Prólogo

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ERA DOMINGO À NOITE do dia cinco de julho

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ERA DOMINGO À NOITE do dia cinco de julho. Trovoadas fortes soavam no céu e chovia bastante lá fora, embora a presente estação climática fosse verão.

Havia chovido o dia inteiro.

Tudo ficara denso, pesado, frio e nublado por todo tempo... O que parecia combinar perfeitamente com
o péssimo humor do aniversariante em questão.

Cambaleando em direção ao assento estofado da sala, ele ingeriu mais um gole de cerveja, após aumentar o volume da televisão para ouvir com clareza a reportagem séria que passava.

"Detentos fazem rebelião no complexo penitenciário de Backwood City."

"Caso aconteceu na tarde deste domingo. Sindicado dos Servidores da Polícia Penal do Estado afirma que dezoito detentos ficaram feridos e cinco foram mortos, dentre eles o ex-chefe de polícia da BCPD, Malcolm Somers, o qual foi preso em dezembro do ano passado por envolvimento com tráfico de drogas, formação de quadrilha, aliciamento de menores, sequestro e homicídio."

"A polícia ainda está investigando a real motivação do tumulto, mas tudo indica que pode ter sido um confronto de facções."

"Não sabemos exatamente como se encontra a atual situação do presídio, por isso continuaremos acompanhando o caso para mais informações..."

— E eu achando que não ganharia nenhum presente nesse maldito aniversário — ele riu soluçado ao se sentar sem jeito no sofá.

Estava bêbado. Desde logo cedo, pela manhã.

— Bem feito para o bastardo de merda — comemorou o falecimento anunciado. — Espero que queime no fogo do inferno e de brinde, vire chaveiro do diabo — soltou entredentes e com o peito ainda preenchido de rancor, afinal, fora por causa desse homem que a sua vida desandara.

Por culpabilidade das atitudes criminosas daquele verme um dos seus melhores amigos havia cometido suicídio.

Além de que, sua mãe, por preocupação devido à sua prisão, efetuada por Malcolm Somers, se afundou ainda mais no vício antigo e terminou morrendo... o deixando totalmente na solidão, com o couro atolado em dívidas.

Sem ao menos conseguir se despedir ou ao menos dar a ele a oportunidade de se desculpar pela breve discussão que tiveram antes dela passar mal, Lilian Foster se foi.

— DESGRAÇA — ele gritou ao tacar com ódio a garrafa de cerveja na parede.

Foi a terceira somente neste dia.

A satisfação com a morte do policial corrupto havia passado, devido às memórias que retornaram.

Seu coração começou a apertar, a respiração falhar e os olhos passaram a se encher de lágrimas. Todas às vezes em que lembrava do que tinha acontecido, do que havia perdido, a vontade de deitar em posição fetal e chorar pelo resto do dia ou semana o ocupava por inteiro.

Ele detestava essa sensação de tristeza, mas não sabia como controlar. Assim como não sabia limitar a raiva
que sentia pela culpa que ainda insistia em o atordoar.

Grande parte da responsabilidade pelo falecimento de Lilian era do Malcolm e seu desvio de caráter. Porém,
ele também possuía uma certa parcela nisso, já que no passado resolvera abdicar da doença de sua mãe após ela o fazer perder uma partida importante de football.

Por uma coisa super banal, que certamente conseguiria reaver depois, ele dera as costas para o problema da sua progenitora e a deixou se enterrar completamente – e literalmente – na porra do seu vício.

— Não dá para ajudar quem não quer ser ajudado, garoto.

Foi o que mais ouviu do seu velho nos primeiros meses desde a morte, quando o próprio não parava de repetir em voz alta que fora tudo culpa sua.

Ele até tentou absorver as palavras e se convencer de que era verdade, mas, por fraqueza, não conseguiu. Se deixou consumir pela dor da perda e pelo remorso.

Ele não fazia ideia de quando se reergueria. Sabia que em breve precisaria, pois como já foi dito, estava abarrotado de dívidas. Entretanto, ele não tinha noção de quando esses sentimentos ruins o abandonaria.

Era o que mais estava desejando no momento: seguir em frente; porém, não sabia como, nem que caminho pegar para se desfazer da culpa, aprender a conviver com o ocorrido e em fim superar.

Dilema parecido com o de outra pessoa, cujo ele ainda nem sonhava conhecer...

Mas, que por obra do destino já estava traçada para marcar, e quem sabe até a sua vida resolver.

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