● Cinquenta e Oito

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K. Sevilla

Passo pela porta do quarto que divido com o meu marido e vou direto ao closet, puxando de um compartimento acima das prateleiras uma mala. Preciso ficar na ponta dos pés para alcançar e mesmo assim tenho dificuldade, então agarro a alça e puxo com toda a força que tenho, deixando-a cair no chão após dar um salto para trás para não ser atingida por ela.

A mala cai perfeitamente aberta. Ótimo. Começo a pegar as peças de roupa que já deixei separada num canto e vou enfiando tudo dentro dela, além de um envelope branco com uma quantia significativa em dinheiro que consegui sacar.

Nunca fui uma menina rica inconsequente com o dinheiro. Eu era apenas uma menina rica.
E antes tínhamos muito, então o que eu guardava não representava nada, porém agora é tudo o que eu tenho e que é verdadeiramente meu.

A minha família está indo à bancarrota porque o meu marido guarda em seus cofres milionários a maior parte da nossa fortuna agora.
Ele ficou com tudo, como queria. Vingou-se do monstro do meu pai, mas acabou me prejudicando também.

No final, tudo acabou com os dois no fundo do poço.

Mas eu não vou ficar nas sombras desse buraco me lamentando. Sei que a dor virá, que a ficha vai cair e que eu vou sofrer copiosamente por ter dado um golpe no meu marido, mas enquanto ainda estou em estado de choque, aproveito-me disso e recolho tudo do que preciso para meter o pé.

— Karol, o que está fazendo?! — Sarita diz. Ela vem entrando no quarto com seu rosto vermelho de tanto chorar. — Para onde vai?

Arrasto a minha mala de rodinhas até perto da porta e volto para pegar a minha bolsa. Vejo se dentro dela há tudo de que preciso e então a fecho, passando sua alça pelo meu ombro.

Ao cruzar o quarto consigo ver o meu reflexo no espelho. Estou usando um vestido vermelho. Meus cabelos caem em uma cascata lisa pelos meus ombros parando pouco abaixo dos seios.
Minhas bochechas estão coradas e... os meus olhos parecem outros.

Em que momento eu me tornei isso? O que você fez comigo, Ruggero?

— Você deveria se acalmar, Sarita. — Balbucio me agachando em frente a mala para abrir o zíper dela, enfiando em seu interior a minha escova de cabelo que peguei na mesinha. — No fundo nós duas sabemos que ele mereceu.

— Mereceu?! — Ela guincha bem alto. — Como assim?! Porque está fazendo as malas? Porque parece tão calma?! O RUGGERO ACABOU DE SER PRESO! Você precisa fazer alguma coisa! Por favor, faça alguma coisa!

Eu me levanto e passo as mãos pelos vincos do meu vestido.

Meus dedos começam a tremer, então percebo que o choque inicial está se dissipando e as emoções estão vindo à tona.

— Não precisa mais fingir. — Digo. — Eu já descobri tudo. Acabou o espetáculo. Já chega, Sara.

As rugas nos cantos de seus olhos se acentuam gradativamente ao mesmo pé em que vai franzindo o cenho.

É a primeira vez que a chamo por seu nome e não por seu apelido. Mas nem é isso que a deixa tão chocada. Talvez o choque seja por perceber que a idiota aqui não é mais uma cega diante da situação.

— Do que está falando, Karol? E-eu... não estou... compreendendo.

Ouço seu soluço de mãe desesperada e parte do meu coração se aperta.

Sarita parece frágil no meio das lágrimas que escorrem por seu rosto. A aflição lhe faz estremecer a cada vez que respira.

Ela o ama de verdade.

El Amor Cambia de Piel - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora