Capítulo Vinte e Um: Confidências

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CAMINHAMOS EM DIREÇÃO a uma fonte de pedra que estava seca e nos sentamos à sua beira, lado a lado. As estrelas faiscavam no céu profundo, uma brisa fresca amainava a temperatura da noite, farfalhando nas flores e nas árvores de pequeno porte que ornamentavam aquela parte em especial do jardim da rainha.

A estátua silenciosa de uma mulher, talvez uma antiga regente, fora erigida no centro da fonte, ela tinha um semblante triste e seu rosto estava voltado para baixo. A umidade da pedra deu-me a impressão de que ela chorava, mas eu presumi que estivesse apenas imaginando coisas e me virei para Gheylla, acomodada na fonte ao meu lado.

— Me fale mais sobre você, sobre o seu reino, sobre o período em que viveu em Asther — ela me pediu, tão ávida por mais detalhes e por mais dos meus segredos que imaginei se eu era algum tipo de diversão para ela, uma forma de matar o tempo.

— Eu... não sei por onde começar, Majestade — admiti num murmúrio, pousando o cálice de vinho na pedra ao meu lado, pois não queria correr o risco de entorpecer a razão, não naquela noite.

Gheylla sorriu para mim de um jeito sedutor para me persuadir a me abrir.

— Comece me dizendo o que você mais gosta. Eu quero te conhecer melhor, Nysa.

Sua proposta me pegou de surpresa. Precisei me recompor antes de respondê-la.

— O que eu gosto... — ponderei, pensando no que me fazia bem, no que fazia com que eu me sentisse livre; a resposta veio fácil depois disso: — Gosto de cavalgar, Majestade.

Gheylla franziu a testa e traçou a borda do seu cálice com um dedo.

— E o que mais?

Mordi meu lábio, hesitando em revelar a ela mais do que deveria, mas eu percebi de repente que queria isso. Eu queria que ela me conhecesse. Todas as minhas facetas.

— Gosto de lutar.

Ela anuiu consigo mesmo em aprovação.

— Isso torna as coisas mais interessantes. Sabe usar uma espada?

Reprimi o reflexo de contar a ela sobre a minha experiência com as Arenas de batalha da cidade de Théocras. Como enfrentei mercenários com o dobro do meu tamanho ou encantadores muito mais habilidosos. Um passado de glória e de vergonha.

— Quer descobrir, Majestade? — repliquei num tom provocador, mas ela negou.

— Em outra ocasião, talvez — decidiu e se virou completamente para mim, inclinando-se na minha direção de modo que senti o perfume sutil da sua pele e do seu cabelo. — Você é uma serva das deusas, correto? Como são chamados mesmo?

Isso era algo que eu poderia discursar sobre horas. Sorrindo, anuí.

— Etéreos, mas é como os Mensageiros dos deuses que nos conhecem em Nova Eghau e em todo o mundo — informei-a, meu coração se tornando mais leve enquanto falava sobre a minha fé, sobre o propósito nobre pelo qual existimos e sobre a nossa ligação com as deusas Bashir e Meriath. — Nossa ligação com os deuses é forte, de modo que as nossas orações são mais facilmente ouvidas e atendidas. Além disso, todo o nosso poder deriva do poder dos próprios deuses.

— Admito que conheço muito pouco sobre o seu povo, as informações sempre foram escassas e os registros, bastante vagos — explicou-se. — Mas o que eu ouvi era bastante lisonjeiro, fazia-me questionar se eram dignos de toda a fama que os envolvia. — A rainha inclinou o rosto alvo na minha direção. — Conhecendo você, pelo menos, eu posso dizer que estou a meio caminho de chegar a uma conclusão sobre isso.

Nysa - A Mensageira de TorandhurOnde histórias criam vida. Descubra agora