El Amor Cambia de Piel - Livro 1

● Cinquenta e Sete

K. Sevilla

Uma vez a Daiane me disse que há uma lenda chinesa que fala sobre um fio que liga duas pessoas durante toda a sua vida. Esse fio pode enrolar, esticar-se bastante e até dar um nó, mas ele nunca se rompe, porque essas duas pessoas — as que estão ligadas pelo fio — permanecem conectadas para sempre, pois são almas gêmeas.

Eu sempre quis viver um grande amor, não nego, mas não sei se acreditava em alma gêmea. Talvez eu imaginasse um amor como o dos meus pais — que agora percebo que não passava de uma trágica história de mentiras ­—, porém jamais me vi vivendo um romance de vidas passadas ou criando um elo eterno com alguém.

No entanto, cá estou eu. E em algum lugar da mansão onde moro, está a minha alma gêmea. O homem que eu denunciei ontem à polícia e que pode ir preso a qualquer momento graças a mim.

Nosso fio do destino vai dar um nó e se enrolar inteiro; mas peço internamente que não se rompa nunca.
Pois as almas gêmeas são assim: você não as escolhe; você as acolhe. Os erros, os defeitos, as cicatrizes e até as sombras. Tudo vem junto. Tudo que cura e fere. E um dia nós dois vamos entender o propósito de sermos a alma gêmea um do outro.

Ruggero não é o amor da minha vida como eu pensei. O amor das nossas vidas nós podemos escolher; essa é a minha teoria. Mas a alma gêmea não. Ela está destinada por algo muito maior e não há como fugir.

Só é uma pena que para nós, isso seja o mesmo que abraçar um caule cheio de espinhos rezando para que não sangremos tanto.

— Demorei?! — Daiane diz assim que me encontra no jardim da mansão.

Estou encarando as rosas da Sarita e elas parecem tristes. Ou talvez eu esteja triste e estou refletindo isso para elas.

Não sei. Choveu muito ontem e vai ver que elas se afogaram. Sei lá.

— Chegou na hora certa. — Digo, abraçando a minha amiga com todas as minhas forças. Sinto que ela demora um pouco para corresponder porque se assusta com a intensidade do meu afeto, mas quando fecha os braços em volta de mim, quase me deixo levar pela emoção que os hormônios me emprestam. — Obrigada por estar sempre aqui quando eu preciso. Muito obrigada.

— Ei, gatinha, o que houve? Porque está me agradecendo? Sou eu, a Daiane, a sua amiga que compra roupas que você odeia e calça botas de cores incríveis que faz os seus olhos doerem! — Graceja, afagando os meus cabelos. — Não há o que me agradecer. Para com isso!

Aperto os olhos. Meu canal lacrimal arde, mas eu não quero chorar. Já chega de chorar. Não quero ser uma grávida chorona.

— Escuta... — Dou uma fungada e me desvencilho, mas continuo segurando os ombros dela. — Que bom que pôde vir.

Daiane abre seu sorriso lindo de sempre e vejo como o vento ondula seus cabelos. Ela parece estar mais loira. Seus olhos saltam para fora transbordando pureza e alegria.

Minha amiga é o verdadeiro raio de sol aqui. Sempre foi.

— Acha que eu te deixaria sozinha? Claro que não! Agora me diz, o que vamos fazer? Pode ser qualquer coisa.

Sei que ela pensa que eu a chamei por causa do meu suposto abalo emocional em relação à morte do Felipe, mas não é isso. Depois de tudo o que eu descobri, o Felipe é a última coisa que me importa.

Por mim ele que vá para o inferno. Cansei de ser a idiota empática que sofre por homens ruins.

E isso inclui o meu pai. Eu espero que os dois estejam no inferno.