26 | O Retorno

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ALINA HAMILTON
𝟭𝟰 𝗱𝗲 𝗝𝗮𝗻𝗲𝗶𝗿𝗼, 𝗤𝘂𝗶𝗻𝘁𝗮

— Fora a morte precoce da sua mãe e o distanciamento do seu pai, o que mais te amedronta, Alina? A ponto de fazer o seu emocional se desestabilizar completamente.

A Dra. Fell perguntou com intuito de me fazer retornar para a sessão de terapia, já que havia me desligado e passado tempo demais olhando pela janela do consultório.

A mulher era uma grisalha, de pele preta retinta, com cabelos curtos. Devia estar na casa dos sessenta anos, e sabia muito bem como me despir emocionalmente sem esforço. Tinha iniciado o tratamento há mais de uma semana e só nessa eu já havia acabado com três caixas de lenços de papel, de tanto chorar.

A respondendo sobre o que mais me amedrontava, resolvi soltar o mais óbvio, em um tom fraco e nada seguro:

— Perder os meus amigos e ficar sozinha.

Ela me analisou por um instante, com os olhos castanhos fixados nos meus.

— Por perder você quer dizer eles se afastarem, cortando o contato para sempre?

Assenti, a fazendo continuar:

— Certo! E para se assegurar de que isso não aconteça, você julga ser melhor poupá-los dos seus problemas? Mesmo sabendo que em uma amizade verdadeira é normal a partilha de alegrias e tristezas, sucessos e fracassos, expectativas e desilusões?

Engoli seco.

— Eu só tenho receio de incomodá-los...

— Mas, por que você acha que dividir suas frustrações com seus amigos é um incômodo? Você se incomoda quando eles decidem desabafar com você?

— Não, claro que não! Eu gosto de ajudá-los em qualquer que seja a situação.

— Então por que pensa que com eles isso é oposto? Será que você não está fazendo pouco-caso dessas pessoas?

Fiquei sem consegui lhe responder essa. Apenas fitei seus olhos, esperando que continuasse o seu raciocínio, e ela o fez:

— Se eles se importam com você de fato e entendem o conceito de amizade seriamente, então jamais eles se aborreceriam por você querer dividir suas complicações, pelo contrário, se sentiriam dispostos a prestar apoio e auxílio a pessoa amada, como você faz.

"Agora, se por um acaso eles demonstrarem irritação e falta de vontade em lhe ajudar, então isso prova que não são seus amigos e você deve imediatamente se afastar. Não tem de sentir medo de perder um ser humano que não se importa com os seus problemas, isso é autodestrutivo. Portanto, pelo bem da sua saúde mental, se for o caso dessa condição se suceder, o melhor seria extinguir a presença dessas pessoas na sua vida."

"Não vale a pena se esforçar para manter uma relação se os sentimentos cruciais como consideração e empatia não são recíprocos. E você não precisa encarar isso como uma perda, passível de sofrimento, mas sim, como um livramento."

Depois dessa recomendação, ela continuou a falar sobre os malefícios que o medo excessivo de perder alguém podia causar em uma pessoa. Também pontuou sobre a questão deu sentir necessidade de sempre estar dando presentes caros aos meus amigos, afirmou que isso era outro "método de segurança" que eu tinha para garantir que eles nunca me deixariam.

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