Capítulo Quarenta: Mensageira dos Deuses

72 10 8
                                    

MINHA AUDIÊNCIA COM O REI SARGHAN ficou marcada para dali a cinco dias.

Na mesma noite em que removi a tinta do meu cabelo entreguei uma nova carta a Gorah e disse a ele no nome de quem deveria solicitar uma audiência com o rei de Asther. Cumprindo a sua palavra — para o meu alívio —, Sarghan aceitou o meu pedido. Assim, ficou acordado para a próxima semana que nós nos reencontraríamos na sala do trono do palácio.

Usei aqueles dias restantes para me preparar para a reunião. Com a ajuda de Kara, contratamos algumas costureiras e elas vieram tirar as minhas medidas na manhã seguinte, bem cedo. Kara enfatizou que precisaríamos dos vestidos para a próxima semana e as costureiras, eficientes, cumpriram a exigência.

— Não entendo por que você não pode usar um dos vestidos que ganhou de Gorah — ela comentou enquanto me ajudava a esvaziar o meu baú, dobrando os vestidos coloridos e colocando-os sobre a cama um por um.

— Eles não vão servir para o que tenho em mente — aleguei enquanto a ajudava.

— Quando você fala dessa forma tão enigmática me deixa nervosa, sabia? — Kara suspirou, frustrada.

Deixei o vestido lilás de musselina de lado e fui até ela, abraçando-a a fim de acalmá-la.

— Não se preocupe comigo. Eu sei o que estou fazendo dessa vez. Encontrei a minha resposta, Kara — afirmei. — Encontrei o meu eu verdadeiro graças a todos vocês.

Dessah bateu à porta e abriu-a para informar que as costureiras tinham chegado com todos os meus vestidos novos. Kara pediu a ela para que as deixasse entrar. As mulheres vieram uma após a outra, trazendo embrulho após embrulho consigo. Kara trancou a porta e eu me despi para fazer a última prova de todos os vestidos.

Os últimos ajustes foram feitos e as costureiras se retiraram um tempo depois, satisfeitas com o pagamento. Olhei para os novos vestidos estendidos sobre a minha cama, ao lado dos antigos, e foi impossível não compará-los. Kara aproximou-se de mim com as mãos na cintura e também os olhou.

— Acho que estou começando a entender o seu plano — ela me disse.

Assenti para ela e então continuei a arrumar minhas roupas. Na véspera da audiência, pedi à Dessah que preparasse um banho frio para mim. Ela estranhou o pedido, mas seguiu as minhas instruções. E, assim que a lua surgiu no céu, tranquei a porta do meu quarto, despi-me e entrei na banheira com água fria. Ignorei os arrepios na minha pele e os tremores nos meus ossos e afundei sob a água, prendendo a respiração.

Desde que cheguei à Théocras os pesadelos haviam cessado. Aquilo não queria dizer que o futuro nefasto planejado por Mahira não aconteceria. Só que eu estava onde deveria estar em primeiro lugar para ajudar a evitá-lo. A ausência de Zephir ainda me incomodava, contudo. E somada à perda de Cadius tornara-se um verdadeiro teste para a minha fé. Mas eu sabia que as deusas estavam comigo, caso contrário não teriam permitido que eu chegasse tão longe.

Emergi quando o ar me faltou, terminando de me lavar com a barra de sabão perfumada. Saí da banheira, sequei-me e vesti um vestido simples de linho branco. Então, com os pés descalços e os cabelos ainda molhados, coloquei-me de bruços no chão com os braços estendidos e a testa encostada ao tapete do quarto, de olhos fechados. Limpei a minha mente de todos os pensamentos e preocupações. Busquei pelas deusas e as encontrei. Pedi por proteção e por sabedoria. Os céus eram testemunhas de como precisaria de ajuda para a audiência com Sarghan na manhã seguinte. E apenas uma intervenção divina poderia salvar o meu pescoço se eu dissesse ou agisse precipitadamente.

Dormi tarde naquela noite, depois de ter rezado e conversado com as deusas por horas a fio. Mas saber que elas continuavam a me acompanhar deu-me mais segurança e confiança. Amanhã, eu encontraria Sarghan pela segunda vez, na corte dele. E eu precisaria de toda a minha coragem e determinação para enfrentá-los.

Nysa - A Mensageira de TorandhurOnde histórias criam vida. Descubra agora