outro débito muito maior para saldar, a sensação de desafogo que esse fato, de não dever mais nada a ela, me trazia era surreal de boa.

Só de saber que não teria mais a necessidade de atura-lá todo santo dia, me cobrando ou desferindo ameaças de despejo por simplesmente não ligar para minha antiga situação de luto, me fazia sentir uma imensa paz.

— Aqui — disse unicamente para ela na hora que, após guardar no carro a última caixa faltando, me aproximei para enfim devolver-lhe a chave do seu imóvel.

Estava pronto para partir em direção ao novo lar onde moraria, e como pegara um certo abuso da sua pessoa, principalmente por conta da completa falta de empatia que demostrou em relação ao acontecido com minha mãe – uma mulher que conhecera por quase dezoito anos – nem me dei o trabalho de sequer agradecer
pelo grande tempo de alojamento oferecido a mim
e a dona Lilian, ou ao menos quis proferir uma
simples despedida educada.

Coloquei somente o objeto metálico em suas mãos, lancei um pequeno aceno com a cabeça, aludindo um "adeus" e em seguida lhe dei as costas para então ir
até o trambolho que atualmente chamava de: meu
carro.

Antes de conseguir abrir a porta do motorista, a ouvi soltar uns resmungos e muxoxos, reclamando da minha atitude "mal-criada", porém, não me importei. Se tivesse achado minha postura ruim e grosseira, que se fodesse. Depois de todo tratamento insensível e escroto que me ofereceu apenas por conta de dinheiro, não era nada
que ela não merecia.

Após colocar o cinto e ligar o carro, cujo motor mais parecia uma máquina de costura com tanto tec tec tec que fazia, comecei a dirigir em direção a cidade onde
se localizava a residência do meu pai – minha nova residência.

Ficou acertado que agora passaria a morar com ele devido aos fatos de: eu não saber mais conviver com as lembranças que a outra casa despertava, não conseguir mais aguentar toda sovinice fodida da Sra. Gibbons e não poder mais gastar um centavo até saldar a dívida médica que adquiri pelo falecimento da minha mãe.

Trinta mil dólares.

Era o que tinha para pagar de UTI e exames, já que não possuíamos condições de manter um bom convênio ou plano de saúde.

No início, papai quis tomar para si toda responsabilidade de arcar com os boletos. Tudo porque não queria me ver abandonando o colégio para focar completamente em um trabalho, a fim de fazer isso.

Para ele, era importante que eu concluísse os estudos e entrasse na Universidade do Arizona com uma bolsa esportiva para football.

Tinha o desejo de me ver usando a camisa dos Wildcats, já que nunca conseguiu.

Por tudo que ele fez e já fizera por mim, essa acabou se tornando a minha maior vontade também – mais por ele do que por mim – e antes de toda essa merda acontecer, vinha me esforçando bastante para conseguir.

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