El Amor Cambia de Piel - Livro 1

● Quarenta e Oito

Daiane olha em volta de um jeito todo teatral como se estivéssemos em um filme de espionagem ou coisa do tipo.

Sinto até vontade de rir.

─ Tem certeza de que não tem mesmo a chance de eu encontrar o Santiago aqui? ─ Indaga espiando a sala de estar da minha casa. ─ Vai que ele aparece do nada.

─ Não precisa se preocupar, sua maluca. ─ Agarro a mão dela, puxando-a na direção dos sofás. ─ O Santiago já saiu aqui de casa. Ontem à noite a Sarita avisou que ele pegou tudo e se mandou. Sei lá para onde. Mas pelo menos se foi.

Minha amiga relaxa um pouco os ombros, assentindo.

─ Acha que ele ainda volta?

─ Se tiver vergonha na cara? Não. Se continuar agindo como um estúpido? Provavelmente. ─ Indico o sofá e ela se senta; faço o mesmo. ─ Mas o Ruggero deixou avisado na portaria do condomínio que ele não pode entrar, nem mesmo para buscar algo.

─ Ahhhh então você finalmente contou ao Ruggero sobre o... tal beijo?

─ Não. ─ Pego uma almofada, colocando-a sobre o meu colo. ─ Na verdade, eu nem quero me lembrar disso. Parece que eles já discutiram feio, mas o Ruggero não quis entrar em detalhes. Eu só sei que ambos estão magoados.

─ Eles eram amigos há tantos anos, né? ─ Daiane tira as sandálias e cruza as pernas em cima do sofá, virando-se para mim. ─ O que será que aconteceu? Será que o Santiago disse do beijo?

─ Não sei... Acho que o Ruggero teria me perguntado algo. Sei lá. Ele podia achar estranho, desconfiar...

─ Se ele ama você, com certeza não ia desconfiar.

Balanço a cabeça, ponderando um pouco.

─ Acho que tem razão, mas de todo modo, é melhor esquecermos isso. O que me interessa agora é saber como você está levando essa situação.

Daiane suspira, encostando a cabeça no encosto do sofá.

─ Eu penso nele? Lógico. Lembro dele quase toda hora? Com certeza. Mas estou tentando manter a minha raiva viva, sabe? Se eu odiá-lo, não vou me lembrar que me apaixonei.

Estico a mão e afago seu rosto, afastando alguns fios de seu cabelo cacheado.

─ Ele não merecia alguém como você. Na verdade foi um grande de um livramento, Dai. No fundo, o Santiago tem que tratar aquela cabeça problemática dele se quiser se envolver com alguém ainda. Imagina passar a vida toda na sombra de um amigo tentando ferrar com a vida dele? Isso é coisa de gente sem caráter.

─ Eu sei. E que bom que o Ruggero se livrou dele, porque senão as coisas poderiam ficar piores. Só Deus sabe do que ele é capaz. Porque alguém que brinca com os sentimentos dos outros é passível de fazer todo o tipo de merda.

─ Verdade.

─ E segundo as cartas...

─ Ah não, Daiane! Lá vem você com essas cartas.

─ Qualé, eu estava deprimida, sozinha e com tesão reprimido. Eu precisava ver o futuro para me tranquilizar um pouco. Não me julga, Karol!

Estreito os olhos.

─ E você se tranquilizou?

─ Porra nenhuma! ─ Guincha frustrada, assoprando uma mecha do cabelo para cima. ─ Só saiu carta pesada para todo mundo. Você precisava ver.

─ Todo mundo? Todo mundo é muita gente, Daiane. Pelo amor de Deus!

─ Você achou que eu ia jogar só pra mim? Nem fodendo! Joguei logo pra você também, pro Ruggero, pro Santiago... quase joguei pra Sarita também, mas como não peguei muita intimidade, fiquei tímida.