● Cinquenta e Quatro

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K. Sevilla

Pensei que encontraria Santiago num hotel afastado ou em algum lugar improvisado, visto que ele claramente acabaria retornando à Itália já que não tinha mais emprego na construtora, porém, grande foi a minha surpresa ao dar de cara com um belo condomínio próximo à praia, não tão longe assim de onde nós moramos e que agora serve de lar para o ex-amigo do meu marido.

Dei o meu nome na portaria e a minha entrada foi liberada imediatamente.

A casa de Santiago era uma das primeiras e ele já estava na frente me esperando.

Quando desci do carro dei uma olhada em volta, percebendo que a vizinhança era silenciosa e que não se via ninguém nas mediações, muito pelo contrário, parecia mais um condomínio fantasma com lindas mansões e pouca vida.

— Bem-vinda. — Santiago disse, aproximando-se de mim.

Ele enfiou as mãos nos bolsos frontais da calça de moletom escura que estava usando e me lançou um sorriso ameno, quase distante, como se não nos conhecêssemos e não tivéssemos tido alguns embates nos últimos tempos.

A frieza dele me impressiona de cara.

— Eu só quero que me diga a verdade.

— E você vai acreditar?

— Se tiver provas.

Vejo-o abanar a cabeça e me indicar a entrada, então o sigo de perto, passando pela enorme porta da casa, passando direto pelo hall luxuoso que se expande até desembocar numa sala gigante com móveis estranhamente parecidos com os da mansão do meu marido.

Na verdade, para todos os lados que olho só consigo ver as semelhanças com a nossa casa. Até o cheiro dos produtos que a Sarita usa para a limpeza é o mesmo, sem tirar e nem pôr.

Contudo, decido não comentar sobre.

— Sente-se, por favor. — Ele me diz, indicando o sofá. — Quer beber alguma coisa? Estou sem empregada hoje, mas posso abrir um vinho, se quiser.

Abano a cabeça, sentando-me no sofá oposto ao que ele me sugeriu.

Não consigo evitar que meus olhos pairem sobre o tapete que é idêntico ao que vejo todos os dias, bem como o piano do outro lado, a cor das almofadas, até a parede inteiramente de vidro que fica de frente para um jardim fabuloso com rosas que, claro, são similares as que a Sarita cuida.

Respiro fundo, sentindo um calafrio se alastrar pelo meu corpo.

Santiago não queria só a amizade do meu marido; ele queria, e talvez ainda queira, ser o meu marido.

— Eu não vim para uma visita de cortesia. — Pigarreio, acompanhando com o olhar o homem que se senta perto de mim e cruza as pernas. — Só desejo saber o que tanto você queria dizer quando jogava na minha cara que o Ruggero nunca poderia me amar e que ele mentia para mim.

— O que ele fez para tirar você das nuvens? Porque até outro dia vocês pareciam dois pombinhos apaixonados!

— Não seja cínico! Você mandou o Felipe me dizer aquelas coisas sobre a tal Elisa.

Santiago umedece os lábios, esboçando um sorriso travesso que não chega até os olhos.

— Você quer ouvir uma história, Karol? — Indaga, ficando de pé com elegância. — Juro que não vou demorar muito. Na verdade, posso até resumir em poucas palavras. E depois, óbvio, fica para você a chance de achar a moral disso tudo e tirar suas conclusões.

Eu me empertigo, olhando furtivamente para a direção onde fica a porta.

Minha respiração se acelera, meus medos se afloram e algo se aperta no meu peito com uma força surreal, entretanto, o ímpeto de descobrir a verdade me mantém parada, sem reagir.

El Amor Cambia de Piel - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora