● Cinquenta e Um

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K.Sevilla

Ruggero se sentou no pequeno sofá comigo no colo, cantarolando baixinho. Acabei adormecendo. O choro geralmente me deixa sonolenta.

Por alguns minutos me vi retrocedendo. Podia até ouvir a voz da vovó contando e recontando a história da borboleta azul da casa cor de rosa. A estrela cadente que cruzava o céu, o pedido de amor verdadeiro que a borboleta fez...

E agora eu tenho a minha própria casa rosa e os meus próprios pedidos para fazer!

Ruggero trouxe meus sonhos para a realidade. Sou a mulher mais sortuda do mundo!

E por entre a fantasia da história sou levada até um campo aberto muito parecido com o lugar onde estamos. De fato, posso até ver a casa rosa logo atrás de nós e o Centro Infantil adiante. Além de muita natureza a nossa volta.

Mas não são todas essas belas coisas que me prendem no sonho, mas sim uma linda menininha que brinca distraidamente pelo campo, correndo com seus bracinhos abertos como se desejasse abraçar o mundo inteiro.

Uma pequena garotinha que não deve ter mais do que três aninhos.

Seus cabelos acastanhados chacoalham por causa do vento, de um lado para o outro; sua pele clarinha reflete o sol ameno que nos banha com sua magnitude e de onde estou posso ouvir sua risada infante, tranquila, pura.

Ela está descalça, pisando na grama com seus pés gordinhos. Está usando um vestidinho branco com mangas bufantes que deixam seus joelhos de fora e que balança a cada vez em que ela corre, perseguindo uma linda borboleta azul que parece contorná-la, como se brincasse com a menininha.

No pescoço dela, um colar de ouro com um pingente de borboleta azul.

Abro um largo sorriso, agachando-me para recebê-la em meus braços.

Ao meu lado, Ruggero faz o mesmo, tão contente quanto eu.

Nossa Luna.

- Acorda, dorminhoca. - Sinto o afago de um beijo no rosto e vou despertando. A barba por fazer do meu marido espeta a minha pele, fazendo cócegas. - Já anoiteceu, amor.

Espreguiço-me, sorrindo. Tão feliz quanto se é possível.

- Eu sonhei com ela.

- Com ela quem?

Pego o pingente de borboleta que está no bolso da minha calça e coloco na mão dele.

- Com a nossa filha.

Ruggero demora alguns segundos processando as minhas palavras enquanto encara a borboleta azul, só então me olha com os olhos mais doces e emocionados possíveis, como se não duvidasse nem por um segundo.

Sinto que ele vai chorar a qualquer momento e já sei que vou acabar fazendo o mesmo.

- E como ela era?

Eu me sento de frente para ele, cruzando as pernas em cima do sofá.

- Linda! Tão pequenininha, tinha uns olhinhos cheios de vida, da cor dos seus, na verdade. E tinha também o seu sorriso. Mas com certeza puxou a minha energia, porque não parava de correr por esse campo todo, cheia de vida, toda alegre.

Com a ponta dos dedos o meu marido seca uma lágrima que escorre de seu próprio olho.

- Quero conhecê-la. Sempre foi o meu sonho ser pai, sabia? - Confessa, brincando com o pingente que tem em mãos. - Não que eu achasse que poderia ser um pai tão bom quanto o meu foi para mim no tempo que tivemos juntos, mas sem dúvida eu estou disposto a tudo para ser a minha melhor versão para a nossa menina. Eu daria a minha vida por ela. Por vocês duas.

El Amor Cambia de Piel - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora