● Dezoito

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Eu que nunca fui de rezar, vejo-me fazer isso antes de abrir os olhos. Tento pensar que tudo o que aconteceu ontem foi só um grande pesadelo, mas que já acabou, porém, assim que abro os olhos, constato que estou sozinha em um quarto que não reconheço como o meu e que não há nenhum vestígio do meu marido.

Viro para o outro lado e não sinto o cheiro dele e nem a sua presença; viro novamente e dou de cara com o meu celular apitando, avisando que alguma mensagem chegou.

Ou melhor, algumas.

Pego aparelho e desbloqueio a tela, percebendo que a Daiane encheu o meu aplicativo de conversas com zilhões de áudios.

Respiro fundo, esfrego os olhos e me sento.

Coloco o último áudio para reproduzir e aproximo o celular do ouvido.

"Você sabe que eu odeio ser inconveniente. E quem sou eu para ficar entre um casal bem na lua de mel deles, mas qual é, Karol, manda pelo menos um emoji para eu saber que vocês chegaram bem à Itália. Por favor! Seus pais também estão preocupados.
E, tudo bem, eu sei que você deve estar dando muuuuuuuuito, mas arruma um tempo para a família também, caramba! Beijos. Te amo. Toma o anticoncepcional direitinho."

Quando a voz dela para, afasto o aparelho do rosto e começo a rir.

Só a Daiane mesmo para arrancar risos de mim!

Que saudades dela!

─ Maluca. ─ Sibilo, descendo da cama.

Não vou responder. Quero conversar com ela pessoalmente.

Por nada no mundo eu vou ficar trancafiada hoje. Preciso falar com o amigo do papai que iria me dar trabalho em sua empresa na Itália, preciso voltar à firma, recuperar os meus clientes.

Vida que segue.

A minha carreira é tudo de mais seguro que eu tenho agora.

Porém...

Tem alguém que ainda me deve explicações. E dessa vez ele não vai fugir.

Entro no closet que a Sarita arrumou perfeitamente e pego um vestido soltinho com alcinhas finas, porque diferente de ontem, hoje está um calor tremendo e pelas janelas posso ver que o sol voltou com tudo.

Quando estou indo para o banheiro tomar banho, dou-me conta de um negócio que eu ainda não tinha reparado.

Na parede oposta à cama há um painel de madeira com uma televisão enorme acoplada a ele.
Televisão não. Isso é tela de cinema!

Caralho!

Penso em ir até ela e ligá-la, só para me sentir no cinema um pouquinho, mas prefiro não dar o braço a torcer.
Certamente isso foi só para amaciar o meu gênio ruim. O Ruggero só está tentando me comprar com algo que eu gosto e que ele não gosta, mas que resolveu trazer até mim para provar que sente algum tipo de afeto pela minha pessoa.

Mas o meu coração covarde não vai se render a esse gesto!

Até eu poderia ter comprado uma televisão.

Empino o queixo e marcho para o banheiro. Tomo um banho deliciosamente frio e busco não pensar no ocorrido da noite passada, porque senão terei que cometer um crime passional contra o meu marido.

Resolvo ser um pouco racional e deixá-lo se explicar.

Tem que haver uma boa explicação para ele estar agindo assim.

Nada é por acaso.

Arrumo-me até que rápido e deixo meus cabelos úmidos caírem por cima dos ombros, depois passo só um pouco de maquiagem para disfarçar os meus olhos ligeiramente inchados de chorar, por fim borrifo o perfume que eu menos uso, mas que é o favorito do Ruggero.

El Amor Cambia de Piel - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora