02 | A Proposta

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ALINA HAMILTON
𝟭𝟱 𝗱𝗲 𝗔𝗴𝗼𝘀𝘁𝗼, 𝗦á𝗯𝗮𝗱𝗼

Quando o visor do meu MacBook acendeu e o alarme, indicando uma nova chamada de vídeo, ressonou, pausei rapidamente a série que assistia na Netflix e corri até a mesa de centro da sala para atender.

Antes que o garoto branco, rechonchudo e de cabelos escuros, o qual surgiu por detrás da tela, tivesse a chance de apresentar seu nome, pedi de forma afobada e ansiosa para que cantasse de imediato, afinal as suas informações pessoais só me seriam realmente importantes se ele ao menos conseguisse atender a todos os requisitos vocais que procurava.

Após soltar um pigarro e fechar os olhos com uma certa dramaticidade, o garoto começou a vocalizar...

E, assim como das quarenta e seis vezes que ocorrera somente esse mês, minhas expectativas morreram em menos de trinta segundos com isso.

Aquela criatura, além de optar por Justin Timberlake, quando na descrição do vídeo-chat havia solicitado para executar uma música de alguém que possuísse grande extensão vocal, trauteou o começo de "Cry Me A
River" da pior maneira possível.

Ainda deixou sua webcam ficar completamente revestida de perdigotos, devido a uma tentativa horripilante de beatbox que começara.

Valei-me, Senhor!

Sem educação e saco para continuar vendo mais daquilo, tratei de fechar imediatamente a chamada, bem como bloqueei sua conta no site para não arriscar perder tempo novamente caso ele tentasse outra
oportunidade.

Em seguida, fui até a minha lousa móvel, localizada no canto da sala, e anotei que assistira mais uma "audição"
– a centésima nonagésima oitava em noventa dias – só que, continuava sem achar o garoto que tanto precisava.

Desde quando soube da gratificante mudança do meu antigo parceiro de teatro para Londres, comecei a
buscar incansavelmente por outro.

Um que obtivesse talento o suficiente para substitui-lo
e estivesse disposto a me ajudar no musical do colégio, uma vez que só assim conseguiria alcançar a bolsa de estudos que tanto almejava.

Fazia três meses, entretanto, que eu estava nisso, e até agora nada. Nem sombra de localizar esse bendito
solista salvador.

Como não tinha muitos amigos e não podia contar com o auxílio da maioria dos garotos da escola, decidi realizar essa procura por um site específico na internet.

Isso sem cogitar a possibilidade de tudo ser um imenso fracasso, igual estava sendo.

Mesmo que tenha restringido minha página e descrito claramente os meus interesses nela, tais como: todas as condições vocais e verbais que o rapaz deveria ter; só estava me aparecendo candidatos fracos e ruins como esse último, ou como o nojento da semana passada,
que somente iniciou a chamada com intuito de me
falar sacanagens e mostrar seu pau deformado.

Ainda estava ofertando dez mil dólares para quem topasse, além do pagamento total das despesas de viagem e estadia, caso o cidadão não morasse aos redores de Pipe Village..., mas, mesmo com isso, não surgira ninguém sério ou com talento o bastante
para me salvar.

E eu culpava Simon Samuels, vulgo meu melhor amigo, por essa merda.

Se não fosse ele, junto dos seus conselhos assoladores, me impedindo de colocar em prática a minha primordial ideia de montar um grandioso show de audições, com a imprensa no meio e o valor da recompensa em trinta mil dólares, esse problema já teria sido resolvido há séculos.

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