El Amor Cambia de Piel - Livro 1

● Cinquenta e Nove - Penúltimo

R. Pasquarelli

De tudo aquilo que poderia me destruir ela escolheu a dedo o que era mais infesto. Karol colocou o meu Centro Infantil numa furada e me jogou dentro da cadeia por algo que eu não fiz.
E não estou dizendo que não mereço, porque sim, eu mereço. Só estou listando os fatos.

O que de verdade me deixou assim atazanado a ponto de agarrar as grades da minha cela e gritar para que me tirem daqui é justamente aquilo que a minha mulher deixou implícito.

Algo que ela não fez, mas que demonstrou que vai fazer.

Karol disse que ia me esperar em casa, mas no último segundo, enquanto eu era arrastado para longe da sala onde estávamos, eu vi. Eu vi dentro dos seus olhos que era mentira. Outra mentira.

Ela ia se afastar de mim. E afastaria a minha filha.

E eu não posso permitir isso!

Grito com todo o meu desespero que alguém precisa me tirar desse lugar. Imploro que me ouçam, que revisem os papéis, que sejam ágeis porque NÃO POSSO CONTINUAR NESSA CELA!

Eu estou perdendo a minha mulher...

Solto as grades. Parece que uma jiboia está dando a volta no meu coração. O ar pesa. Bato com as costas na parede e vou escorregando. Agarro a minha camisa na altura do meu peito. O ar falha.

Estou perdendo a minha filha...

Minha visão fica turva. Tudo sai de foco. Um ataque de pânico. Há quantos anos eu não tinha isso? Não sei. Acho que desde o estupro da Elisa.

Perco os sentidos pouco depois de balbuciar o nome dela.

●

K. Sevilla

Checo a arma na minha bolsa antes de descer do meu carro. Ou melhor, do carro do meu marido.

Quando sai da delegacia fui seguida por um dos capangas da Leila. Através do meu telefone novo fui avisada de que tudo estava pronto para despistar os imbecis. Então, como em um filme de ação, furei o sinal vermelho e acelerei - como havia sido combinado - e assim que passei, um caminhão de grande porte se atravessou na pista, impedindo que o meu perseguidor me alcançasse.

Sai derrapando por um atalho que me foi passado pelo detetive Nataniel e enquanto eu emergia dentro do novo caminho, um outro carro igual ao meu tomava o meu lugar.
Uma mulher sentada ao volante com uma fisionomia parecida com a minha estava dirigindo. Se olhassem de longe, certamente achariam que era eu.

E para deixá-los ainda mais perdidos, outro veículo idêntico estava logo a frente. No fim, o perseguidor nunca saberia exatamente para onde estava indo, pois cada carro pegaria uma pista diferente.

Sorri aliviada quando vi o hotel na beira da estrada que o detetive havia escolhido para que eu me encontrasse com o Santiago.

O ex-amigo do meu marido já estava lá.

O detetive estava no topo do prédio onde pegaríamos o helicóptero, esperando-nos.

Na primeira bifurcação eu dobrei e estacionei.

Precisaria pegar outro carro. O carro que Santiago havia alugado hoje cedo - sem usar o verdadeiro nome, claro.

Eu tinha que sumir do mapa. Tinha que ser como se eu nunca tivesse existido.

- Está em todos os jornais. - Santiago diz assim que abre a porta do quarto alugado. Ele aponta para a TV ligada em um canal jornalístico. - Foi você, não foi?