39 | O Musical

20 10 17
                                    

BRIAN BROOKS
𝟮𝟭 𝗱𝗲 𝗠𝗮𝗶𝗼, 𝗦𝗲𝘅𝘁𝗮

— Caralho, tá lotado! — o Tyson constatou ao meu lado enquanto, pela cortina, dávamos uma espiada na plateia do auditório.

Desde o começo a doida prometeu que iria preencher todos os lugares do ambiente. Pois bem, ela cumpriu direitinho com a palavra, porque estava, realmente, abarrotado.

De alunos do Desertic Corner – os quais nunca imaginei que pudessem estar presentes, dado que faziam parte da parcela de pessoas que falavam mal do clube de teatro e zoavam todos que participavam – até alguns funcionários da torre, incluindo o Percy e o Sr. Von Der Goltz. Alina distribuiu ingressos para todo mundo, querendo que todos tivessem a chance de apreciar o seu incrível trabalho nesse musical.

Pena que agora ela tinha entrado em surto e estava pensando seriamente em abandonar o barco, a fim de fugir para as colinas e se esconder pelo resto da vida.

— Acho que vou pular desse titanic enquanto é tempo, que nem a pilhadinha. Não sei se vou ter capacidade de me apresentar para esse tanto de gente, Brian. Correr com uma bola e se esquivar de brutamontes é uma
coisa, agora cantar e dançar na frente desse povo...

"Sei não, acho que não vai rolar. Minha barriga começou a doer igual aconteceu na sexta série. Acredito que vem de novo um piriri dos brabos aí."

Meu melhor amigo tagarelou, depois que fechamos a frecha da cortina e começamos a caminhar de volta
para a área dos camarins.

Ele só falava tanto assim quando estava de fato nervoso. Mas também, quem poderia julgar?

O tão esperado dia finalmente chegou. Depois de tantos ensaios e de tantos problemas que quase acarretaram no seu fim, o musical de primavera até que enfim estava para acontecer. Era impossível não sentir um frio monstruoso na barriga, ainda mais depois de ver o tanto de pessoas presente, só que nada tão exagerado ao ponto de
querer desistir agora, em cima da hora.

A doidinha, apesar de estar querendo fazer o mesmo, arrancaria os nossos órgãos pelo cu se pensássemos
em fazer essa porra.

— Tyson, se controla. Não começa a querer pirar igual, já basta a Alina — chamei a atenção do folgado, antes que entrasse numa neura pior e me deixasse mais nervoso ainda. — Faz os aquecimentos vocais e de respiração
que a professora ensinou, ajuda muito a controlar a ansiedade.

Essa maldita ansiedade! Uma das maiores dores de cabeça da minha garota atualmente.

Fazia um tempo, desde o início do seu tratamento, que ela não havia tido nenhuma crise, só que, infelizmente, esse recorde fora quebrado no dia em que ela descobriu que a Emmy não poderia mais se apresentar e a própria teria que substituí-la – no papel em que ela passou metade da vida se preparando para fazer.

Por conta das paradas cardíacas que sofreu, a novata, infelizmente, ficou com sequelas motoras e na fala. A Alina, assim que as duas receberem alta do hospital, se encarregou de pagar os melhores fisioterapeutas e fonoaudiólogos para ajudá-la na recuperação.

Porém, a garota, tristemente, só conseguiu se recuperar a tempo dos problemas na fala. Quanto aos motores ainda não estava cem por cento, por isso ela não poderia se apresentar o musical, embora a doida, em um ato de desespero, tivesse insistido que seria bem inovador
se essa Maria fosse cadeirante.

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