Movo as pálpebras lentamente, abrindo os olhos.
Por um momento aquiesço, virando o rosto de lado por causa da luz estourada que recai sobre a minha face, porém, aos poucos, algumas imagens me bombardeiam sem dó, trazendo até mim fragmentos de chamas e fumaças que trepidam pelo ar, pincelando o céu.
Solto o ar pela boca e esfrego a testa dolorida.
Que dor de cabeça infernal!
Tento esticar o braço para me apoiar melhor no colchão e levantar, contudo, surpreendo-me ao notar a mangueira transparente do soro que delimita os meus movimentos e me deixa ainda mais desconcertada.
Arfando, embolo na cama, virando para o lado de antes, observando que à minha volta há outras camas, assim como também há outras pessoas debruçadas sobre elas, doentes.
Bato os cílios, atordoada.
O acidente.
As chamas... MEU PAI!
─ Karol, calma! ─ Ruggero surge de repente no meu campo de visão e põe as mãos sobre os meus ombros, mantendo-me deitada. ─ Está tudo bem. Você desmaiou, mas está tudo bem. O médico quer que você fique de repouso um pouco.
Antes que eu possa conter mais imagens do acidente rodopiam pela minha cabeça. Consigo até ouvir o som do pneu do meu carro derrapando na pista e, em seguida, despencando barranco a baixo.
─ Cadê o meu pai?! CADÊ O MEU PAI?!
─ Por favor, calma...
─ Como eu posso ficar calma?! Ruggero... Ruggero, por favor, eu quero que me leve para vê-lo. Por favor!
Ele segura a minha mão que está agarrando sua camisa e então a leva até os lábios, beijando cada nó dos meus dedos, mas sem tirar os olhos dos meus.
No entanto, nada em seu olhar me diz o que aconteceu nesse meio tempo em que perdi a consciência e isso me deixa ainda mais apavorada.
─ O seu pai está vivo. ─ Diz, debruçando-se sobre mim, pairando com seu rosto bem em cima do meu. ─ Ele resistiu até chegar aqui. Os médicos o levaram e ainda não disseram nada. Mas se não disseram é porque ele deve estar lutando pela vida.
Lutando pela vida.
O bombeiro havia dito que ele estava muito queimado, que gritava de dor e por isso foi encontrado.
Quanto tempo mais irá suportar?!
─ Você não o viu?
Ruggero maneia a cabeça e funga, desviando o olhar.
─ Não me deixaram vê-lo. Além do mais, eu tinha que ficar com você.
─ Não. Você não tinha. Você...você tinha que ter ido saber de notícias, Ruggero! Vai. Vai lá perguntar, por favor!
─ Karol, nós não estamos em um hospital particular. Vocês foram trazidos ao hospital geral do estado. Há muitas pessoas e poucos médicos. Acalme-se. Independente de qualquer coisa, o seu pai está sendo atendido.
─ Eu não quero saber! Não quero saber onde estamos ou quantas pessoas estejam aqui. EU QUERO SABER DO MEU PAI! Do meu pai!
Com cuidado, ele segura os meus pulsos quando tento empurrá-lo, e com mais cuidado ainda, Ruggero encosta sua testa a minha, e aos poucos vai largando meu braço e segurando o meu rosto, prendendo-me no calor de suas palmas que me colocam em um mundo onde só há seu cheiro e o som de sua respiração.
E por mais que eu queira continuar gritando, não consigo.
Desmorono diante de sua presença e me agarro a sua camisa, permitindo-me chorar tudo o que está entalado na minha garganta e que causa uma dor infinita no meu coração.
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El Amor Cambia de Piel - Livro 1
Romance" Na bíblia diz que uma serpente ludibriou Eva ao ponto de deixá-la à mercê de seus encantos e, por fim, a fez sucumbir à vontade de comer o fruto proibido. A serpente seria Satanás, o anjo mais belo já criado por Deus. Um ser de mui...