● Vinte e Cinco

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Da janela do meu quarto eu vejo quando Daiane estaciona bem na frente da mansão, com direito a derrapada de pneu e tudo. Só por isso eu já sei que ela está com um quente e dois fervendo - lhe contei por alto o que havia acontecido e ela veio imediatamente.

Saio do quarto praticamente correndo e atravesso o corredor, descendo os degraus de dois em dois, bem a tempo de vê-la passando pela porta da frente que a faxineira abriu.

Minha amiga abre os braços e eu corro para ela, choramingando.

Deus abençoe os amigos!

─ Cadê ele? Hein? Cadê esse italiano mequetrefe? Eu juro por Deus que vou estraçalhar ele todinho, até aquele sotaque fajuto que parou de ser sexy e se tornou só... bisonho.

─ Bisonho? ─ Repito, fungando. ─ Quem ainda usa isso como xingamento?

─ Vai mesmo me criticar agora, Karol? Eu vim aqui pronta para tudo, minha filha. Olha isso. ─ A maluca da minha amiga puxa de dentro da bolsa um vidrinho de spray de pimenta e um estilete cor-de-rosa. ─ Primeiro eu deixo ele cego e depois eu corto as bolas dele!

Por baixo do meu choro consigo rir.

─ Vai castrar o Ruggero?

─ Ah eu vou sim! ─ Responde igual uma psicopata, deslizando a lâmina do estilete para cima. ─ Você segura e eu corto! E depois eu o faço engolir as duas bolas. O que acha?!

─ Achei ousado e corajoso. ─ Santiago responde. Nós nem tínhamos notado que ele vinha descendo as escadas. ─ Perdão, não pude deixar de ouvir o seu plano para deixar o meu amigo castrado.

Olho para a minha amiga e percebo que o queixo dela vai ao chão. Ela nem disfarçar. Seus olhos se arregalam sutilmente, suas bochechas ficam tão vermelhas que chega a ser fofo, e então, como sempre acontece, ela abre um sorriso todo bobo e ajeita uma mecha do cabelo atrás da orelha, encabulada.

Cruzo os braços, só admirando a cena.

Santiago vem até nós e estende a mão para ela, cumprimentando-a com toda a educação possível.

Daiane não perde a chance de dar dois beijinhos nas bochechas dele, usando a desculpa de que todo brasileiro que se preze faz isso.

Fica nítido que Santiago está encantado pela beleza da minha amiga.

─ Daiane, esse é o Santiago. Santiago, essa é a Daiane. ─ Faço as apresentações com a minha voz ligeiramente fanha por causa do meu nariz entupido de tanto chorar. ─ Ela é a minha melhor amiga.

─ Ah então você é a famosa amiga! Finalmente nos conhecemos.

Daiane se derrete toda, corando mais ainda.

─ Famosa? Eu? Uau! Espero que a minha fama seja boa.

─ A melhor possível. ─ Ele responde, sorrindo para ela. ─ Aliás, eu estou admirado com toda essa cor, com essa vivacidade que vem de você! Wow! É uma baita energia. ─ Diz, gesticulando bastante. ─ Se eu pudesse, não usaria essas roupas sérias. Eu me vestiria assim. Exatamente assim. Adoro cor. Quanto mais cor melhor.

Pronto! Ganhou a maluca!

─ Sério? Sabia que... que tem todo um lance de cor relacionada à nossa vibração, os astros, signos e afins. Entende? Tem uns dias da semana que você definitivamente não usa preto. Sério. Mas na segunda-feira, por exemplo, pode usar. Na sexta use branco. Sempre branco. É bom.

─ E porque você se veste de arco-íris todo dia? ─ Pergunto e em resposta recebo um beliscão nada discreto. ─ Aí! Agressiva!

Santiago gargalha, todo expansivo, igualzinho a Daiane.

El Amor Cambia de Piel - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora