R. Pasquarelli
Antes de tudo acontecer, quando Elisa ainda era a menina feliz de sempre, ela passava horas no computador me mostrando projetos ao redor do mundo que buscavam erradicar a fome. E a cada um dos projetos que via, ela dizia com um brilho lindo nos olhos que se juntaria a eles, que viajaria o planeta inteiro para atender às necessidades dos outros, porque sentia em seu coração que essa era sua missão.
Confesso que nunca entendi muito bem de onde vinha tanta certeza, mas com o tempo compreendi que uma alma como a da minha irmã não pode ser desvendada assim.
Ela era boa e nobre de uma forma que as pessoas levam uma vida para aprender a ser; quanto que ela, com menos de quinze anos, já sabia muito bem o motivo de estar aqui na terra.Quando ainda era criança, Elisa fez amizade com um garotinho que tinha sofrido um acidente ainda bebê e que ficou com sequelas neurológicas profundas, dificultando a ação de falar, comer sozinho, andar e até de brincar como qualquer criança da escolinha.
Minha irmã, que não sabia o que significava preconceito, defendia o garotinho com unhas e dentes. Ela cuidava dele sempre. Nenhuma professora conseguia separá-los.
Elisa era sua voz, suas mãos e até sua guia nas brincadeiras, fazendo até o impossível para que ele se divertisse nos recreios.Eram as crianças mais felizes daquela escola, posso garantir.
Até que um dia, sem muitas explicações, o menininho começou a faltar. Elisa me fez procurar a mãe dele e eu fiz isso. Então viemos a descobrir que ao tentar sair da cadeira de rodas onde ficava boa parte do tempo, o garotinho acabou caindo e batendo forte a cabeça.
Tentaram salvá-lo, mas não foi possível. Ele morreu.E morreu também um pedaço da minha irmã.
Elisa já havia perdido os nossos pais, mas aquela dor foi mais arrebatadora, pois naquele momento a minha irmã já entendia o peso da morte.
Fiz o que pude para consolá-la, mas depois de um tempo ela mesma se curou.
Elisa criou dentro de si a sede de ajudar outras crianças iguais ao amiguinho que perdeu.
Ela colocou na cabeça que quando "ficasse grande" iria abrir uma casa enorme e colocar todas essas criancinhas dentro, depois, com muita paciência, cuidaria de todas para que não se machucassem e pudessem brincar bastante.Na época ela não sabia muito bem como faria isso, mas quando ficou mocinha, começou a procurar lugares para alugar.
Ela queria criar um centro de tratamento infantil para homenagear o amigo e ajudar todas as crianças que pudesse.Só não teve tempo para isso.
Minha irmã não pôde realizar seu maior sonho. Foi arrancado dela essa possibilidade pelas mãos de um homem vil que a atacou quando ela estava voltando da escola e abusou dela, largando-a em um beco imundo, toda machucada, quase sem respirar; ele levou a alma dela dentro do bolso de seu terno caro.
E eu não pude fazer nada.
Pela segunda fez, algo foi arrancado cruelmente da minha irmã e eu não pude salvá-la da dor.
Mas agora que posso fazer isso... estou sendo covarde.
Nem pareço o homem que caçou o infeliz do Javier por meses, que contratou dezenas de detetives após a polícia ter desistido do caso por falta de pistas. Sequer me comparo ao irmão obstinado que gastou tudo o que pôde e virou noites tramando a melhor forma de destruir os Sevilla.
Cinco anos. Cinco anos para nada?
Respiro fundo, perambulando pelos corredores barulhentos do hospital.
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El Amor Cambia de Piel - Livro 1
Romance" Na bíblia diz que uma serpente ludibriou Eva ao ponto de deixá-la à mercê de seus encantos e, por fim, a fez sucumbir à vontade de comer o fruto proibido. A serpente seria Satanás, o anjo mais belo já criado por Deus. Um ser de mui...