Meu carro derrapa na frente do hotel Imperial quando estaciono de qualquer jeito, descendo aos tropeços.
Assim que passo pela porta giratória de um dos maiores prédios do Rio de Janeiro, eu ouço a voz do meu pai. Ele está alterado e gesticulando enfaticamente com as duas mãos, tentando convencer a recepcionista de deixá-lo subir até o quarto que foi indicado na mensagem.
Aproximo-me dele o mais depressa que posso, buscando respirar e falar ao mesmo tempo – uma tarefa nada fácil, pois estou completamente fora de mim.
Esse é o tipo de situação que nunca pensei que iria passar.
─ A minha mulher está lá em cima, portanto, eu tenho todo o direito de subir! ─ Ele esbraveja, alterando-se de um jeito que jamais presenciei. ─ Olha aqui, menina, ou você autoriza a minha subida, ou eu juro que essa porcaria de emprego já era, entendeu? Sabe quem eu sou? Tem idéia de com quem você está falando?!
─ Senhor, perdoe-me, mas sem avisar ao hospede, eu não posso permitir a sua entrada.
─ Eu já disse que...
─ Papai! Papai, pelo amor de Deus! ─ Guincho, desconcertada, percebendo como a menina do outro lado da ilha nos olha com um ar de pânico. ─ A moça não tem culpa. São as regras do hotel. Por favor, acalme-se!
─ É claro que ela tem culpa! ─ Retruca, desvencilhando-se das minhas mãos. ─ Com certeza ela está acobertando a safada da sua mãe! São todas iguais. Umas protegem as outras. Diga, menina, diga de uma vez, a minha mulher está aqui, não está? Com quem? Com quem ela veio? Vamos, diga!
─ Papai, já chega! Não permito que fale dessa forma nem com a moça e nem com mulher alguma. Ninguém tem culpa dos seus problemas com a mamãe, entendeu? Além do mais, o senhor nem sabe se é verdade ou não.
─ Você não sabe de nada, Karol. ─ Rebate, esfregando a testa suada. ─ Não é a primeira vez que me chegam com esse tipo de indireta. Mas agora eu cansei. Quero descobrir se é verdade ou não. Não vou mais ser feito de idiota. Já basta!
─ Senhor, acalme-se ou serei obrigada a acionar a segurança do prédio.
─ Senhorita, perdão. ─ Adianto-me. ─ Ele está um pouco alterado, mas vou tentar apaziguar a situação. Perdão.
─ Você não fala por mim. ─ Papai resmunga, prostrando-se sobre a ilha, encarando a recepcionista. ─ Escuta aqui, menina, você sabe quem é Carlos Maldonado, não sabe? ─ Ela assente diante de sua pergunta, então ele prossegue: ─ Pois bem. Ele é o dono dessa merda de hotel e de muitos outros. E ele é também meu amigo e cliente. Ou seja, se você não me deixar subir, amanhã mesmo você estará no olho da rua. E eu vou tratar para que não consiga mais emprego algum. Ouviu?
Franzo o cenho, emudecendo diante disso. Jamais, em toda a minha vida, o vi falar assim com alguém.
Quem é esse homem que não reconheço?
─ Senhor, por favor, eu tenho um filhinho doente. Somos só ele e eu. Não tenho ajuda de ninguém. Não posso perder esse emprego. Por favor! Olhe pelo meu lado também.
─ Pois então cumpra o seu papel aqui e avise aos seguranças perto do elevador que eu posso subir. E saiba que se a minha mulher for avisada, eu não vou querer saber de filho doente ou coisa do tipo, entendeu? Você vai para a rua em dois tempos.
─ PAPAI! ─ Grito com o coração latejando na garganta. ─ O que pensa que está dizendo?! Quem o senhor acha que é? Pare com isso! Pare agora!
─ Karol, não se meta!
─ É claro que eu me meto! Eu não vou permitir que continue agindo dessa maneira tão vil! Esse não é você. Você não pode ser esse monstro impiedoso. Esse não é o homem que me criou!
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El Amor Cambia de Piel - Livro 1
Lãng mạn" Na bíblia diz que uma serpente ludibriou Eva ao ponto de deixá-la à mercê de seus encantos e, por fim, a fez sucumbir à vontade de comer o fruto proibido. A serpente seria Satanás, o anjo mais belo já criado por Deus. Um ser de mui...