C a p í t u l o • 24

134 51 2
                                    

New York City U.S.A.
12 / September • Monday

— Aparece lá no meu quarto também. — Ele grita fazendo os seus amigos rirem. Olho para trás com um olhar mortal, fazendo eles ficarem calados imediatamente. Percebo que ele está tremendo.

— Quer fica sem os dentes? — Ele nega balançando a cabeça em um movimento frenético.

— Que medo. — Uma menina fala.

— Ela é assustadora. — Outra menina fala.

— Ela está blefando, ela não vai arrancar os dentes de ninguém. — Um garoto fala.

Coloco as mãos no bolso e saio andando, vou procurar o Matthew antes de trocar de roupa.

O problema é que essa escola é enorme e não faço ideia de onde ele esteja.

— Ele está na sala de música. — Tomo um susto com a menina. De onde ele saiu?

— Sala de música? — Não sabia que tinha uma sala de música aqui.

— Você está no prédio C4. — Ela fala somente isso e entra no refeitório.

— Prédio C4, o prédio C2 é onde fica o clube de Arco e Flecha. — Tento me lembrar onde fica.

Atravesso o campus todo porque a porcaria do prédio é um dos últimos. Suada e cansada entrou no prédio C4. Escuto notas melancólicas do piano no final do corredor. Ele toca piano muito bem. 

— Posso entrar? — Pergunto a ele quando abro a porta.

— Claro. — Ele fala com a voz embargada sem deixar de toca o piano.

— Você toca muito bem. — Sento no chão próximo dele.

— Meu pai tocava piano, e me ensinou. Depois que ele morreu eu parei de tocar em concursos. — Ele fala chorando.

— Vai mesmo deixa as palavras daquele idiota de afetarem assim? — Coloco a cabeça no banco dele olhando pra ele debaixo. Seus olhos estão vermelhos.

— Mas ele falou a verdade. Se eu não tivesse ficado com raiva porque fiquei em segundo lugar no concurso, sai correndo um carro que acertou ele que morreu no local. — Ele chora ainda mais.

— Primeiro, você era apenas uma criança. Mesmo quando nós somos adultos não temos o controle de tudo que acontece ao nosso redor. Assumir essa responsabilidade só vai te fazer mais mal. — Falou ainda olhando pra ele. O som parou.

— Você acha mesmo? — Ele precisa se aliviar disso.

— Claro que eu acho, perdi minha mãe quando minha irmã nasceu, mesmo assim não colocamos a culpa nela por nossa mãe morrer. O parto era de risco. — Mesmo eu não tendo certeza de que ela morreu por causa de complicação no parto.

— Ela não se sente culpada? — Ele me olha, ele está sofrendo muito.

— Não, ela já me perguntou várias vezes se temos raiva dela. E sempre dizemos que não. Ela é nosso anjinho que nossa mãe deixou para nós cuidarmos. — Sorrio para ele.

— Como se livrar dessa culpa então? — Ele olha para o piano.

— Dar um soco na cara do seu irmão quando ele começa a falar merda, segundo sente com a gente nas refeições e senta do meu lado nas aulas. — Assim ele fica mais longe do irmão idiota.

— Nella obrigado por está me ajudando. — Ele agradece, volta a tocar. Dessa vez a melodia é menos melancólica.

— De nada. — Levanto do chão. — Queria mesmo ficar aqui com você, mas tenho um compromisso fora da escola.

Antonella • Livro 1 | RETA FINALOnde histórias criam vida. Descubra agora