● Vinte e Quatro

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Meu táxi parou em frente ao condomínio de Ruggero, e eu desci.

Eu não quis que o carro entrasse e me deixasse na mansão. Eu não estava pronta para passar por esses portões e entrar nesse maldito condomínio de luxo que agora se tornou a minha cela para o resto dos meus dias; a menos que eu consiga reunir esse montante absurdo de dinheiro.

Como ele pôde?! Ele era tudo o que eu mais amava!

Sem forças para prosseguir, ando tropegamente até a calçada que ladeia a construção e me sento, puxando as pernas para junto do peito, abraçando os meus joelhos enquanto enterro o meu rosto neles, rezando ardentemente para que um meteoro caia do céu e me atinja, só para que essa maldita dor passe.

Sinto-me estilhaçada, exposta. É como se alguém tivesse aberto o meu peito e arrancado o meu coração, deixando-me sangrar debilmente nesse maldito chão frio até morrer.

Dói mais a cada minuto.

O homem pelo qual eu me apaixonei não só não me ama como também forjou seus sentimentos num caminho torto de enganações. Ele mentiu. Ele mentiu desde sempre, tenho certeza. Ele tramou. Arquitetou. Manipulou. E com a mesma boca que usou para fazer a proposta ao meu pai, ele disse que me amava.

E disse sem remorso, sem culpa.

No mundo dos negócios não há espaço para os sentimentos. Ruggero havia me dito certa vez. Não podemos nos deixar levar pelo coração, doutora. O dinheiro passa longe do sentimentalismo.

Agora eu entendo bem. Entendo perfeitamente.

Ruggero não levou em frente a fortuna dos pais sendo um bom samaritano despreocupado. Certamente tinha muitos negócios paralelos e, sem dúvida, abusou da confiança de muitas outras pessoas, levando várias famílias a bancarrota só para aumentar sua herança; como se já tivesse pouco.

Ele é vil. Um homem cruel.

─ Karol?! ─ Meu nome é pronunciado bem na hora em que um táxi vai adentrando o condomínio, mas logo o motorista freia. ─ Pode me deixar aqui. Isso. Aqui mesmo. Fique com o troco. Obrigado. ─ Santiago balbucia apressadamente, descendo e correndo na minha direção.

Eu fico de pé de um jeito atabalhoado e cambaleio, sendo abraçada por ele que não pergunta nada num primeiro momento, apenas me puxa para junto de seu peito e afaga os meus cabelos, deixando-me chorar igual uma desesperada.

A última coisa que eu deveria estar fazendo era isso. Eu tinha que manter o personagem forte que saiu da construtora, mas eu não tenho a menor condição de me segurar, mal consigo andar com essa dor tão grande que vai abrindo um vazio dentro de mim.

Ninguém nunca fez esse tipo de coisa comigo. Jamais me senti tão perdida.

─ Karol, o que aconteceu? Você está tremendo tanto...

Fungo, enterrando o rosto ainda mais no peito dele, fechando meus braços com mais força em volta de seu tronco.

─ Está doendo tanto! Tanto!

─ Ei, calma. Espera, espera. Olha pra mim...

Abano a cabeça, desvencilhando-me um pouquinho.

─ Ele não tinha esse direito. Ele não tinha! Como ele pôde? Como, Santiago? Que tipo... que tipo de homem... é ele? Um monstro!

Santiago segura o meu rosto com as duas mãos e me faz olhá-lo nos olhos, mas eu mal consigo enxergá-lo direito por causa das lágrimas. Só consigo soluçar e estremecer, engasgando como uma criança que não aprendeu a se controlar.

El Amor Cambia de Piel - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora