MAHIRA RECEBEU A TODOS OS MENSAGEIROS dos Deuses no dia seguinte, na sala do trono. Foi um grande acontecimento, e toda a corte foi intimidada a comparecer para testemunhar a entrada triunfal dos servos das deusas.
Devidamente vestidos em vestes alvas e usando adereços pesados de ouro nos pulsos, pescoços e dedos, homens e mulheres passaram pelas portas duplas pesadas e pisaram no piso de mármore impecável, num desfile de opulência e soberba.
Judar os liderava, seguido por Otiah, Sorva e pelos outros mensageiros mais experientes. Eu vinha com Ethien na retaguarda. Além de sermos as mais jovens, éramos as únicas — além de Otiah, é claro — quem conheciam as verdadeiras intenções de Mahira com aquele evento pomposo.
A chegada dos Etéreos à Astradh não poderia ter sido mais oportuna. O regresso dos servos das deusas à cidade a qual pertenciam, depois de terem sido submetidos a anos de escravidão, servia ao propósito de fomentar a ideia de que ascensão de Mahira ao trono era obra das nossas deusas, tornando-a ainda mais poderosa e bem-vista aos olhos do povo.
Àquela altura, poucos seriam corajosos o bastante de peitá-la. E uma parcela ainda mais insignificante seria tola ao ponto de tramar contra ela, não quando a viam como uma espécie de milagre das deusas. Mahira tornou-se intocável. E pouco importava que o responsável pelo retorno dos Mensageiros fosse Sarghan. Tudo era creditado à Mahira e à suposta divindade inquestionável do seu reinado.
Quando entramos na sala do trono, Mahira ocupava o trono sempre com Byriel, seu cão de guarda, a postos para protegê-la. Usava um vestido branco luxuoso de musselina com adornos pesados de ouro. A coroa reluzia na massa prateada que era o seu cabelo, trançado ao redor da sua cabeça. Mas o seu sorriso de deleite era o adereço mais chamativo que usava, sem dúvida.
— Sejam bem-vindos, meus semelhantes! — ela estendeu uma mão para todos nós, ampliando o sorriso ainda mais. Quando seus olhos me encontraram, atrás de todos aqueles rostos, sua mão recuou num convite gentil. — Nysa, minha filha amada, junte-se a mim no tablado.
Como não podia recusá-la publicamente — não sem sofrer críticas severas da corte mais tarde —, passei pelos Mensageiros que me separavam de Mahira, e quando me aproximei de Otiah ouvia-a sussurrar uma advertência para mim:
— Tenha cuidado, Nysa.
Eu sabia. Sabia como deveria me comportar e que papel deveria desempenhar com tantos olhos me assistindo. Subi os degraus que elevavam o tablado e me aproximei do trono e, consequentemente, de Mahira. Coloquei-me à sua direita, já que Byriel estava à esquerda dela.
Mahira voltou-se para os Mensageiros e, apoiando as mãos nos braços do trono, colocou-se de pé.
— Hoje é um dia para celebrarmos a benevolência das deusas! — declarou com a voz límpida para que todos a ouvissem. — Um dia para ser relembrado e que sem dúvida ficará marcado na história de Torandhur. Nossas deusas permitiram o regresso dos seus servos mais amados para casa! Não seria este o sinal pelo qual esperamos durante tanto tempo? — ela perguntou, correndo os olhos pelos rostos presentes dos nobres e integrantes da corte. — Não seria este o milagre pelo qual rezamos durante todos esses anos?
"Temos a resposta bem diante dos nossos olhos agora! É tempo de nos levantarmos, de retribuirmos todas as ofensas que sofremos no passado! E eu digo que devemos retribui-las com aço e fogo! Qual monarca se atreverá a fazer a nossa terra sangrar agora que a reivindicamos e tomamos o controle dela de volta?! Éberus está ao nosso lado!
Cruzei as mãos para que ninguém notasse que elas tremiam. E escondi todas as minhas emoções, sufocando-as dentro de mim para que não transparecessem no meu rosto frio. Mas por dentro eu queimava. E ardia em fúria. Embora àquela altura já houvesse adivinhado parte do plano verdadeiro de Mahira.
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Nysa - A Mensageira de Torandhur
FantasySequência de Nysa - A Campeã de Asther SPOILERS DO PRIMEIRO LIVRO Nysa sobreviveu às sangrentas arenas da cidade de Théocras e triunfou como a sua campeã. Graças a isso, atingiu o objetivo pelo qual lutou durante anos e conseguiu libertar a sua mãe...