El Amor Cambia de Piel - Livro 1

● Vinte

Estou completamente absorta na papelada e nas histórias que Alejandro me conta que mal vejo o tempo passar. Além do mais, a comida é ótima e isso melhora em mil por cento o meu humor.

A única coisa que eu certamente não contava é que em meio a tantos e tantos restaurantes do Rio de janeiro, eu acabaria esbarrando com o último homem que desejo ver nesse momento.

Por isso, quando Ruggero se aproxima da mesa com toda a sua pompa de CEO que cospe fogo, fico ligeiramente paralisada, sem reação. Apenas o encaro por trás da minha surpresa e me forço a engolir a limonada que beberiquei poucos segundos antes de vê-lo vindo até minha mesa.

─ Perdão, o senhor deseja algo? ─ Alejandro indaga, percebendo a presença de Ruggero.

Meu marido tira os olhos de mim lentamente, virando a cabeça para fitar o homem que está almoçando comigo.

─ Quem é você? ─ Pergunta com sua voz o mais contida possível, contudo, acho que já posso deduzir que quanto mais mansa a voz, mais o mar se agita dentro dele.

Não que Alejandro faça idéia disso. Na verdade, posso perceber claramente a confusão estampada em seu rosto anguloso de belos traços. Se fosse em outras circunstâncias, se eu não estivesse tão apaixonada, com certeza quebraria as regras que envolvem a relação de cliente-advogado.

Todavia, é um péssimo momento para cogitar qualquer coisa. A minha atenção se prende apenas no único homem capaz de me deixar à flor da pele, completamente agitada, só pelo simples fato de estar perto.

Mesmo que esteja com uma cara péssima.

─ Desculpe-me, mas quem veio até aqui foi você. Ou seja, o mínimo que pode fazer é dizer o que quer. ─ Alejandro retruca para o meu marido. ─ E já adianto que se for um fã ou da imprensa, não posso falar agora sobre o meu agenciado.

Abro a boca para falar, mas Ruggero é mais rápido.

─ Fã? ─ Rebate com um cinismo venenoso na voz. ─ Fã de quê? De você?

─ E-eu não... não estou entendendo... ─ Meu cliente me lança um olhar confuso e um sorriso sem graça. ─ Peço perdão por isso, doutora. Mas sabe como é, a vida de pessoas ligadas a figuras públicas é sempre essa loucura! Mas vou falar com a segurança do restaurante e...

─ Alejandro, é que na verdade...

─ Quem é esse maluco? ─ Ruggero lança a pergunta para mim agora, arqueando uma sobrancelha, enfiando as mãos nos bolsos frontais da calça que usa. ─ De que buraco saiu? Porque você nunca me falou sobre nenhum Alexandre.

─ O meu nome é Alejandro.

─ Problema seu. ─ Meu marido solta o ar com força, ainda me encarando. ─ Karol, eu te liguei várias vezes.

Bufo, endireitando-me na cadeira que ficou subitamente desconfortável.

─ Eu ouvi, Ruggero. Mas acontece que eu estava ocupada. ─ Aponto com o queixo para o homem do outro lado da mesa. ─ Trabalhando, sabe? Às vezes eu misturo trabalho com almoço, porque não tenho tempo para desperdiçar, apesar de parecer isso.

Seu maxilar enrijecesse e noto como seu peito sobe mais pesadamente, como se o ar estivesse preso nos pulmões.

─ Eu só queria saber se você estava bem.

─ Já viu que estou. ─ Abro um sorriso e por mais cínico que seja, parece atingi-lo em cheio. ─ Mais alguma coisa, engenheiro? Porque se não tiver mais nada para falar, peço que se retire, pois estou no meio de uma consultoria importante e o meu cliente sempre terá prioridade.