● Cinco

608 58 763
                                    

Uma semana depois...

Está fazendo uns quarenta graus. Sem sombra de dúvidas o Rio de Janeiro se abraçou ao sol e viraram amiguinhos. Porque sinceramente não é possível que esteja tão monstruosamente quente.

Já saio do banheiro suando e me obrigo a parar na frente da janela aberta do meu quarto, pensando seriamente em retirar o roupão e ficar nua. Nua e deitada no chão frio.

Não é uma má idéia na verdade...

─ Pelo amor de Deus, sem strip-tease, por favor! ─ O grito da Daiane me faz soltar o laço do roupão e a vejo imediatamente pelo reflexo no espelho da minha penteadeira.

Seu sorriso é sapeca e ela está encostada ao batente da porta.

Esqueci que aos sábados nós saímos juntas.

Quer dizer, não importa para onde. A gente simplesmente sai para bater perna, comprar coisas, comer, ir ao cinema. Qualquer coisa. O importante é que o sábado é o dia do lazer, de fingir que nenhum problema no mundo existe.

─ Você acabou de perder a chance de ver um corpaço na sua frente, minha cara. ─ Gracejo indo abrir o roupeiro.

─ Eu cresci com você, Karol. Eu já te vi nua o suficiente. Então, por favor, vamos abreviar as coisas e, claro, sair! Hoje eu quero andar até ficar com as pernas cansadas. Essa semana foi cheia.

Espio-a por cima do ombro e arqueio uma sobrancelha.

─ Você só se senta numa cadeira, escuta a reclamação das pessoas e ler cartas de tarô. O que nisso é tão cansativo assim?

─ Eu nem vou entrar nessa discussão, viu? Um dia você vai parar de discriminar tanto a minha profissão.

─ Claro. Claro. Ah, olha só, o que acha desse vestido?

Viro-me para ela com uma peça cor-de-rosa na mão. É um vestidinho soltinho com alcinhas finas, ligeiramente curto, mas não que marca tudo, porque com esse calor é impossível usar roupa justa.

─ Esse vestido é lindo. Usa! Veste logo e vamos.

Ela se atira na minha cama com sandália e tudo e até ignora a careta que eu faço por causa disso.

─ Ok. Agora eu vou escolher uma sandália...

─ Escuta, é impressão minha ou o seu humor tem melhorado bastante nos últimos dias? Não te vi mais se lamentando pelos cantos... Está até sorrindo um pouquinho mais...

Eu sei aonde ela quer chegar. É uma armadilha.

─ Anrram. Os dias têm sido legais na firma. Isso me ajuda a distrair a cabeça.

─ Só a firma que distrai a sua cabeça?

E lá vou eu cair na bendita armadilha.

Nunca há uma resposta certa que me salve disso.

─ O papai me colocou como aprendiz dele. Ando revisando casos importantes, conversando com clientes. Isso leva a minha mente para longe dos problemas. ─ Desconverso como posso e me ponho a vasculhar a prateleira de madeira nobre do outro lado do quarto onde ficam os meus pares de sapatos. ─ Nada como o trabalho, Dai. Trabalhar é ótimo!

─ Não discordo. Mas se eu bem me lembro, você tinha me dito que se encontrou com o italiano umas duas vezes na última semana...

Ah, claro que ela ia se lembrar disso.

─ O que acha dessa rasteirinha? Combina com o vestido, não é?

É uma sandália confortável e tem umas tirinhas discretas que comprei na última viagem que fiz aos EUA.
A mamãe me ajudou a escolher e confesso que adorei.

El Amor Cambia de Piel - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora