● Dois

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Dois dias se passaram desde o meu... Acidente.

Ou melhor, desde a minha atitude insana de dirigir como uma maluca sem freio.

Dois dias.

─ É o Felipe de novo. ─ Ouço a Dai, minha amiga, dizer assim que saio do banheiro onde pude, finalmente, tirar a bata ridícula da clínica e vestir as minhas roupas de sempre.

Enfim, de alta!

─ Desliga. Bloqueia. Apaga. Não. Quer saber? Me dá aqui esse celular.

─ Espera, Karol, o que você vai fazer?

Puxo o aparelho da mão dela e dou a meia volta, entrando no banheiro de novo.

─ Eu vou fazer o que já deveria ter feito. Vou dar descarga nesse amor maldito e fingir que ele nunca existiu.

─ Ah mas não vai mesmo! ─ Como um animal rápido no bote, Dai arranca o celular de mim e volta correndo para o quarto. ─ Sabe quanto custou isso daqui, minha filha? Isso mesmo, muito dinheiro! Não vou deixar que quebre o celular por causa de um estúpido como o Felipe. Aliás, eu bem que avisei que não gostava dele.

─ Você disse que a sua "energia" não bateu com a dele. Mas você sabe muito bem que não acredito nessas crendices tolas.

─ Deixa de mentira! Você nunca foi cética. Na verdade, você só está criando um escudo, mas não adianta, Karol. Não precisa se fazer de forte. Você precisa colocar a dor pra fora, senão ela vai te sufocar!

Bato com força no batente da porta do banheiro e depois cruzo os braços; irritada.

─ E você tirou essa conclusão de onde? Do seu tarô barato? Ah, pelo amor de Deus!

─ Karol!

─ Daiane, devolve o meu celular e me deixa encerrar a porcaria desse ciclo de uma vez!

Ela empina o queixo pra mim e cruza os braços também, mantendo o aparelho bem longe.

Bufo, contrariada.

Nós nunca fomos de brigar. Nos conhecemos desde crianças. Desde que eu me lembro a Dai está lá, assim como a família dela.
A garota é herdeira de meio mundo de empresas voltadas para o ramo da tecnologia, mas se refugia numa clinica no centro da cidade onde faz atendimento "terapêutico".

E uso aspas porque ela sequer é formada em qualquer coisa relacionada à psicologia.

Na verdade, ela fica lá lendo a sorte das pessoas e dando conselhos baseados em sua mente fértil.

Até admito que usei disso algumas vezes, mas nunca acreditei de verdade.

─ Você não vai encerrar o ciclo bloqueando o Felipe. Sabia que ele foi à sua casa? A sorte foi que eu estava lá e não deixei o tio Javier e a tia Carolina vê-lo. Eu o mandei pro inferno, mas logo começarão a perguntar porque ele não veio te visitar e nem te buscar. ─ Diz. ─ Está na hora de contar tudo e deixar o tempo curar essa ferida. Por favor!

Coço a cabeça e sinto as dores despontarem.

O médico só falou em repouso e explicou que nada sério havia acontecido. Fiquei em observação por causa da pancada na cabeça, mas estou bem. Ótima, na verdade.

Sou saudável, jovem. Sequer precisei de recomendações mais severas.

A única coisa que me pediram foi para relaxar.

Mas... Está fora de cogitação.

─ Não quero nunca mais esbarrar com aquele mentiroso ridículo! E nem quero falar sobre ele. Você entendeu? Depois eu me resolvo com os meus pais, mas seja como for, eles terão que entender que acabou e que eu não vou voltar com o Felipe. Nunca. Jamais!

El Amor Cambia de Piel - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora