● Um

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Sou tragada brutalmente do meu sono profundo por um barulho infernal que fica ecoando dentro da minha cabeça, insistindo tanto que até me irrito, abrindo os olhos e procurando o maldito despertador.

Porém, não é o teto da minha casa que vejo.

─ Epa, apressadinha, calma aí!

Meu corpo é empurrado de volta contra o colchão – que nem de longe é tão confortável quanto o meu –, e sou confrontada com um aperto no peito, uma dor que vai se alastrando por todo o lado, além de uma sensação pavorosa de que vou vomitar.

Engulo em seco e tento tocar a minha testa, mas um fio está enrolado no meu braço; só então percebo que é a mangueira do soro.

Soro!

─ O que está acontecendo?! O que é isso?!

Mio Dio! Você não para quieta parece até uma criança. Será que pode ficar parada um pouco? A enfermeira já vai voltar. Juro.

Abano a cabeça que dói. Dói muito.

─ Onde eu estou? Que lugar é esse?

─ Calma... Respira...

Franzo o cenho dolorido e levo meu olhar semicerrado para o dono da voz que está sentado na beirada da cama, empurrando-me com cuidado enquanto tenta endireitar o travesseiro.

Por um momento penso em afastá-lo, mas não tenho muita força.

A dor me enfraquece. E eu odeio isso.

─ Quem é você? ─ Balbucio.

Um sorriso se alastra pelo rosto dele e isso me faz abrir os olhos mais um pouquinho – bem pouquinho mesmo.

─ Já se esqueceu de mim? Caramba! Vivem dizendo por aí que o meu sotaque é inesquecível.

Sotaque... Sotaque... Sotaque...

Ah não!

Não!

Não foi um sonho... O acidente não foi só um sonho ruim.

─ E-eu... Eu... Morri? É isso? Eu... Eu estou morta?! ─ Agito os braços para apalpar o meu corpo e ver se sinto algo além de dor, mas o estranho segura as minhas mãos nas suas e a quentura de sua pele diminui um pouco a minha agonia, roubando a minha atenção.

Seu par de olhos castanhos me fita como se reivindicassem severamente a minha concentração, mas não posso. Não consigo.

Devo estar enfartando... Se não morri antes, morro agora.

─ Tudo bem... Tudo bem... Esses bips vão me deixar surdo e vão te fazer entrar em algum tipo de colapso, portanto... Calma... Calma... Respira, por favor, respira e presta atenção na minha voz...

Abano a cabeça.

O rosto dele está bem na frente do meu, mas não consigo focar. Não consigo fazer nada além de hiperventilar e desejar gritar, espernear, implorar que façam algo.

Vou morrer. Vou morrer.

Fui traída e vou morrer.

Vou morrer com uns chifres enormes. Vou morrer antes de matar o Felipe com as minhas mãos!

─ Chama o médico... Não consigo... Res... pirar...

─ É o quê?

─ Faz alguma coisa! O ar... O ar não... O ar... Eu vou... Eu...

A minha cabeça colapsa como um planeta colidindo contra o outro, lançando pedaços de detritos por todos os lados do universo, fazendo com que as pobres estrelas corram para longe procurando um abrigo.

El Amor Cambia de Piel - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora