● Seis

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Depois do que Ruggero e eu fizemos cheguei a pensar que ficaria com a consciência pesada, talvez com uma pontada horrorosa de culpa por ter ido para a cama com um homem que mal conheço, porém foi tudo ao contrário.

Voltei para casa flutuando. E nem foi por causa das duas – ou três – taças de vinho que tomamos enquanto ele me mostrava o desenho do projeto. Não. Não foi por causa do álcool, mas sim porque um sentimento de plenitude passeava por todo o meu corpo como um carro desgovernado.

Parecia que não importava o que acontecia da porta para fora da casa dele. A única coisa realmente importante era o fato de ele estar sem camisa, abraçado a mim enquanto explicava todo o projeto, depositando beijos castos no meu ombro entre uma fala e outra, acariciando minha pele arrepiada com as pontas dos dedos e me aquecendo com o seu calor.

Eu decorei cada uma das sensações e fiquei tentando revive-las nos dois dias que seguiram, nos quais não o vi, pois ele precisou sair da cidade para ir fechar um contrato da construtora com um grande médico que queria modificar todo o seu consultório.

Foi horrível tê-lo e quase na mesma hora precisar me despedir.

E eu não sei de onde vem essa necessidade tão absurda de senti-lo, mas cá está ela me acompanhando nessas lentas quarenta e oito horas. Parece até que fui jogada de um sonho delicioso para a vida real.

Pelo menos dessa vez ficamos em contato o tempo todo. Ele não parou de me mandar mensagens.

É estupidamente revoltante como pego o celular assim que apita, mas não consigo me deter.

Pareço até uma adolescente bobona. E não sei como controlar.

Perdi a noção de vergonha na cara no exato momento que deixei que ele me invadisse em todos os sentidos.

Que coisa piegas, Karol. Quando você se tornou esse tipo de mulher?

─ E eu que tinha certeza de que enterraria nas profundezas do meu ser aquela Karol tola que suspira por besteiras... ─ Murmuro encarando a última mensagem que ele me mandou na qual dizia que estava com saudades.

Eu não respondi. Acabei adormecendo pouco antes da mensagem chegar, mas também pudera, eu estava exausta. Tínhamos conversado por horas seguidas e eu ainda tinha que trabalhar...

Mas eu também estou com saudades.

Não que eu fosse admitir assim. De modo algum. Foram só dois dias. Eu não vou deixá-lo com o ego todo assanhado.

Contudo, adoro saber que ele também pensa em mim.

Suspiro pesadamente, cruzando as pernas em cima do colchão da minha cama, com meio mundo de papéis importantes espalhados a minha volta e que eu preciso analisar para entregar ao meu pai.

Já passa do meio-dia, mas nem consegui me concentrar nisso tudo.

E ainda preciso ir até a firma...

─ Tudo bem, Karol. Foco. Foco! É a sua carreira e você lutou muito para passar em tudo e chegar até aqui. Foco!

Mas daí meu celular apita por causa de uma mensagem...

Largo a caneta e pego o aparelho, desbloqueando a tela muito rápido. Vergonhosamente rápido.

Porém é só um áudio da Daiane. Um áudio que eu posso muito bem imaginar o conteúdo, afinal ela me fez resumir tudo o que havia acontecido e apesar de não querer explanar as coisas para não deixá-la alvoroçada, eu acabei contando e agora ela não para de falar sobre.

Com um suspiro de resignação resolvo ouvir, senão ela não vai me deixar em paz.

"Sabe, eu ainda acho uma puta imprudência sua ter transado com o cara sem camisinha. E, ok, você toma remédio, mas não é só gravidez que a camisinha impede, né? Porém, quem sou para julgar? Você sabe que já fiz muito isso... Ah, voltando, quando vão se ver de novo? Quer sair para comprar algo? Talvez... Um vestidinho novo? Eu só tenho cliente depois das três. Que tal?"

El Amor Cambia de Piel - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora