Final - Segunda Parte

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O refeitório que começa a se encher de soldados à medida que a tarde cai é agora preenchido pelas risadas vindas direto da mesa onde nosso esquadrão costuma se sentar, atentos à competição interminável de queda de braço entre Connie e Sasha, que acabou quando a garota venceu talvez pela quinta vez consecutiva. Balanço a cabeça com uma risada fraca diante do suspiro derrotado de Connie.

– Não sei como você conseguiu perder. – Jean balança a cabeça, tendo perdido para mim a aposta que fizemos acerca de quem seria o vencedor.

Me inclino em sua direção e sussurro para ele:

– Connie apostou a sobremesa dele.

– Está explicado. – Jean revira os olhos, tomando um gole generoso de vinho, assim como eu.

Minhas bochechas estão quentes e as risadas saem com facilidade da minha boca assim como sinto meu filtro com as palavras se esvair aos poucos. Em minha mente, é como se houvesse uma luz vermelha gigantesca que me ordenasse para que não bebesse mais nem uma única gota de vinho. E como um sinal dos céus, a luz de alerta se materializou em forma de homem, e engasgo com o vinho que desce graciosamente pela minha garganta quando um tapa acerta em cheio a parte de trás da minha cabeça, me fazendo resmungar e virar para trás com a mão sobre o lugar dolorido.

– Eu achei que tivesse sido claro. – Um Levi nem um pouco satisfeito me encara com os braços cruzados. – Levante.

Um grunhido de dor deixa os lábios de Jean assim que chuto uma de suas pernas por debaixo da mesa antes de me levantar, seguindo o Capitão para fora do refeitório, lamentando comigo mesma qualquer que seja a tarefa horrível de limpeza que ele está prestes a me obrigar a fazer. Entretanto, Levi para de caminhar quando alcançamos o saguão e se vira para mim; não deixo de reparar que há uma expressão engraçada em seu rosto.

O sol do fim da tarde derrama seu brilho alaranjado sobre nós e o menor respira fundo, desviando o olhar para algum lugar atrás de mim antes de fixar os olhos acinzentados aos meus. Meu corpo inteiro gela e me pergunto se ele está realmente tão irritado assim comigo para me encarar dessa forma.

– Escute, Capitão, eu não fiz de propósito, eu... – Começo a me desculpar, brandindo as mãos na frente do corpo atropelando as palavras, mas Levi me interrompe com um gesto.

– Eu não a chamei aqui para lhe dar punições. – Ele faz uma pausa e relaxo os ombros, aliviada. – Mas você vai limpar os banheiros amanhã.

Reviro os olhos, sentindo uma onda de desânimo invadir o meu corpo apenas ao me lembrar do cheiro que os banheiros do quartel de Trost exalavam. Soldados são nojentos.

– Então por que me chamou aqui? – Inclino a cabeça ligeiramente ao encará-lo.

– Reiner tem algo a dizer para você. Ele está lá em cima, no telhado. – Levi respira fundo, dando um passo para a frente. Por um momento, posso jurar que o Capitão parece incomodado com algo. – Você deveria ir logo.

Dito aquilo, Levi se afasta me deixando confusa e preocupada para trás. Meu estômago gela e caminho a passos largos na direção das escadas, minha mente pensando em qualquer má notícia que Reiner pode ter para me dar depois de sua conversa com o Capitão e seu sumiço misterioso durante toda a tarde; ninguém sequer o viu no quartel durante o dia. Alcanço o último andar e atravesso o corredor vazio, puxando a corda que fez o alçapão de madeira se abrir, puxando um dos bancos de madeira postos ali para alcançar o teto, subindo sem muita dificuldade.

Sou abraçada pelo calor agradável do sol em seus últimos momentos antes de se deitar no horizonte assim como pela brisa morna do fim do dia, que atira meu cabelo para longe enquanto me coloco de pé sobre as telhas escuras, encontrando Reiner sentado de costas ao lado de uma das chaminés, me juntando a ele em silêncio.

Surrender I Reiner BraunOnde histórias criam vida. Descubra agora